Engenheiro formado pela Poli (USP) e especializado em transportes, Marcio Nigro anuncia nesta semana uma experiência para gerar dinheiro e, ao mesmo tempo, deixar as cidades menos congestionadas e poluídas.
Objetivo: transformar cada dono de automóvel num pequeno empresário, capaz de assegurar uma renda extra mensalmente. “Estou experimentando um jeito de estimular as pessoas a colaborar em questões ambientais e ainda colocar dinheiro no bolso”, afirma.
Há algum tempo, ele montou um projeto, chamado Caronetas, de estímulo ao compartilhamento de automóveis entre funcionários das empresas; na cidade de São Paulo, já há 700 empresas cadastradas.
Desenvolveu, então, um sistema, patenteado na Suíça, de milhagens para quem compartilha seu veículo, oferecendo pontos para a aquisição de produtos (de passagem de avião a gasolina, passando por comida).
Quem vai de carona deposita um valor no sistema de milhagens. Pela tela do computador, são conhecidos os trajetos dos motoristas. É possível ver a lista, por exemplo, das pessoas que vão ao aeroporto em determinado horário.
Pega? Na resposta a essa pergunta, está o futuro das cidades e do nosso modo de viver nelas, pondo em discussão decisões, como a realizada na semana passada pelo governo brasileiro, de estimular a produção de automóveis.
O engenheiro espera anunciar sua experiência no dia 22, durante um seminário sobre mobilidade urbana, quando se comemora o Dia Mundial sem Carro, um dia que, em São Paulo, é comemorado de muitos modos, menos com a diminuição do número de carros nas ruas. Há, porém, um sério risco de o projeto derrapar na primeira esquina, em colisão com a cultura individualista ou com a insegurança dos motoristas, que temem dar carona a desconhecidos, mesmo com o incômodo da superlotação do metrô. A tendência mundial, sem dúvida, é a limitação cada vez maior do espaço do automóvel. Indivíduos como Márcio estão aprendendo a ganhar dinheiro com isso. Em alguns casos, muito dinheiro.
Na semana passada, uma empresa ganhou o direito de implantar 600 estações de compartilhamento de bicicletas. É uma tendência que já se espalhou por 300 cidades do mundo, inclusive em países como a China, a Índia ou o México. O apelo da ideia é, em poucas palavras, combinar a consciência ambiental –um problema coletivo– com o interesse individual, ou seja, ganhar dinheiro.
Diversas prefeituras norte-americanas perceberam que economizariam dinheiro –além de combater o congestionamento– reduzindo sua frota. Preferem entrar no sistema de compartilhamento de carros, alugando-os por hora. Foi o que fizeram, por exemplo, prefeituras grandes como a de Nova York, a de Chicago e a de Washington. Empresas que alugam carros por hora, espalhando-os por vários pontos, estão enriquecendo porque perceberam que uma parcela razoável dos consumidores prefere não ter automóvel, pois só precisa dele algumas horas por semana. A tendência está prosperando tanto que fabricantes de automóveis como a BMW estão experimentando não vender, mas apenas alugar seus modelos. Um laboratório do MIT produz um modelo de carro público ideal para pequenas distâncias, que ocupa o mínimo espaço possível (o carro encolhe quando estacionado) e que será usado no mesmo sistema do compartilhamento de bicicletas.
Justamente aí progrediu também o compartilhamento de automóveis entre vizinhos, com sites promovendo a intermediação e, para diminuir a insegurança, oferecendo seguro. Novas tecnologias de informação facilitaram o sistema de localização e pagamento. Estão pipocando depoimentos de pessoas felizes com a descoberta de que podem ganhar uma renda extra ao se transformarem em locadores. Até garagens privadas estão sendo compartilhadas.
Estão em discussão não apenas o carro e as cidades mas como será o consumo no futuro. Compartilhar será tão importante como ter.
PS- Na lógica do consumo colaborativo, a Amazon quer montar um sistema de aluguel como o que o Netflix desenvolveu para filmes. Coloquei uma lista de experiências sobre compartilhamento dos mais variados tipos de produto no www.catracalivre.com.br. Coloquei também detalhes do carro público desenvolvido no laboratório do MIT.
* Gilberto Dimenstein é colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo, comentarista da rádio CBN, e fundador da Associação Cidade Escola Aprendiz.
** Publicado originalmente no Portal Aprendiz.