Porque acadêmicos seculares turcos estão inquietos

Aulas sobre o Corão em escolas públicas irritam acadêmicos seculares. Foto: Reprodução/Internet

Ênfase na educação religiosa é parte de uma controversa reforma do currículo nacional.

Acadêmicos seculares há muito tempo demonstram desconforto com o fato de que o moderadamente islâmico partido Justiça e Desenvolvimento (AK), no poder na Turquia desde 2002, está promovendo o Islã em detrimento da ciência. Eles assinalam a introdução, neste ano, das aulas sobre o Corão em escolas públicas. A ênfase na educação religiosa é parte de uma controversa reforma do currículo nacional, a qual é considerada por muitos ofensiva aos princípios rigidamente seculares de Kernal Ataturk, o patrono da Turquia. Tal reforma está sendo posta em prática após a posse de reitores excessivamente religiosos em diversas universidades estatais.

“Apesar de afirmar conseguir conciliar a religião com a modernidade, os movimentos islâmicos da Turquia fracassaram retumbantemente em fazê-lo”, afirma Ali Alpar, astrofísico da Universidade Sabanci em Istambul. Alpar faz parte de um grupo de acadêmicos que renunciou a seus postos na Academia Nacional de Ciências no ano passado após o governo ter anunciado que passaria a escolher alguns de seus membros.

Nesta ocasião, o governo decidiu deixar que a agência de ciência mais importante do país, conhecida como TUBITAK, escolhesse alguns dos nomes. Alpar e seus colegas não mudaram de posição. A agência tem estado envolvida em uma controvérsia própria. Esta veio à luz quando a mesma supostamente forçou os editores de sua revista científica a derrubar uma matéria de capa sobre Charles Darwin em março de 2009. Após tal evento, o governo fez modificações no estatuto da TUBITAK, o que permitiu um maior nível de ingerência.

As sugestões de que a AK está conduzindo a Turquia para um governo islâmico são exageradas. E, conforme o resto da Europa batalha contra a crise do Euro, a economia Turca continua a crescer sob o pulso estabilizador da AK. No entanto, se a Turquia deseja permanecer competitiva, são necessários muito mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento (a Diretoria de Assuntos Religiosos, que emprega milhares de sacerdotes, teve um orçamento duas vezes maior que a TUBITAK no ano passado). Não ajuda em nada alienar os principais cientistas do país. “Chegou a hora”, afirma Akyol, “de os muçulmanos repensarem por que a antiga civilização islâmica produziu tantos valores universais, da álgebra ao alaúde, e porque esse raramente é o caso hoje em dia”.

* Publicado originalmente na The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.