O pirata agia geralmente encoberto por um país que queria destruir as riquezas de outro. A pirataria era um estado de guerra não oficial, usando a experiência, a violência, a crueldade, a estupidez, a voracidade de lucros e riquezas de espertos oficiais, já que, naqueles tempos, o tráfego e o tráfico se faziam através do grande Mar-Oceano.
As telas hollywoodianas lembram estas figuras: a espada afiada na cinta, a perna de pau, um tapa-olho no rosto, um bandó cobrindo os cabelos, os tradicionais papagaios de piratas e a bandeira da rapinagem que era hasteada na hora da tradicional abordagem, dois ossos cruzados e um osso de crânio significando a morte, botim e roubo de riquezas. Honrarias e títulos de nobreza patrocinavam a pirataria, mas sempre negavam esses fatos, uma espécie de “acordo de piratas”.
Saindo das telas de Hollywood, não por acaso o pirata e suas piratarias tornaram-se a grande metáfora do modelo capitalista: o capitão-piratão, atualmente capitaneado exatamente pelas elites norte-americanas, secundado por uma quantidade imensa de papagaios de pirata do resto do mundo (as elites locais) com suas riquezas, violências, polícias, leis feitas para sua proteção, com uma mídia-pirata amestradíssima.
Há os papagaios maiores, com enorme prestígio, os papagaios de médio prestígio, os papagaios de pequeno prestígio, dependendo da riqueza a ser espoliada do país, mas que se articulam muito bem no Congresso Multinacional de Piratas e Piratarias. Afinal, lucro é lucro, botim é botim, em pequena, média ou grande escala.
O modelo capitalista é um pirata gigante que saqueia tudo: riquezas, pessoas, terras, justiça social, Saúde, Educação… Perguntamos: de que forma o pirata age?
Na Saúde, a doença torna-se objeto de lucro, as pessoas viram mercadorias, as indústrias multinacionais da doença (laboratórios, empresas de planos de saúde (?)), que vão passo a passo pirateando o serviço público. O modelo capitalista necessita, como o pirata, da doença e da dor para sobreviver.
Na Educação, o piratão precisa desqualificar o ensino, tornar o aprendizado objeto de lucro e rapinagem, “ensinando” somente o que lhe interessa, através de uma visão formal, moralista, visando seus únicos e exclusivos interesses. Precisa da ignorância e da despolitização para sobreviver.
Na Agricultura, o grande lucro vem dos agrotóxicos que envenenam a população (o Brasil é o maior consumidor mundial – 5.2 Kg/ano deste veneno por habitante) e das sementes transgênicas, os “piratas” que estão em todas as nossas mesas (legumes, frutas, cereais). Precisam envenenar o meio- ambiente para sobreviver e ter cada vez mais lucro.
A falta de Justiça Social, o piratão-mor, aliena o trabalhador, obrigando-o a exercer somente um trabalho mecânico, gerando lucros sobre lucros, a tradicional “mais-mais valia”. Desse modo, usa a repressão, a polícia, as ameaças, o terrorismo. Precisa necessariamente do autoritarismo e da força bruta para sobreviver. Chega de piratagem com nossas vidas.
Como age o pirata e sua pirataria? Conhecido na psiquiatria, o psicopata é um indivíduo com uma espécie de “defeito” na sua personalidade, não sentindo a menor culpa dos seus atos. Violenta uma pessoa e, em seguida, vai tranqüilamente tomar um cafezinho, como se nada tivesse acontecido.
Psicopatas? Quem não os conhece?
O resultado final da equação é: a soma de P de pirataria mais P de psicopatia é igual ao modelo capitalista. Cruel e perverso como pirata, a espada afiada da violência sempre empunhada, perna de pau, tapa-olho, cabeça coberta mostrando sua doença e psicopatia, a bandeira da morte com a caveira e os ossos do lucro e da rapinagem sempre hasteada no topo do mastro. Não esquecendo os papagaios de piratas que têm orgasmos com as piratarias do chefe-mor. E se as rapinagens não forem suficientes, declara-se uma guerra, usando o papagaio midiático bem amarrado no seu poleiro, repetindo sem parar o que interessa ao piratão.
O principio básico do Direito é a vida, a Medicina trata das doenças, a Saúde provém da Justiça Social. A ciência e os movimentos sociais mudaram o mundo e continuam mudando até hoje, e cada vez mais por fome e miséria. O contraponto à crueldade da pirataria, à violência, ao autoritarismo, à barbárie é a luta de classes que prega a transformação social.
Basta de piratas, piratarias, papagaios de piratas, psicopatias, modelo capitalista… Vamos amarrá-los bem amarrados e jogá-los do trampolim ao fundo do mar, como nos filmes. O máximo que podemos suportar em matéria de pirata são os brinquedinhos para crianças, fantasias de carnaval, filmes de Hollywood bem coloridos e movimentados, com um final feliz, excluindo naturalmente os piratas e sua tripulação que vão ser castigados e ter um triste fim.
A perversão da pirataria e do capitalismo não é invencível. A tarefa é árdua, mas tudo tem um começo, um apogeu, um final. E, de crise em crise, o capitalismo vai afundando e a nossa tarefa é afundar também definitivamente a doença, a dor, o preconceito e fazermos juntos florescer a Justiça Social com P de política, P de pessoa, exercendo a cidadania e o direito à vez, à voz, à vida.
* Daniel Chutorianscy é médico. E-mail: [email protected].
** Publicado originalmente no site Correio da Cidadania.