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Pontes Sul-Sul para os menos adiantados

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Josephine Ojiambo.
Nações Unidas, 12/5/2011 – Nos esforços de colaboração entre países em desenvolvimento “somos todos sócios”, disse à IPS Josephine Ojiambo, embaixadora do Quênia na Organização das Nações Unidas e presidente do Comitê de Alto Nível da Assembleia Geral sobre Cooperação Sul-Sul. Este tipo de cooperação “especificamente se afasta da relação doador-cliente”, acrescentou.

O apoio dos doadores tradicionais aos chamados países menos adiantados (PMA) é, em geral, “menos do que adequado”, enquanto o intercâmbio de recursos, tecnologia, conhecimento e melhores práticas entre as próprias nações do Sul ganha impulso, destacou Ojiambo. Enquanto se desenvolve em Istambul a Conferência das Nações Unidas sobre Países Menos Adiantados (LDC-IV), a IPS conversou com Ojiambo sobre como as soluções entre as próprias nações em desenvolvimento podem complementar a cooperação Norte-Sul.

IPS: O que faz a cooperação Sul-Sul ser útil para os PMA?

JOSEPHINE OJIAMBO: Os países do Sul são uma impressionante fonte de soluções para os desafios do desenvolvimento, especialmente dos PMA. A cooperação Sul-Sul oferece novas ideias concretas, modelos e práticas para os PMA, e, portanto, proporcionam grandes oportunidades adicionais. Além disso, os países do Sul tendem a oferecer tecnologias e soluções mais apropriadas para as necessidades especiais e circunstanciais dos PMA, devido à suas semelhanças em meio ambiente, contexto e curso de desenvolvimento. As nações do Sul, além de seu tamanho ou nível de desenvolvimento, têm algo para colocar na mesa. Hoje, quando os PMA participam de negociações internacionais como grupo, podem fazer ouvir uma voz mais forte ao mesmo tempo em que oferecem tecnologias apropriadas, modelos agrícolas e outras soluções de sucesso. Os países do Sul agora estão no centro da nova geografia do comércio internacional, com produtores, comerciantes e consumidores nos mercados globais. O investimento estrangeiro direto (IED) Sul-Sul atingiu um pico de US$ 187 bilhões em 2008 (14% do IED global), quando em 1990 era de US$ 12 bilhões (4% do nível mundial). Os PMA receberam 40% do IED das nações do Sul.

IPS: As potências emergentes do Sul (Brasil, China, Índia e África do Sul), ajudam os PMA? Como?

JO: Muitos países em desenvolvimento adquiriram substancial conhecimento, capacidade e experiência para criar instituições dinâmicas de sucesso destinadas à administração social e econômica, bem como para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e administração ambiental. Há potencial para compartilhar experiências concretas entre as nações do Sul. Um cenário no qual todos ganham. Alguns exemplos de sucesso são o Bolsa Família, no Brasil, e o Programa Nacional Alimento por Trabalho, na Índia, bem como as políticas de liberalização adotadas pela China. São práticas potencialmente úteis que podem ser replicadas em outros países. China e Índia também têm estratégias na África, algo importante devido ao grande número de PMA nesse continente.

IPS: Que papel os países do Norte devem desempenhar?

JO: A cooperação Sul-Sul não substitui a cooperação Norte-Sul. Opera sobre princípios muito diferentes da ajuda dos doadores. Não só engloba os fluxos financeiros, como os empréstimos e programas para projetos sociais e de investimento em infraestrutura, mas que também inclui o intercâmbio de experiências, tecnologia e capacidades, acesso preferencial a mercados, e apoio e investimentos, transmitindo e estimulando similares tipos e níveis de desenvolvimento, gerando emprego e construindo capital e capacidade. Entretanto, apesar dos rápidos progressos na cooperação Sul-Sul em escala, alcance e dimensão, também há limitações. Os países do Sul, particularmente os PMA, enfrentam grandes desafios em termos de alta prevalência de pobreza, desnutrição e desemprego, sério déficit em infraestrutura e capacidades produtivas, e o impacto de golpes externos. A cooperação Norte-Sul e as sociedades triangulares continuam sendo fundamentais neste sentido. As oportunidades de desenvolvimento podem ser levadas à mesa por meio de mecanismos multilaterais, como o Fundo das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul, administrado pela Unidade Especial para a Cooperação Sul-Sul do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O sistema multilateral de desenvolvimento pode ser uma ponte entre países do Sul e sócios do Norte, pode mobilizar os doadores e ser um catalisador para as nações industrializadas e em desenvolvimento para que intervenham quando e onde for necessário.

IPS: Quais são os limites da cooperação Sul-Sul para apoiar os PMA e por quê?

JO: O financiamento e os recursos têm limites significativos. Nos últimos anos, durante as crises financeiras, os PMA expressaram seu temor de que mesmo os avanços obtidos no desenvolvimento sejam perdidos. Envolverde/IPS