Gaza, Palestina, 10/1/2012 – “Em tempos difíceis sobrevivemos graças ao óleo de oliva. Durante a última guerra, muitos que não podiam abandonar suas casas tinham apenas este produto e pão para se manter por longos períodos”, disse Ahmed Sourani, do Comitê Palestino de Alívio Agrícola. Inclusive durante a primeira Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense), as oliveiras e seu óleo foram vitais.
“Permitiram a sobrevivência de muitos milhares de famílias palestinas bastante pobres. Quando o exército israelense nos impõe toques de recolher, é nossa principal fonte de alimento. A maioria dos estudantes leva como lanche para a escola sanduíche de az’atar (serpol, uma variedade de tomilho) e de óleo de oliva”, contou Sourani. Esta fonte de alimento foi o alvo de Israel durante anos. Em novembro de 2008, a organização internacional Oxfam informou que, desde 2000, haviam sido destruídas 112 mil oliveiras na Faixa de Gaza.
“Segundo as autoridades israelenses, a zona de exclusão que proíbe os palestinos de estarem em sua terra, fica a 300 metros da fronteira da Linha Verde entre Gaza e Israel. Na realidade, se estende muito mais além de 600 metros, incluindo 30% das terras agrícolas de Gaza”, denunciou Sourani. A Organização das Nações Unidas (ONU) cita áreas de até dois quilômetros dentro das fronteiras de Gaza que ficaram inacessíveis devido à política de balas, bombardeios e invasões de Israel.
Segundo o Comitê Palestino de Alívio Agrícola, mais de 42% dos 175 quilômetros quadrados de terra cultivável da Faixa de Gaza foram destruídos durante as invasões e ocupações israelenses. A Organização Mundial da Saúde informa que, só a última guerra de Israel contra Gaza, destruiu até 60% da indústria agrícola. Apesar da campanha sistemática de destruição de oliveiras, Sourani informou que “algumas áreas de Gaza ainda têm algumas que são centenárias”. Isto ocorre principalmente nos bairros de Zaytoun, Sheyjayee e Tuffah. De todo modo, estas árvores antigas são em quantidade ínfima, e a média de idade das oliveiras é de aproximadamente cinco anos, explicou Sourani.
Como as terras aráveis de Gaza estão cada vez mais desertas, o Ministério da Agricultura da Faixa de Gaza planeja uma resistência não violenta à destruição deste setor por parte de Israel. Ahmad Fatayar, funcionário do Ministério, disse que, com o passar dos anos, inclusive durante e depois da ocupação da Faixa, políticas e incentivos econômicos influenciados pelo Estado judeu foram criados para obrigar os agricultores palestinos a deixar de cultivar árvores em suas terras, para passar a trabalhar em estufas ou como operários em Israel.
Depois que os tratores israelenses arrasaram essas terras, para os palestinos ficou difícil, quando não impossível, cultivar suas oliveiras. “Criamos um bosque para cultivar um milhão de oliveiras em toda a Faixa de Gaza, particularmente na zona de exclusão, que foi amplamente destruída”, disse Fatayar. Ele também listou inúmeros benefícios e usos das oliveiras. “Podem ser cultivadas na rua, nos pátios das escolas e em frente das casas, e suportam períodos muito longos de seca e água salgada, podem ser armazenadas durante longos períodos e usadas em várias indústrias, como de alimentos, farmacêutica, forragem, carvão e compostagem (adubo orgânico)”, detalhou Fatayar. Para uma família palestina média, de oito membros, “duas ou três oliveiras bastam para fornecer o aceite e as azeitonas necessárias para o consumo anual”, acrescentou.
Segundo Sourani, além de seus aspectos nutritivos e econômicos práticos, as oliveiras são importantes por muitos outros motivos. “Os palestinos também as consideram um símbolo da terra, da independência, da paz e da dignidade”, ressaltou. “Usamos o azeite de oliva para tudo, inclusive para o cabelo. Quando estamos doentes, esfregamos o corpo com ele. Também é usado com cosmético: o empregamos para fazer ‘khol’, uma versão não tóxica do delineador de olhos. As folhas das oliveiras são medicinais e podem ser utilizadas na indústria farmacêutica, e também para fazer chá para tratar diabetes e dor de estômago”, explicou Sourani.
Para satisfazer as necessidades da desproporcionada quantidade de palestinos que vive na Faixa de Gaza (1,6 milhão em 365 quilômetros quadrados), boa parte da demanda de azeitonas e azeite de Gaza era atendida por agricultores da ocupada Cisjordânia. Um informe de 2010 da Oxfam afirma que “o bloqueio israelense imposto à Faixa de Gaza afetou consideravelmente a importação de azeitonas e de óleo de oliva da Cisjordânia”.
A organização também aponta um aumento nas importações de “azeite cujo preço baixou porque chegou a data de seu vencimento. Agora, obtemos somente uma pequena quantidade da Cisjordânia. O restante vem da Síria, Líbano, Egito e Espanha. Porém, continuamos preferindo o azeite de oliva da Palestina: o Surri, que data da era romana”, esclareceu Sourani.
O plano de autossuficiência do Ministério da Agricultura também inclui o cultivo de tamareiras. Como as oliveiras, as tamareiras são de especial importância histórica, nutricional, econômica e cultural para os palestinos. “São uma importante fonte de nutrição, muito produtivas e não custa muito cultivá-las”, afirmou Fatayar. O funcionário observou que “as tamareiras podem ser cultivadas em apenas um ou dois metros quadrados. Uma só destas palmeiras pode produzir até 200 quilos de tâmaras.
“Em cerca de sete anos, uma planta jovem gera uma palmeira com frutos e outras dez mudas, que sete anos depois darão dez palmeiras produtivas e cem mudas mais”, ressaltou Fatayar. Segundo estimativas do Ministério, até 2020 haverá cerca de três milhões de árvores jovens, muitas das quais darão seus frutos. Os benefícios de uma tamareira incluem alimentos (melaços, doces e óleo), produtos têxteis (mobiliário e vestimenta) e agrícolas (forragem para os animais) e papel. Envolverde/IPS