Parece contraditório, mas o rápido crescimento industrial da China ajudou a suavizar o ritmo do aquecimento global na última década por causa das emissões de enxofre, segundo um estudo publicado na segunda-feira, 4 de julho, na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Science. Contudo, as emissões de gases de efeito estufa voltaram a esquentar o clima.
Embora a década iniciada no ano 2000 tenha sido uma das mais quentes já registradas, o ritmo do aquecimento diminuiu até o período entre 2009 e 2010, quando houve nova aceleração.
De acordo com o estudo, a razão para a diminuição do aquecimento global até 2009 foi o enxofre adicional na atmosfera emitido pela aumento da queima de carvão nas indústrias chinesas. “As atividades humanas fazem duas coisas: elas resfriam o planeta e elas esquentam o planeta. As pessoas normalmente se concentram no efeito de aquecimento do dióxido de carbono (CO2), mas durante a expansão econômica chinesa houve grande aumento nas emissões de enxofre, que têm um efeito de refrigeração”, explicou Robert K. Kaufmann, da Boston University, chefe do novo estudo.
O consumo chinês de carvão dobrou entre 2003 e 2007, fator que causou um aumento de 26% no consumo global de carvão, observou Kaufmann. O crescimento foi da mesma magnitude que o aumento global no uso de carvão nos 22 anos anteriores, acrescentou o pesquisador. “Então, o que demorou 22 anos agora levou quatro anos, e começou em um nível mais alto.”
Enxofre, CO2 e geoengenharia
Apesar de ter diminuído a intensidade do aquecimento global, segundo procurou demostrar o estudo, a China reconhece os impactos da substância sobre o meio ambiente e a saúde da população, o que justifica o fato de o país ter instalado equipamentos para filtrar as partículas de enxofre, argumentou Kaufmann.
O enxofre se dissipa rapidamente se não for substituído, enquanto o CO2 permanece por um longo tempo na atmosfera, de forma que o aquecimento causado pelo CO2 começa a aparecer de novo, notou o cientista.
A Nasa e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Nooa, na sigla em inglês) listaram 2010 como o segundo ano mais quente já registrado desde o final do século 19 (atrás apenas de 2005), enquanto o Hadley Center do Escritório Meteorológico Britânico considerou a temporada passada também como o segundo ano mais quente, mas perdendo apenas para 1998.
Utilizar o enxofre por meio de compostos injetados na atmosfera a fim de amenizar o aquecimento global, ao criar nuvens que refletiriam a luz do sol, já foi uma alternativa apresentada por alguns estudos simpáticos à geoengenharia. No entanto, tal medida faria desaparecer a camada de ozônio sobre o Ártico e atrasaria a recuperação do buraco sobre a Antártica em até 70 anos, de acordo com análise de Simone Tilmes, do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica em Boulder, no Colorado (EUA).
Embora as mudanças climáticas sejam uma grande ameaça, é preciso mais pesquisa antes que a sociedade tente soluções de geoengenharia global – Simone Tilmes.
Cientistas atmosféricos e ambientalistas receiam que o contínuo aumento das temperaturas possa ter sérios impactos em todo o planeta, como secas em algumas áreas, mudanças no padrão de tempestades, a propagação de doenças tropicais, aumento no nível do mare migrações desordenadas.
Com informações da Associated Press
* Publicado originalmente no site EcoD.