Tóquio, Japão, 2/8/2013 – As vidas de Yoshihiro Watanabe e sua mulher Mutsuko, produtores de fungos e arroz na localidade de Fukushima, mudaram drasticamente desde o colapso da central nuclear de Dai Ichi, após o terremoto e tsunami de 11 de março de 2011. “Perigosos níveis de radiação dos deteriorados reatores nucleares nos obrigaram a deixar de cultivar fungos e reduziram em quase 80% nossa renda”, contou Watanabe à IPS.
Sua família também tem extremo cuidado em proteger sua saúde, escolhendo apenas alimentos “seguros”, o que implica “um estilo de vida que dá nos nervos”, acrescentou o produtor. Os alimentos expostos à radiação aumentam os riscos de se contrair câncer. Pelos limites impostos pelo governo japonês, os produtos alimentares que registrarem contaminação superior a cem becquereles por quilo não podem ser vendidos.
O estabelecimento de Watabane, criado há 200 anos, está em Dateshi Ryozenmachi, pequeno povoado agrícola a 55 quilômetros de onde funcionava a central nuclear de Fukushima. Este ano, a oficial Área de Evacuação Deliberada diminuiu para um raio de 40 quilômetros ao redor dos reatores danificados, embora tenham sido constatados riscos radioativos em áreas que ficam a até cem quilômetros de distância.
Watanabe entende que seu futuro é incerto. “O acidente nuclear foi um duro golpe na agricultura de Fukushima, contaminando longos trechos de terras e assustando os consumidores japoneses que rejeitam nossos produtos”, explicou. Fukushima tinha a terceira maior quantidade de agricultores do Japão, que produzem uma ampla variedade de frutas, verduras e alimentos processados. O maior obstáculo que enfrentam os agricultores é a falta de um padrão claro em matéria de risco de radiação que todos aceitem, apontou.
A variedade de fungos que ele cultiva em um terreno montanhoso da área continua apresentando níveis entre 700 e mil becquereles por quilo. Isto é até dez vezes o valor permitido. Foram criadas novas organizações integradas por residentes e cientistas comprometidos com a situação para promover os controles dos alimentos, em uma tentativa de fazer voltar à normalidade as vidas dos agricultores afetados em Fukushima, que agora dependem de compensações do governo.
Manabu Kanno, que lidera a organização Reabilitando um País Bonito da Radiação, disse à IPS que a entidade lançou um serviço de inspeção pouco depois do acidente nuclear, apoiado por um fundo governamental. O grupo aspira proteger a muito prejudicada agricultura local. Atualmente, atende mais de 90 mil famílias agrícolas que pagam uma cota nominal para que inspecione seus produtos e declare que são seguros para os consumidores.
“Os pecuaristas são os mais afetados, já que o leite apresenta altos níveis de radiação. Porém, mais de dois anos depois do acidente, há algum sinal de esperança, porque a radiação está baixando”, disse Kanno. Agora, os agricultores se dedicam a novos cultivos, como os pepinos, e optam por vendas diretas aos clientes em lugar de vender aos supermercados, onde os produtos são rotulados como “de Fukushima”, gerando rejeição. Alguns produtores também reiniciaram o cultivo de arroz este ano.
Há muito em jogo. Mais de 150 mil pessoas que residiam dentro das áreas perigosas perto do reator continuam vivendo como “refugiados nucleares” em outras cidades para evitar a radiação. O Ministério do Meio Ambiente realiza um programa de descontaminação que inclui a remoção da camada superficial do solo em terras afetadas. A previsão é que este plano consuma pelo menos mais cinco anos.
A desconfiança dos consumidores é alta, especialmente entre as famílias com filhos pequenos, os mais vulneráveis à exposição radioativa. Mizuho Nakayama, diretora da organização Protejam as Crianças da Radiação, disse à IPS que “o acidente de Fukushima alterou drasticamente a noção de segurança alimentar, particularmente para as mães que querem proteger seus filhos da agricultura contaminada”.
Nakayama, mãe de um menino de quatro anos, disse que as atuais medidas de radiação divulgadas pelo governo confundem os pais. Sua entidade controla os dados oficiais em termos do risco para as crianças. “Nossos padrões de compra de alimentos mudaram. A prioridade é a segurança e nossa própria avaliação”, o que implica se afastar de modo importante da atitude de acreditar “que o governo nos protege”, afirmou. “Pela primeira vez nos demos conta de que não podemos confiar nos limites de radiação do governo”, ressaltou.
Os agricultores não são os únicos ainda afetados. Na semana passada, pescadores de Fukushima protestaram contra a Companhia de Energia Elétrica de Tóquio (Tepco), dona do reator danificado, para que acabe com o vazamento de água radioativa no Oceano Pacífico. Envolverde/IPS