[media-credit name=”Wikimedia Commons” align=”alignright” width=”197″][/media-credit]Sardinhas e outras espécies da base da cadeia alimentar apresentam uma taxa de colapso de seus cardumes duas vezes maior do que os grandes predadores, como tubarões e atuns, que historicamente recebem mais atenção de políticas internacionais.
As leis de proteção para os ecossistemas marinhos seguem, em geral, a mesma lógica das válidas para o ambiente terrestre, acreditando que os grandes predadores são os seres mais vulneráveis. Agora, um novo estudo pode desmentir essa noção ao demonstrar que pequenas espécies estão desaparecendo mais rapidamente.
Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, analisaram mais de 200 relatórios científicos de centros pesqueiros de todo o planeta e descobriram que pequenos peixes, como sardinhas e anchovas, sofreram nos últimos 60 anos o dobro de casos de colapsos em seus cardumes do que as grandes espécies.
“Existe muita preocupação com os predadores, como tubarões e os vários tipos de bacalhau, até porque eles realmente estão em risco. Mas acontece que a base da cadeia alimentar, formada pelas pequenas espécies, pode ser ainda mais vulnerável. Isso é algo que não esperávamos encontrar”, afirmou Malin Pinsky, co-autor da pesquisa.
Segundo o estudo “Unexpected patterns of fisheries collapse in the world’s oceans” (algo como Padrões inesperados de colapso de pesca nos oceanos), publicado no dia 2 de maio no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, já era de conhecimento público que as grandes espécies são sensíveis à pesca industrial. O que surpreende é que na realidade essa atividade está afetando de maneira ainda mais feroz as pequenas espécies, que eram consideradas mais resistentes.
Os cientistas acreditam que a diferença entre a vulnerabilidade das espécies terrestres e oceânicas se deve ao modo como o homem influencia os mares. Enquanto em terra a perda de habitat é o grande problema e afeta principalmente animais maiores que precisam de territórios extensos, nos oceanos o que causa o desaparecimento das espécies é, sobretudo, a pesca descontrolada, que não faz distinção entre o tamanho dos peixes.
Assim, afirma o estudo, enquanto as grandes espécies possuem alguma segurança nas leis, mesmo que limitadas, pequenos peixes estão sumindo sem que se perceba.
“Apenas com o nosso trabalho que pudemos ter noção de que se somarmos todos os colapsos, que eram tidos como fenômenos isolados, o número de desaparecimentos de peixes como as sardinhas em determinadas regiões é muito mais frequente do que se pensava. Portanto, a pesca predatória é na realidade ainda pior para o ecossistema”, explicou Pisnky.
As pequenas espécies são vitais para os oceanos e quando elas sofrem quedas na população isso acaba afetando mamíferos, pássaros e outros peixes que dependem delas como alimento.
“Existe um número relativamente baixo de espécies nesse nível da cadeia alimentar. Se uma delas entra em colapso, pode resultar em um grande impacto em todo o ecossistema”, afirmou Pinsky.
As pequenas espécies costumam ter naturalmente uma vida curta e se reproduzir rapidamente, assim, muitas vezes depois de um colapso, elas conseguem se recuperar em cinco ou dez anos. A preocupação é que sem o controle sobre a pesca, elas não têm oportunidade para se recobrar e podem sumir completamente.
“As conclusões deste trabalho devem servir de alerta sobre o risco de continuarmos com o atual modelo de pesca. É preciso desenvolver melhores práticas e criar leis que também protejam os cardumes de pequenas espécies”, concluiu Simon Jennings, pesquisador chefe do Centro para Meio Ambiente, Pesca e Aquicultura do Reino Unido.
*Publicado originalmente no CarbonoBrasil.