Nações Unidas, 23/8/2013 – Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, três membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e com poder de veto, pedem uma “urgente” investigação sobre o suposto uso de armas químicas contra civis na Síria. O representante permanente adjunto da Grã-Bretanha, Phillip Parham, disse ontem a jornalistas que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, recebeu uma carta assinada por mais de 35 Estados membros, na qual exigem uma “rápida investigação”. Entretanto, negou-se a identificar os países. A carta tampouco foi divulgada.
De todo modo, a IPS conseguiu obter uma cópia do texto, embora sem a lista dos signatários. Apenas figuravam Estados Unidos, França e Grã-Bretanha. Os outros dois membros permanentes do Conselho de Segurança são China e Rússia. A carta diz: “Gostaríamos de chamar a atenção para as informações sobre uso de armas químicas, no dia 21 de agosto de 2013, na localidade síria de Rif Damasco. Devido à gravidade destes informes, julgamos essencial que sejam investigados rapidamente todos os fatos pertinentes”.
A carta pede a Ban que ordene uma investigação “o mais rápido possível”, seguindo o Mecanismo para a Investigação do Suposto Uso de Armas Químicas e Biológicas, da própria Secretaria Geral. O mecanismo deriva do mandato aprovado pela Assembleia Geral da ONU em sua resolução A/RES/42/37C de 30 de novembro de 1987. A carta também pede ao secretário-geral que “informe os Estados membros o mais rápido possível” sobre os resultados dessa investigação.
A oposição síria acusou, no dia 21, o regime de Bashar al Assad de lançar bombas com gás venenoso sobre subúrbios de Damasco, matando mais de mil pessoas. As forças do governo negam categoricamente o uso desse tipo de arma. A Rússia, que apoia Assad, afirma que a denúncia do ataque com armas químicas é, na realidade, uma “provocação planejada” pelos rebeldes.
Um porta-voz da chancelaria russa afirmou: “Tudo isto parece uma tentativa de criar a todo custo um pretexto para exigir que o Conselho de Segurança apoie os opositores ao regime e prejudique as possibilidades de realizar a conferência de Genebra”. Esse encontro estava previsto para promover um diálogo de paz entre o regime sírio e os rebeldes, mas até agora não aconteceu.
Antes da nova denúncia, já se encontrava na Síria uma equipe de especialistas da ONU, enviada para investigar ataques anteriores com armas químicas, mas seu mandato é limitado e o Conselho de Segurança, reunido em urgência no dia 21, não pediu que estendesse sua tarefa. “Sabemos que a missão da ONU agora está em Damasco”, diz a carta. “Exortamos que se faça todo o possível para garantir que essa missão tenha acesso urgente a todos os locais relevantes e fontes de informação”, ressalta. A carta inclui uma lista com possíveis fontes para a pesquisa.
Por outro lado, ontem Ban Ki-moon disse estar impactado pelos informes sobre o suposto uso de armas químicas nos subúrbios de Damasco. O chefe da equipe da ONU enviada à Síria, o sueco Ake Sellstrom, afirmou que os especialistas investigam uma informação do próprio governo sírio sobre suposto uso de armas químicas em Khan al-Assal, bem como outras duas denúncias feitas por Estados membros das Nações Unidas.
“O professor Sellstrom conversa com o governo sírio sobre todos os temas que têm a ver com o suposto uso de armas químicas, incluindo o último incidente denunciado”, afirma em uma declaração o grupo de especialistas da ONU. “O secretário-geral reitera que o uso de armas químicas por qualquer das partes e em qualquer circunstância violaria o direito humanitário internacional”, acrescenta.
Os 15 membros do Conselho de Segurança também divulgaram ontem uma declaração própria pedindo uma investigação, mas sem adotar nenhuma resolução, que, se fosse proposta, possivelmente seria vetada por China e Rússia. O diretor da Human Rights Watch, Philippe Bolopion, afirmou que essa declaração do Conselho de Segurança não é suficiente e desampara as vítimas.
“No lugar de buscar a verdade e exigir a cooperação com os investigadores da ONU, Rússia e China novamente optam por proteger um governo que está massacrando sua própria população”, afirmou Bolopion. “Passarão para a história como os dois principais facilitadores das sangrentas táticas de Assad para reprimir o povo sírio”, enfatizou. Envolverde/IPS