A região metropolitana de São Paulo precisa começar a reusar a água para que o sistema hídrico tenha sustentabilidade, avalia a o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Ivanildo Hespanhol. “Hoje nós estamos usando o mesmo paradigma de 2 mil anos. Nós estamos trazendo água de cada vez mais longe. Sistemas que já estão com um problema sério de estresse hídrico, como é o caso da Bacia do Piracicaba”, ressaltou o especialista ao comparar o sistema de captação atual com os aquedutos romanos da antiguidade.
O tema foi discutido na quinta-feira (16) no 1º Fórum Técnico Internacional Reúso Direto e Indireto de Efluentes para Potabilização, na Faculdade de Saúde Pública da USP.
Hespanhol, que é diretor do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água, explicou que 80% do volume que é captado voltam aos rios como esgoto. Na Grande São Paulo, são geradas, segundo o professor 64 metros cúbicos de esgoto por segundo (m³/s). Por outro lado, só são tratados 16m³/s. “O sistema é absolutamente insustentável. Nós continuamos trazendo água de fora, produzindo esgoto e não tem nem planejamento para tratá-lo”, disse ao citar os planos de ampliação o fornecimento de água para a região com novas adutoras.
Aproveitando as estações existentes, o sistema de tratamento poderia, de acordo com Hespanhol, ser aprimorado para que essa água fosse destinada para aproveitamento não potável, como o uso industrial. Isso, seria, na opinião do especialista, uma primeira fase de um plano para incorporar a água de reúso ao sistema de abastecimento.
Na prática, segundo o professor, a água de reúso já está presente no abastecimento de várias cidades. Hespanhol cita, por exemplo, o caso do Rio Paraíba do Sul que recebe efluentes e faz parte do sistema de captação de diversos municípios simultaneamente. “Uma cidade capta água, trata, vira esgoto, joga no rio. A cidade de baixo faz a mesma coisa e assim sucessivamente”, ressalta.
Não há, no entanto, um planejamento para que a água seja usada dessa forma. “Esse é o reúso potável direto não planejado e também inconsciente. Esse é um grande problema de saúde pública e um grande problema ambiental que as companhias de saneamento não veem”, avaliou o professor.
Existe, inclusive, de acordo com Hespanhol, uma resistência cultural ao uso de esgoto tratado para o abastecimento. “A nossa percepção cultural inibe a utilização de esgoto como água potável ou não potável,” destacou.
O professor garante, entretanto, que os processos de reúso podem transformar o esgoto em água e ser usada para qualquer finalidade. Para o abastecimento das cidades, Hespanhol diz que a água de reúso pode ser misturada a água usada normalmente para o abastecimento. “Onde ele seria diluído, teria a qualidade melhorada, voltaria para estação de tratamento, produzindo água”, detalhou.
* Edição: Aécio Amado.
** Publicado originalmente no site Agência Brasil.