Qualquer pessoa que participe da Conferência internacional das Cidades Inovadoras (CICI) – que terminou na última nesta sexta-feira em Curitiba – sai revigorada pelo banho de conhecimento e pela constatação de que parte do empresariado nacional está empenhada em fazer do nosso país um lugar melhor para se viver. Em sua segunda edição, o evento condensou em quatro dias 97 paineis apresentados por 203 conferencistas. Que outra Federação das Indústrias, além da do Paraná, tem tido uma trajetória tão empreendedora, sustentável e inovadora quanto a dela?
As cerca de 3 500 pessoas que circularam pelos amplos espaços do Sistema Fiep tiveram a chance de ampliar seu repertório de boas idéias, de aumentar seu networking e de entender que qualquer mudança, por pequena que seja, depende não apenas de vontade política de governantes e administradores, mas principalmente de nós mesmos. Estamos engatinhando, ainda, em cultura participativa e esse é o grande gargalo na nossa democracia. Muito embora democracia não seja uma pré-condição para a inovação das cidades – como afirmou um dos palestrantes internacionais, o indiano Parag Khama (guru em governança global e assessor da campanha de Barak Obama), ao se referir às cada vez mais florescentes cidades chinesas.
Apesar da polêmica, Khama se saiu bem ao rechaçar a fome que ainda temos de líderes que nos guiem. “Temos de tomar nosso destino e o de nossas cidades nas mãos, em vez de ficar esperando o surgimento de novos Nelsons Mandelas. Cada vez mais as lideranças surgem espontaneamente do povo. Vejam as revoltas no mundo árabe: os líderes são mulheres, estudantes, comerciantes”, exemplificou.
Muito espaço foi aberto para replicar experiências bem-sucedidas em educação, infra-estrutura, empreendedorismo a partir das redes, gestão participativa. Com foco, sempre, em desenvolvimento local e na união de esforços entre vários atores sociais. Entre exemplos de cidades inovadoras de todo o mundo, chamou atenção o de Cairu, no Sul da Bahia.
Entrelaçada por 11 municípios com 282 mil habitantes, a região de Cairu está colocando em prática conceitos como protagonismo comunitário, sustentabilidade e empowerment. Uma aliança estratégica com cinco setores produtivos (palmito, mandioca, piaçava, amido e construção civil) vem desenvolvendo o projeto Cairu 2030 para projetar as intervenções na natureza de maneira equilibrada e sustentável, gerando renda, incentivando a industrialização de produtos locais e o agroecoturismo. É de Cairu a primeira plataforma de crowdfunding do país, tendência mundial para abrigar ações coletivas de cooperação, tranformando idéias em projetos que mudem a realidade.
Inovação empresarial
A interação com a coletividade foi apontada, por todos os especialistas em inovação, como pré-condição para a sustentabilidade das empresas. “É preciso desenvolver competências e criar um supercérebro capaz de fazer com que percepções se cruzem, conversem e se proliferem, aumentando o potencial das empresas – enfim, todos os cérebros conectados em rede”, argumentou Fernando Domingues, consultor de empresas.
A maioria das empresas, no entanto, ainda confunde mídias sociais com redes sociais, essas sim estratégicas, por serem formadas por pessoas que interagem num mesmo ambiente. “O mundo dos negócios na sociedade em rede está mudando”, disse Augusto Franco, criador da Escola de Redes e um dos idealizadores do evento – ao lado do presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures. “Negócios serão para qualquer um, serão inovação e serão em rede. O mundo dos negócios está assumindo aceleradamente a morfologia e a dinâmica de uma rede cada vez mais capilarizada e sem volta”, garantiu.
O problema é que, engessada por processos hierarquizados, a maioria das empresas não cria ambiente propício à inovação. “Muitas vivem 40 anos e morrem, pois não enxergam as mudanças, mantêm estruturas de gestão centralizada e se apegam a ideias que deram certo no passado, mas, no futuro, podem dar errado”, afirmou Domingues.
Enfim, o recado foi dado, repetido e repisado nos quatro dias de jornadas inspiradoras e exaustivas – as atividades terminavam diariamente por volta das 21h. Ficou claro que tanto empresas quanto cidades organizadas com base no comando e no controle hierarquizado têm de mudar, se adaptar às plataformas colaborativas, se abrir para acolher idéias das comunidades em que estão inseridas. A menos que queiram perder o bonde da inovação e correr o risco de não sobreviver aos novos tempos.