Desde 2007, quando o HarvestPlus começou a distribuir “biofortificantes” em Uganda e Moçambique, mais de 50 mil agricultores começaram a utilizá-lo. Comerciantes anunciam produtos com “doses extras de saúde”, e o dobro do preço.
A nutrição é a Cinderela do desenvolvimento. A fome é manchete, na medida em que o aumento dos preços dos alimentos empurra cada vez mais pessoas para a fome. Mas a deficiência de alguns nutrientes prejudica ainda mais pessoas e causa danos duradouros sobre suas vidas. Além disso, esta deficiência também é fortemente afetada pelo aumento dos preços dos alimentos.
Dos 40 nutrientes que mais fazem falta, quatro se destacam: ferro, zinco, iodo e vitamina A. A vitamina A é essencial para as membranas que protegem os órgãos do corpo, como os olhos, por exemplo. A falta deste nutriente causa cegueira em meio milhão de crianças a cada ano. Metade delas morre dentro de um ano com falhas em outros órgãos. Já a deficiência do zinco prejudica as funções motoras e do cérebro e causa quase 400 mil mortes por ano. A falta de ferro gera anemia, enfraquece o sistema imunológico e afeta, principalmente em países pobres, inúmeras mulheres em idade fértil.
Muita fome para pensar corretamente
A falta de nutrientes vai além. O nível de educação é prejudicado, pois crianças desnutridas não conseguem se concentrar, e o poder aquisitivo diminui. Até o casamento entra em jogo. Estatísticas mostram que homens que foram meninos subnutridos casam com mulheres de menor escolaridade.
A saída mais comum seria distribuir pílulas de vitamina e fortificação de alimentos com nutrientes – a colocação de iodo no sal, por exemplo. No entanto, agora, os políticos começam a pensar maneiras de a agricultura melhorar a nutrição da população. Esse foi o tema de uma recente conferência em Nova Délhi, organizada pelo Instituto de Pesquisa de Política da Alimentação.
Com o fornecimento de dietas variadas para os mercados locais, as pessoas estariam mais dispostas a comer melhor. O crescimento agrícola é uma das melhores formas de gerar renda para famílias mais pobres, que, consequentemente, precisam de mais ajuda na compra de alimentos nutritivos. O desenvolvimento da agricultura e da nutrição infantil devem, portanto, caminhar juntos. Teoricamente, um aumento na produção agrícola deve aumentar e melhorar a nutrição.
Na prática, a história muda de figura. Um documento escrito para o encontro em Délhi mostra que um aumento na produção agrícola soma, por trabalhador, de US$ 200 a US$ 500 por ano. O resultado ainda significa uma queda de cerca de 20% na população subnutrida. Não são resultados ruins, mas certamente inferiores aos obtidos com o crescimento do PIB per capita. O crescimento geral da economia de um país, então, se sobrepõe às melhorias na agricultura.
Um outro documento confirma esta teoria. O crescimento agrícola reduz a proporção de crianças abaixo do peso, enquanto o crescimento não agrícola não possui este poder. Contudo, quando a questão é o crescimento das crianças, ocorre o contrário. O crescimento do PIB ajuda nesta melhoria, e a agricultura não.
Em parte, isto ocorre porque muitas pessoas, especialmente em países pobres, vendem seus produtos sem consumi-los – especialmente os de maior valor, os mais nutritivos. A renda extra é o que conta. O dinheiro, entretanto, não é gasto com comida. E a parte destinada à alimentação, raramente é gasta em alimentos nutritivos. A agricultura, portanto, ajuda, mas não é a solução mágica.
* Publicado originalmente no site Opinão e Notícia, a partir do The Economist.