No fim de março, as notícias das revoltas dos peões de obra de grandes construtoras, no Norte e Nordeste do país, repercutiram até na mídia empresarial. Dia 23 de março, lemos em vários jornais notícias da greve de mais de 25 mil trabalhadores, na construtora da refinaria Abreu e Lima, em Suape (PE). A reivindicação chocou por sua crueza: pagamento de 100% das horas extras, aos sábados, aumento do vale- alimentação de R$ 80 mensais para a soma astronômica de R$ 160! Imaginem só. E o consórcio formado pela Camargo Correa e pela OAS, aceitando só R$ 130. Enquanto isso, a refinaria Abreu e Lima recebeu R$ 13, 3 bilhões de investimentos da Petrobras.
No dia 24, os jornais noticiaram que havia uma greve nas usinas de Jirau e Santo Antônio (RO), obras de grandes empresas como a Camargo Correa e Odebrecht, que trabalham com recursos do PAC. Neste dia, calculava-se que houvesse quase cem mil trabalhadores da grande construção civil parados, entre Suape (PE), Porto de Pecém (CE) e nas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio.
Em todos os casos, reivindicações básicas: respeito aos direitos mínimos como aumento do adicional das horas extras, melhor atendimento de saúde, melhoria da alimentação e do valor do vale refeição. A revolta dos trabalhadores ao total desrespeito das empresas às suas reivindicações explodiu, sobretudo, na usina de Jirau. Mais de 45 ônibus e várias instalações da usina foram incendiados. Logo, a lorota da mídia, das empreiteiras e dos seus lambe-botas foi que tudo começou por causa de uma briga pessoal entre peões.
A realidade é bem outra. A classe operária ainda existe. Ainda se revolta. Ainda sabe incendiar ônibus, enquanto as empresas se protegem com a Guarda Nacional e recebem gordos financiamentos públicos. Mas a mídia empresarial e ex-militantes de esquerda e intelectuais arrependidos repetem que a classe operária acabou e que a luta de classes é coisa do passado.
* Publicada originalmente na edição impressa 422 do Brasil de Fato.