Pequim, China, 8/6/2011 – A China avalia o impacto das revoluções no Norte da África e Oriente Médio em suas indústrias e analisa novos destinos para investimento. A África, considerada o laboratório das companhias chinesas para a expansão internacional, é cada vez mais relegada como objetivo devido aos novos fatores de risco. Isso seguramente beneficiará países mais seguros e próximos ao gigante asiático. A mudança de estratégia já estava nos planos, mas os levantes populares na Tunísia, no Egito e na Líbia a aceleraram.
“A instabilidade no Norte da África e a situação na Líbia, em particular, estão colocando à prova a estratégia da China”, disse Wang Jinyan, pesquisador na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim. “Isso terá um impacto definitivo na direção futura de nossos investimentos no exterior”, declarou. Segundo a imprensa, o novo plano de cinco anos do Ministério de Comércio da China, cujos detalhes estão sendo afinados neste momento, transforma a Ásia e as economias emergentes no principal destino dos investimentos.
“Devido aos riscos políticos, os investimentos na África já não são como antes”, disse em maio o semanário chinês Economic Observer, citando um funcionário do Ministério. “Abrir uma mina já não é fácil ali. Agora é preciso considerar o meio ambiente, o emprego local e os benefícios da economia local”, disse a fonte. Por outro lado, a Ásia é vista como um mercado maduro cheio de potencial econômico e menos riscos políticos. Prever a futura direção dos investimentos de Pequim ocupa hoje em dia muitos analistas.
Cheia de dinheiro após anos de crescimento econômico impulsionado por exportações e com a maior reserva de divisas do mundo, a China sai em busca de matérias-primas, petróleo, fontes de energia e terras agrícolas. Um estudo divulgado em maio pela Sociedade da Ásia em Nova York prevê que os investimentos diretos da China no exterior poderão chegar, até 2020, aos US$ 2 trilhões. No ano passado, os investimentos dos Estados Unidos no exterior somaram US$ 300 bilhões.
A crise financeira de 2008 deu às empresas chinesas o ímpeto e as oportunidades necessárias para canalizar seu dinheiro nos rincões mais remotos do planeta, obter minerais, garantir campos petrolíferos e adquirir ações em grandes companhias internacionais.
Entretanto, antes de abrir suas asas para ir mais longe, as empresas chinesas, inclusive as maiores, como a Petro China, usam a África como pista de prova. Chegaram como construtoras de ferrovias, estradas e redes de telecomunicações, e hoje já têm uma forte presença em todo o continente. No final do ano passado, cerca de duas mil empresas chinesas operavam na África com investimento acumulado de US$ 32 bilhões.
Em 2010, a China se converteu no principal sócio comercial da África, e sua marcha pelo continente parecia impossível de ser detida. Não era de surpreender o surgimento de críticas a Pequim, acusando o governo chinês de levar adiante um novo colonialismo e de extrair os ricos recursos africanos. Contudo, a Primavera Árabe parece pôr freio a essa expansão. Começam a surgir os números das perdas econômicas chinesas pelos levantes populares no Norte africano, o que dá às autoridades da China mais argumentos para fazer uma parada.
Na Líbia, as perdas sofridas e o custo de repatriar 36 mil empregados chineses passaram dos US$ 3 bilhões. Desde 2007, Trípoli contratou 50 projetos de engenharia de empresas chinesas. Embora o papel da China como contratada tenha limitado sua exposição ao impacto do conflito líbio, também sofreu perdas diretas, como a destruição de refinarias da empresa Sinpec. Especialistas dizem que Pequim enfrentará uma onda de pedidos de compensações, dívidas de terceiros e recontratação de trabalhadores chineses repatriados.
Em uma conferência de trabalho em Xangai em maio, a Sinosure, agência oficial chinesa de seguros para a exportação, revelou que, nos primeiros três meses de 2011, os pedidos por perdas no Norte da África e Oriente Médio cresceram 167% em relação a igual período do ano passado. Segundo o Ministério do Comércio, a quantidade de novos contratos chineses assinados com países do Norte africano no primeiro trimestre deste ano caíram drasticamente (70,8% na Argélia e 46,9% na Líbia) em relação a igual período do ano passado.
A instabilidade política e a insegurança fizeram com que os chineses radicados no Norte da África se isolassem, o que acrescenta acusações aos contratados de permanecerem distantes da população local e de sua realidade. Mesmo que Pequim reveja sua estratégia de expansão, sua participação na África está longe de terminar. “Talvez, nunca se veja chineses, mas se pode ver os estádios, as estradas e tudo o que construíram”, disse Lawrence Brahm, colunista político radicado em Pequim. “Ainda creio que o grande jogo entre China e Ocidente será disputado na África”, ressaltou. Envolverde/IPS