O pesquisador norte-americano denuncia que os laboratórios só investem em medicamentos que sejam necessários para a vida toda.
O Prêmio Nobel de Química de 2009, Thomas Steitz (Estados Unidos), denunciou, no dia 26 de agosto, que os laboratórios farmacêuticos não investem na pesquisa de antibióticos que possam curar definitivamente, mas que preferem centrar o negócio em medicamentos que seja necessário tomar durante “toda a vida”.
“Muitas das grandes farmacêuticas fecharam suas pesquisas sobre antibióticos, porque eles curam as pessoas e o que estas empresas querem é um fármaco que se tenha que tomar a vida toda. Eu posso parecer cínico, mas as farmacêuticas não querem que as pessoas se curem”, enfatizou.
Pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes da norte-americana Universidade de Yale, Steitz assiste em Madri ao Congresso Internacional de Cristalografia, o estudo da estrutura ordenada dos átomos nos cristais da natureza.
No caso da tuberculose, Steitz averiguou o funcionamento que deveria ter um novo antibiótico para combater certas cepas resistentes a essa doença, que surgem sobretudo no sul da África.
O desenvolvimento desse medicamento precisa de um grande investimento econômico e da colaboração de uma farmacêutica para avançar na pesquisa, comentou Steitz na coletiva de imprensa. “Fica muito difícil encontrar uma farmacêutica que queira trabalhar conosco, porque, para essas empresas, vender antibióticos em países como a África do Sul não gera apenas dinheiro”, lamentou. “Elas preferem investir em medicamentos para a vida toda.”
Por enquanto, segundo Steitz, estes novos antibióticos são “só um sonho, uma esperança, até que alguém esteja disposto a financiar o trabalho”.
Steitz, Enrique Gutiérrez-Puebla e Martín M. Ripoli, ambos do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), fizeram uma chamada para que os países invistam mais em ciência. No caso dos antibióticos, a resistência das bactérias a eles tornará necessário continuar pesquisando “indefinidamente”.
Steitz conseguiu revelar como funciona o ribossomo, a parte da célula encarregada de fabricar proteínas a partir dos aminoácidos, o que lhe valeu o Prêmio Nobel, junto com os colegas Ada E. Yonath e Venkatraman Ramakrishnan.
Essa descoberta abriu uma nova linha de pesquisa em antibióticos, ao dar a conhecer o mecanismo pelo qual as bactérias se tornam resistentes a eles.
Suas pesquisas se centram agora em determinar as regiões do ribossomo para as quais dirigir e fixar os antibióticos, ou seja, os pontos-chave em que o medicamento seria mais eficaz.
Atualmente, além da tuberculose, o laboratório de Steitz trabalha em vários compostos para combater cepas resistentes da pneumonia e do estafilococo áureo resistente à meticilina, que causa mais mortes que o HIV em alguns países, como os Estados Unidos.
Veja o original aqui.
Tradução: Idelber Avelar.
* Publicado originalmente pelo La Vanguardia e retirado do site da Revista Fórum.