Mídias Sociais e Sustentabilidade foi o tema de painel que aconteceu durante o IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, que está sendo realizado na PUC-RJ, até sábado (19). Participaram Neuza Árbocz, Alan Dubner, Rizzo Miranda e Ismar Soares. Henrique Camargo, que moderou o painel, abriu o debate analisando sobre o uso estratégico das mídias sociais e questionando porque alguns temas provocam movimentos e ações e outros ficam quase no anonimato.
“O mundo está meio esquizofrênico”, alertou Neuza, ao destacar, como desafios das mídias sociais, a divulgação de práticas e soluções criativas. Para ela, nas redes, o contato direto é muito rico, assim como é interessante seguir pessoas engajadas, que têm opinião. “Isso sem falar na possibilidade de conversarmos com pessoas que estão em diversos lugares do mundo, criando relações de confiança”, diz, ao afirmar que o mundo nunca esteve tão interligado. “Isso só reforça a ideia de que a cidadania hoje é planetária”.
Neuza também citou movimentos que surgiram nas redes sociais, como os “twitaços” #forasarney, que aconteceu no ano passado, e o contra a Arezzo, em abril deste ano, contra o uso de peles de animais na coleção de bolsas de calçados. No Egito, a revolta da população contra o líder daquele país surgiu a partir de postagens de vídeos captados por celulares. “Com a retirada do sinal dos celulares, a população tomou as ruas e isso me faz ter certeza de que é grande o poder da nossa presença física na promoção de mudanças no mundo”.
Para Dubner, cada pessoa é capaz de fazer desde manifestações individuais a, em grupo, indo às ruas. Ele citou vários links, sites e mídias sociais que têm movimentado pessoas, como o site do Jornal The Guardian, que retrata toda a chamada Primavera Árabe, às redes Haro e Wiser Earth, via Facebook, citando ainda o movimento bluemarbles.org, que distribui um milhão de bolinhas de gude azul, que, para a pessoa que ganha, significa que ela está fazendo a diferença para um mundo melhor. E tem ainda o Play The Cool, um jogo virtual que será lançado na Rio+20, conferência mundial que será realizada em junho do próximo ano, no Rio de Janeiro. A meta é que milhões participem desse jogo, que pode ser acessado no Let´s Do It.
“Há muitas coisas e movimentos acontecendo e muitas trocas nas redes sociais. A mudança é grande, a informação não é mais pasteurizada. É importante que cada pessoa acrescente seus esforços, mesmo que sejam pequenos. Assim, faremos a verdadeira mudança”, finalizou Dubner.
Prêmio inédito da cidadania
O uso da internet e das redes sociais através de empresas públicas e privadas foi defendido por Rizzo. Ela é diretora da agência FSB Digital, com sede no Rio de Janeiro, e que conquistou o prêmio Cannes, inédito para uma prefeitura, no caso a do RJ, com a experiência de mobilização e participação popular, através de redes sociais, na tomada do Complexo do Alemão, ocorrida no ano passado. Para ela, a rede social é um acelerador fundamental da cidadania, pois pressupõe “pertencimento”, ou seja, o cidadão está conectado e quer interferir na vida da sociedade de forma positiva.
Dois anos antes da tomada do Complexo do Alemão pelo Governo do RJ, a comunidade participava com denúncias e na orientação de caminhos. “Sete blogueiros daquela comunidade se tornaram apoiadores da causa, porque esse movimento de envolvimento foi construído”, destacou Rizzo, ao afirmar que, nas redes, a resposta é imediata.
“Tem que ter algo importante e relevante para comunicar”, antecipa Rizzo, ao recordar que foram dois anos de construção do movimento, com encontros com blogueiros e colocando a autoridade, no caso o secretário de Segurança Pública do RJ, como informante, repassando as atividades e o balanço da operação e ao mesmo tempo respondendo aos questionamentos enviados via Twitter#PaznoRio. “A proposta é gerar credibilidade e dar voz às principais pessoas envolvidas”, anuncia Rizzo.
Potencial 2.0
Educomunicação Socioambiental foi o tema da palestra do professor Ismar Soares, da Universidade de SP. Ele observou que cada vez mais as crianças têm voz ativa e decidem compras e gastos da família. “Como o sistema de educação quer ficar longe desse universo infantil, que carece de investimentos tecnológicos, é preciso dar condições de os professores dominarem os equipamentos e as mídias sociais, até porque, a partir dos anos90, aforça da comunicação alternativa começa a tornar hegemônica”, analisa Soares.
Como experiência de Educomunicação Socioambiental, Soares citou o projeto Educomrádio, que há 16 anos introduziu o rádio nas escolas municipais de SP, através do Núcleo de Pesquisas da USP. “Com uma tecnologia analógica e que trabalha o imaginário, proporcionamos o empoderamento de 42 milhões de crianças e envolvemos 11 mil professores”, destaca Soares, ao salientar que a comunicação, para acontecer, ter que ser democrática e participativa. “Apesar de alguns alunos serem considerados baderneiros, com o microfone na mão, se tornaram comunicadores do bem”, diz, ao enumerar que 70% dos mais de sete mil programas de rádio que foram produzidos estavam relacionados às questões ambientais. Para ele, isso só comprova que “o envolvimento das comunidades fortalece o espaço de aliança em torno de todos os temas que nos interessam, a exemplo do tema ambiental”.
* Publicado originalmente no site do IV Congresso de Jornalismo Ambiental.