Em menos de dez anos, o Ártico não terá mais gelo no verão, alertou ao jornal alemão Deutsche Welle o biólogo marinho espanhol Carlos Duarte, especialista em questões ambientais relacionadas à região. Segundo ele, o Ártico deve ser acima de tudo visto como um ponto central, onde se encontram três continentes e dois oceanos.
“O Ártico controla em grandes proporções as mais importantes correntes marítimas da Terra; o gelo derretido modifica a temperatura e o nível de salinidade do mar; as geleiras da Groenlândia influenciam o nível do mar; e no Ártico são também armazenadas quantidades enormes de gases estufa, como o metano, de relevância global”, explicou o especialista.
“Por isso, as mudanças que ocorrerem ali trarão efeitos para todo o sistema da Terra”, completou Duarte, um dos coordenadores do projeto Arctic Tipping Points, financiado pela União Europeia.
O gelo continental na Groenlândia derreteu de maneira recorde, apontam os resultados de pesquisas do ano de 2010. Caso não haja uma redução radical da emissão de CO2 até o ano de 2020, poderão derreter até 60% do permafrost (solo formado por terra, rochas e gelo que permanece congelado em toda a faixa do Ártico), o que provocaria a liberação de grandes quantidades de gases-estufa (CO2 e metano), aquecendo ainda mais a Terra.
Duarte mostra-se especialmente preocupado com o risco de que um aumento da temperatura da água possa, de súbito, liberar grandes quantidades de metano congeladas no solo marinho sob o Ártico. “Se isso acontecesse, poderia ser liberada, em poucos anos, uma quantidade de gases poluentes cinco vezes maior do que a liberada nos últimos 150 anos”, exemplificou.
Urgência de ação política
Para Duarte, já passou da hora de agir politicamente a fim de reduzir as emissões de CO2. Ele ressaltou que as discussões sobre os primeiros passos rumo a uma economia global, capaz de gerar menos poluentes, começaram tarde demais. “Alguém tem que simplesmente fazer isso na esperança de que outros o sigam”, acrescentou.
O pesquisador alemão Dirk Notz, do Instituto Max Planck de Meteorologia, também apelou por uma ação política mais imediata: “Há 20 anos, os cientistas vêm dando um sinal claro de que são necessárias medidas firmes. Voltamos quase ao mesmo ponto de 20 anos atrás. Quando se tem, como cidadão, interesse em manter nosso clima pelo menos como ele está hoje, é preciso que o setor político faça algo para, por exemplo, salvar o gelo no Ártico”, completou Notz.
O cientista, que passa boa parte de seu tempo no Ártico, vê as mudanças climáticas na região como um sinal de alerta para todo o planeta. Lá, segundo ele, o abstrato conceito de “mudanças climáticas” tornou-se visível.
“Ao observar como nessa região da Terra tão pouco povoada podem ser desencadeados conflitos geopolíticos devido às riquezas naturais ali estimadas, pode-se ter uma ideia do que poderia acontecer quando as mudanças climáticas chegarem a regiões onde vive realmente muita gente. E também do quanto essas mudanças poderão influenciar a vida das pessoas que ali vivem. Há dez anos, ninguém teria previsto uma evolução como essa”, concluiu Notz.
*Reportagem publicada originalmente no EcoD..