Por que os manuscritos ameaçados no Mali são importantes

Manuscritos em uma biblioteca de Tombouctou. Foto: AFP/Evan Schneider

Mais de cem mil documentos centenários sobre a história árabe correm perigo pelas forças islamitas.

Depois que os islamitas de Ançar Eddine destruíram 16 mausoléus da cidade, a comunidade internacional se preocupa com os manuscritos antigos guardados na cidade de Tombouctou. Fundada no Século 6 por tribos tuaregues, a “cidade dos santos”, como é conhecida, tornou-se um centro intelectual na Idade Média. Com escolas e universidades, a cidade Tumbuctou concentrou textos de centenas de escribas, pagos pelo rei ou por aristocratas. Estes copiaram milhares de obras de teologia, literatura, ciência, geografia e história enviadas por comerciantes nômades. Também na cidade foram elaboradas obras originais de música e poesia, muitas delas ilustradas com iluminuras a ouro. A maioria dos textos está em árabe – considerado o “latim da África”.

Hoje, este acervo de documentos dos Séculos 12 e 13 – ou de cópias mais recentes dos Séculos 18 e 19 – é chamado de “manuscritos de Tombouctou”. A Unesco estima que 15 mil manuscritos já foram exumados e 80 mil ainda estariam nos sótãos da cidade. O jornalista Jean-Marie Hosatte, do Figaro, acredita que até 200 mil livros poderiam estar escondidos em Tombouctou e suas vizinhanças. Muitos destes tesouros não se encontram em bibliotecas, mas sim na coleção particular de famílias da cidade.

Antes da queda de Tombouctou para os grupos armados, 30 mil desses manuscritos estavam conservados no Instituto de Altos Estudos e Pesquisas Islâmicas, fundado em 1973 pelo governo de Mali. Em abril o escritório da organização foi depredado, mas os manuscritos não foram afetados. Por medida de segurança, foram transferidos para “um lugar seguro”. Em uma declaração de 18 de junho, as bibliotecas de Tombouctou afirmaram que nenhum detentor dos manuscritos foi ameaçado, mas que a presença de homens armados coloca os documentos “em perigo”.

* Publicado originalmente no jornal Le Monde e retirado do site Opinião e Notícia.