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Preparando-se para o pior

A erosão costeira coloca em risco esta estrada do sul de Antigua e Barbuda. Foto: Desmond Brown/IPS

Brasseterre, São Cristóvão e Neves, 1/10/2012 – O primeiro-ministro de São Cristóvão e Neves, Denzil Douglas, recorda o quanto era tranquila e pacífica esta federação de duas ilhas durante seus primeiros 40 anos de vida. Contudo, há dez anos, este país, como o restante do Caribe, sofre eventos climáticos extremos. “Quando era pequeno, eu não sabia nada de furacões, mas na última década São Cristóvão e Neves sentiu sua ira como nunca antes”, afirmou Douglas, que há 17 anos ocupa a chefia do governo.

Porém, as tempestades que afetam São Cristóvão e Neves não são exclusivas destas ilhas, acrescentou o primeiro-ministro. “É difícil esquecer a brutalidade dos furacões Ivã e Emily” em Granada, em 2004 e 2005, quando era considerada então “muito segura, localizada mais ao sul de nosso arquipélago”, explicou à IPS. Em julho de 2005, o furacão Emily deixou uma esteira de destruição em Granada, quando esse país ainda se recuperava da devastação do ano anterior.

Os habitantes desta região sofrem ramificações problemáticas e polifacetárias do aquecimento global, disse Douglas aos participantes de um seminário dedicado ao tema, realizado no mês passado. O mandatário tem uma grande responsabilidade em questões ambientais e de mudança climática na Organização dos Estados do Caribe Oriental (OECS), composta por sete membros (Antiga e Barbuda, Dominica, Granada, Montserrat, São Cristóvão e Neves, Santa Lucia, São Vicente e Granadinas) e dois associados (Anguila e Ilhas Virgens Britânicas).

“Mais do que nunca nos vemos diante da ameaça de frequentes e severos furacões, secas, redução do número de peixes e muitas outras ameaças que refletem claramente a natureza de nossa própria existência insular”, afirmou o primeiro-ministro. Michael Taylor, da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), concorda com Douglas quanto à necessidade de medidas urgentes. Contudo, afirmou que, embora a participação do governo seja fundamental em termos de sustentabilidade, o envolvimento da comunidade é ainda mais importante para sua continuidade.

“A capacitação de organizações não governamentais e da sociedade civil é fundamental para a conscientização geral a fim de garantir a efetiva resistência das comunidades e sua adaptação à mudança climática”, ressaltou Taylor. “Se a população local não compreende bem os assuntos e não está preparada para se comprometer com a participação de forma ativa, o êxito corre risco”, alertou.

A Usaid patrocinou no ano passado um painel semelhante em Santa Lucia, que examinou os impactos climáticos na gestão de recursos hídricos. Após o encontro teve início a implantação de iniciativas nacionais em vários países caribenhos. São Cristóvão e Neves é um exemplo, com a criação de um plano diretor para o setor hídrico, e também pela coleta de água em São Vicente e a distribuição por osmose inversa para os lares da ilha granadina de Bequia.

Astonia Browne, comissária de São Cristóvão e Neves na OECS, disse à IPS que, como ocorre na maioria dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento, os desafios dos países-membros do grupo estão marcados por sua reduzida extensão territorial, suas pequenas economias abertas, limitada infraestrutura e alta vulnerabilidade aos desastres naturais. Estes países devem encontrar sua própria forma de enfrentar os desafios, diante da carência de fundos externos.

A Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática identifica o Caribe como uma das regiões mais vulneráveis, que será ameaçada pelas consequências da mudança climática nos próximos 30 a 40 anos. A região terá que lidar com o aumento da temperatura, as tempestades tropicais, as terras baixas costeiras e pântanos alagados, bem como elevação do nível do mar, entre outros problemas.

“Não podemos esperar que o mundo industrializado determine se sobrevivemos, ou não, à mudança climática. Cada um de nós deve fazer o que está ao nosso alcance, agir para a redução de nossas vulnerabilidades e construir capacidade de resistência”, enfatizou Browne. A comissária também se mostrou preocupada com os recursos naturais se degradando por práticas como desenvolvimento mal planejado, crescimento populacional, contaminação, exploração de recursos, entre outros. A menos que isto seja controlado, os países não poderão suportar o impacto da mudança climática. Perderão a capacidade de “fornecer serviços e funções vitais para o desenvolvimento sustentável de nossas pequenas economias insulares”, alertou.

Os participantes do seminário Mudança Climática e Nossa Costa: Explorando Possibilidades, Encontrando Soluções também analisaram o impacto do aquecimento global no importante setor turístico, bem como as políticas para enfrentar esses desafios. Segundo Douglas, as consequências da mudança climática são “óbvias e catastróficas para o turismo”. Também afirmou que a única maneira de a região poder lidar com as consequências deste fenômeno é se a adaptação se integrar aos diferentes setores da economia.

“O turismo será particularmente afetado pela mudança climática. Com a elevação da temperatura do mar, muitos arrecifes de coral branquearão, o que prejudicará o interesse pelo mergulho e significará uma perda importante de renda”, explicou Douglas. “Afirma-se que a mudança climática é uma grande ameaça para as pequenas nações insulares. O fenômeno exacerba todas as outras ameaças e outros obstáculos que enfrentamos”, concluiu. Envolverde/IPS