O “New York Times” deste domingo traz uma reportagem sobre um assunto fundamental que pretendo abraçar como Embaixador da Boa Vontade da Unesco e como membro do Todos pela Educação: a escola técnica.
Se a geração de empregos é uma preocupação mundial, entre os jovens é uma preocupação maior ainda.
Foi o desemprego entre os jovens que deflagrou a Primavera Árabe, resultado de centenas de milhares de jovens sem emprego, sem futuro, sem sonho.
A forma como a educação é pensada hoje em tantas partes do mundo não está apta a atender à demanda desses jovens e às necessidades desses tempos.
O sistema educacional do mundo é uma fábrica de desempregados.
Uma prova disso é que, a despeito de sofrerem com um desemprego de 9%, existem dezenas de milhares de postos de trabalho nos Estados Unidos não ocupados porque lá, como em tantas partes do mundo, as pessoas não estão sendo educadas para um novo mundo e os seus novos empregos.
Há um clamor mundial pela educação. No Brasil, como em toda parte, clamamos por ela. Mas é preciso repensá-la e torná-la mais acessível. Em todos os sentidos.
Se Winston Churchill já achava o currículo escolar antiquado, imagine os jovens ingleses de hoje.
Churchill só tomou gosto pelos estudos quando entrou na academia militar, o que na realidade foi para ele como uma escola técnica.
Onde, ao invés de aprender latim, aprendia sobre cavalaria e a arte da guerra. Enfim, coisas de utilidade técnica que ensinaram o jovem Winston a desempenhar e a abstrair.
Não sou um educador, mas sou um empregador. E sei que ouvir o mercado de trabalho, os jovens, os pais, levar em consideração os avanços e as demandas tecnológicas ajudarão a repensar os currículos, as escolas e o sistema educacional como um todo.
É óbvio que a educação precisa preparar as pessoas para coisas maiores, intangíveis, mas é bom que ela ensine a fritar um bife ou a alfabetizar os alunos digitalmente.
Na minha área de atuação, por exemplo, o currículo é, na maioria dos casos, etéreo e jurássico, e o estágio faz o papel da escola técnica.
Tenho, em função de minha vida profissional, necessidade de gerar empregos na velocidade crescente da expansão do mercado.
É difícil, e não o faremos bem pensando da mesma forma. Não vamos ter melhores resultados, mudar as coisas, fazendo as mesmas coisas.
Explique-me por que o horário escolar de uma criança ainda tem que ser às 7h? É a hora do rush. Não faz sentido.
O horário das crianças, com a internet, mudou. E as plantas físicas das escolas estão defasadas.
A escola pública que apoio em São Paulo teve de atualizar sua planta elétrica para uma carga mais moderna dada a eletrificação do ensino.
Por outro lado, é preciso deixar claro que a escola técnica não é um sucedâneo a uma falta de perspectiva de acesso à universidade. Ela é uma opção importante de ensino.
Num país que precisará tanto de garçons, chefes, profissionais de turismo em geral, quem vai treinar todo esse pessoal para 2014, 2016 e para o Brasil potência turística de 2017?
A escola técnica.
Se boa parte dos empregos gerados no mundo virá de pequenas e médias empresas, quem vai produzir as costureiras da França, os vidraceiros de Murano, os trabalhadores do ABC paulista cada vez mais digital?
A escola técnica que é “tech” e é técnica.
O Brasil, que encontrou seu rumo graças ao trabalho de um professor e de um operário, deve entender que o mundo precisa de várias formas de saber.
E o sistema educacional deve estar preparado para várias formas de ensinar.
Com um sistema educacional mais objetivo e mais sintonizado com as diferentes realidades e demandas do mundo, nós construiremos a primavera do saber, dando a oportunidade, seja no ensino universitário ou no técnico, para o ser humano desabrochar como puder ou quiser.
* Nizan Guanaes é publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, no jornal Folha de S. Paulo.´
** Publicado originalmente no site EcoD.