Na semana passada, prefeitos e autoridades municipais das principais cidades do planeta se reuniram em São Paulo para discutir como reduzir emissões de carbono e lidar com as mudanças climáticas em curso no planeta. Durante o encontro, chamado de C40, soluções de mobilidade urbana foram discutidas e as autoridades brasileiras tiveram chance de entrar em contato com diversas experiências inovadoras para reduzir congestionamentos e melhorar a eficiência dos sistemas de locomoção (leia-se transportar mais gente gastando menos energia/combustível).
A principal recomendação, como não poderia deixar de ser, foi priorizar o transporte coletivo em detrimento do transporte individual. Mais ônibus, metrôs, bondes e trens nas ruas, menos carros. Uma fórmula fácil para reduzir a quantidade de veículos circulando e de fumaça no ar. Concretizar tal mudança e, junto a isso, ampliar a integração entre modais, é o passo decisivo para a construção de cidades mais humanas. Isto significa priorizar e facilitar a circulação de pedestres, criar bicicletários próximos a terminais de transporte e outros pontos com grande fluxo de pessoas, e criar redes cicloviárias adequadas – que são compostas não só por ciclovias, mas também por rotas de trânsito compartilhado com sinalização e velocidade máxima reduzida.
O prefeito de Copenhague Frank Jensen, que aproveitou uma folga para tentar pedalar em São Paulo (veja reportagem na TV Globo), escreveu no Facebook que, durante um jantar com o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, e o diretor do Banco Mundial, Robert Zoellick, o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, ficou o tempo inteiro repetindo: “façam como Copenhague”. A cidade é justamente onde foi implementado, de maneira mais radical, o modelo de humanização de cidades pensado pelo arquiteto Jan Gehl, que acabou inspirando o genial projeto Cidade para Pessoas, da jornalista Natália Garcia e serve de base para mudanças em curso em algumas das principais capitais do planeta. O fechamento da Times Square em Nova York, por exemplo, foi uma das intervenções propostas pela equipe de Gehl em parceria com a Secretaria de Transportes da cidade (leia o que saiu a respeito no ((o)) eco Cidades – parte 1 e parte 2).
Tá na moda?
Ele não foi o único prefeito a pedalar. O de Portland, Sam Adams, aceitou um convite da Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) e, em vez de ficar enfurnado em um hotel de luxo na zona Sul da cidade, se animou para pedalar pela região central (veja reportagem na TV Record). Nas principais capitais do planeta, promover a reapropriação do espaço público por meio do incentivo ao uso bicicleta é cada vez mais uma tendência da qual os prefeitos de orgulham. Boris Johnson, o de Londres, outra capital que está se adaptando totalmente às bicicletas, não compareceu na C40, mas postou uma foto na semana passada em uma fábrica de bicicletas.
Por aqui, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, começa a surfar (ou pedalar) também nesta onda. Quebrando a tradição dos políticos da cidade, que sempre estufavam o peito para falar de pontes e avenidas monstruosas deixadas como “legado”, o atual governante já fala em deixar “ciclovias permanentes”.
“Vamos avaliar a implementação da ciclovia permanente na cidade de São Paulo. É um legado que quero deixar para as próximas gestões.” Gilberto Kassab, no Jornal da Tarde.
Os prefeitos começam a pedalar e as cidades começam a mudar. Mesmo que o carro do governador ainda não dê preferência para pedestres, como noticiou hoje o G1.
* Publicado originalmente no site Outras Vias.