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Poucas esperanças de avanço

Washington, Estados Unidos, 19/2/2013 – Apesar do acordo entre Irã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) mais a Alemanha (P5+1), para reiniciar as negociações sobre o programa nuclear de Teerã no final deste mês, poucos observadores nos Estados Unidos acreditam que esteja próximo um avanço decisivo. O pessimismo foi reforçado no dia 7, quando o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, pareceu rejeitar a proposta de manter conversações bilaterais diretas com os Estados Unidos, apresentada pelo vice-presidente norte-americano, Joseph Biden, em uma importante conferência sobre segurança realizada na última semana de janeiro, em Munique, na Alemanha.

O chanceler iraniano, Ali Akhbar Salehi, inicialmente deu as boas-vindas a essa oferta, desde que Washington desistisse de sua “retórica ameaçadora quanto a todas as opções sobre a mesa”. Porém, Khamenei declarou, em um discurso, no dia 9, para oficiais da força aérea, que: “essas negociações não resolveriam nada. Vocês apontam uma arma contra o Irã dizendo que querem conversar. A nação iraniana não se assustará com as ameaças”. Isto confirmou, para alguns observadores em Washington, que é improvável que ocorram negociações sérias – seja entre Irã e o P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia mais a Alemanha) ou em conversações bilaterais entre Teerã e Washington – antes das eleições presidenciais iranianas, previstas para junho.

“Simplesmente não está na natureza de Khamenei concordar com conversações estando em uma posição de debilidade, e sem dúvida não sem a proteção de que as conversações sejam realizadas por um presidente iraniano que se possa culpar por qualquer potencial fracasso” nas mesmas, escreveu Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional Iraniano-Norte-Americano, em seu site The Daily Beast. Segundo Parsi, “parece que Khamenei preferiria esperar até depois das eleições iranianas, tanto para encontrar maneiras de trazer o impulso de novo para o lado do Irã, como para esconder-se atrás do novo presidente nas conversações”.

Parsi se referiu dessa forma à noção generalizada em Washington de que o impacto acumulativo das sanções econômicas internacionais lideradas pelos Estados Unidos contra o Irã, bem como a guerra civil na Síria, enfraqueceram Teerã. Isto “forçou” uma volta à mesa de negociações, e não mais para fazer as concessões reclamadas pelo governo de Barack Obama e por seus aliados.

Estas incluem acabar com o enriquecimento de urânio a 20% por parte de Teerã, tirar do país suas reservas já enriquecidas nessa proporção, fechar sua central subterrânea de Fordow, aceitar um regime de inspeções altamente intrusivas por parte da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Também se propõem a esclarecer todas as dúvidas dessa entidade referentes ao programa nuclear iraniano.

Em troca, segundo funcionários norte-americanos, Washington – e presumivelmente os outros membros do P5+1 – estarão preparados para reduzir as sanções da ONU contra o Irã. E também para garantir o fornecimento de combustível nuclear para o Reator de Pesquisas de Teerã, que produz isótopos médicos, facilitar serviços para a obsoleta frota de aviões civis do Irã, e fornecer outro tipo de “alívio de sanções dirigidas” que, no entanto, não incluam castigos relativos ao petróleo – e às finanças –, que nos últimos dois anos prejudicaram particularmente a economia iraniana.

O alívio gradual dessas sanções será cumprido depois que o Irã implantar de modo pleno e verificável sua parte do trato. Porém, até que se chegue a esse acordo, Washington se comprometeu a aumentar a pressão, segundo funcionários norte-americanos que dizem que o governo está voltado para uma estratégia de impedir que o Irã obtenha uma arma nuclear por meios militares, caso seja necessário.

De fato, o governo anunciou, no dia 6, que havia começado a implantar novas sanções autorizadas pelo Congresso norte-americano que obrigariam os compradores estrangeiros do petróleo iraniano a cumprirem certas condições. Para evitar as sanções, os compradores teriam que fazer os pagamentos em contas locais, a partir das quais o Irã poderia, então, comprar mercadorias fabricadas localmente.

Está amplamente aceito que as sanções respondem, pelo menos em uma parte substancial, pela queda de 50% do valor do rial, a moeda iraniana, pela inflação galopante e pelo aumento importante do desemprego nos últimos meses. Contudo, ao mesmo tempo, há cada vez mais dúvidas de que as sanções estejam conseguindo seu objetivo (forçar o Irã a aceitar as rígidas reduções de seu programa nuclear exigidas pelos Estados Unidos), ou de que haveria maiores probabilidades de o conseguirem nos próximos 18 a 24 meses.

Este é o contexto temporário no qual a maioria dos especialistas acredita que Teerã poderia conseguir a capacidade de fabricar uma bomba nuclear muito rapidamente, caso se decida por isso. Na verdade, nas últimas semanas o Irã começou a instalar sofisticadas centrífugas na central nuclear de Natanz, que, plenamente ativadas, poderão acelerar de modo significativo a proporção do enriquecimento do urânio. A medida foi vista como um esforço de Teerã para fortalecer sua posição antes da reunião do P5+1, que acontecerá no dia 26 em Almaty, no Cazaquistão.

Além disso, enquanto em dezembro 56% dos entrevistados em uma pesquisa de opinião pública iraniana responderam que as sanções prejudicaram em grande parte o sustento dos iranianos, outro estudo, divulgado no dia 7 pela firma Gallup em Washington, mostra que 63% acreditam que o país deveria continuar desenvolvendo seu programa nuclear. À luz dos últimos acontecimentos, os falcões do Irã em Washington pedem urgência para impor sanções mais duras e medidas para tornar mais crível o eventual uso da força.

Estas cobranças, sem dúvida, serão amplificadas em boa parte no próximo mês, quando o poderoso Comitê Estados Unidos-Israel de Assuntos Públicos realizar sua convenção anual. Porém, ao mesmo tempo parece ter aumentado a convicção dentro da elite da política externa quanto a ser improvável que uma intensificação das sanções e uma ação militar ameaçadora deem resultado, e que Washington deveria estar mais disposto a aliviar as sanções para chegar a um acordo.

De fato, o compromisso do governo de recorrer à ação militar, se for considerada necessária para impedir que o Irã obtenha uma arma atômica, também é cada vez mais questionado, enquanto os “veteranos” da política externa reclamam uma estratégia de “dissuasão”, caso o Irã chegue a adquirir a capacidade de fabricar a bomba. “Afinal, a guerra é muito cara, imprevisível e perigosa para ser uma opção prática”, opinou Bruce Riedel, ex-alto analista da Agência Central de Inteligência (CIA) para o Oriente Médio e Ásia austral.

Riedel foi encarregado, em 2009, de elaborar a política para o Afeganistão na equipe de transição de Obama, e continua vinculado à Casa Branca desde seu posto atual na Brookings Institution. A “dura opção” entre uma solução diplomática e uma guerra que criou o compromisso de Obama com a prevenção “é um erro”, escreveu no começo deste mês para o projeto The Iran Primer.  “No entanto, é muito possível que o novo secretário de Estado, John Kerry, e Obama saiam desta armadilha reabrindo a porta à contenção, embora, provavelmente, eles o chamem de outra maneira”, acrescentou. Envolverde/IPS

* Leia o blog de Jim Lobe sobre política externa dos Estados Unidos em www.lobelog.com.