Buenos Aires, Argentina, 16/9/2011 – Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai registram melhorias em matéria de saúde infantil. Contudo, enquanto uns já comemoram o êxito, em alguns casos notáveis, outros avançam a passo lento para a meta assumida em 2000 na Organização das Nações Unidas (ONU). Esse quadro díspar surgiu de informes dos representantes das sociedades de pediatria dos seis países do Cone Sul da América reunidos em Buenos Aires para o Congresso do Centenário, organizado pela Sociedade Argentina de Pediatria (SAP).
Neste encontro – que começou no dia 13 e termina hoje, e celebra o centenário da SAP –, foram apresentados indicadores e buscadas maneiras de melhorá-los para ajudar a cumprir o quarto dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio fixados pelos governos na ONU, que se refere à redução da mortalidade infantil. Ainda que subsistam desafios, os países que mostraram maiores progressos no combate a desnutrição, redução da mortalidade infantil e cobertura de vacinas são Argentina, Brasil, Chile e Uruguai.
No entanto, Bolívia e Paraguai, onde a pobreza e a indigência estão em leve baixa, mas continuam sendo elevadas, os indicadores mencionados acima ainda apresentam enormes falências que pesam sobre a população infantil. “A Bolívia tem a mais alta taxa de mortalidade infantil da América Latina”, afirmou o médico Darwin Martínez, da sociedade pediátrica de seu país. “Temos um atraso de 50 anos em relação ao Uruguai”, por exemplo, lamentou ao falar ao plenário da reunião.
A pobreza ainda afeta 64,3% dos 10,5 milhões de bolivianos, e a porcentagem sobe para 75% entre crianças de até 13 anos, enquanto a desnutrição chega a 37% entre os menores de cinco anos e 60% deles sofrem algum grau de anemia, afirmou o especialista. Martínez acrescentou que a mortalidade infantil é de 50 para cada mil nascidos vivos, a vacinação chega a apenas 50% das crianças (5% dos menores de dois anos não recebem nenhuma vacinação) e uma em cada três mulheres com menos de 20 anos já tem pelo menos um filho.
Martínez disse à IPS que nos últimos dez anos houve progressos, com uma queda da desnutrição e maior imunização. Incentiva-se a amamentação até os seis meses e foi crido um seguro universal materno-infantil. Entretanto, ainda não é suficiente.
O Paraguai é outro país que progride lentamente. O médico Luis Moreno Jiménez recordou que 35% de seus 6,5 milhões de seus habitantes são pobres e 19% são indigentes, a mortalidade infantil chega a 24 para cada mil nascidos vivos e a desnutrição afeta 14% das crianças. No país, com população jovem igual à da Bolívia, que ainda não produziu a transição para uma sociedade que reduz o número de nascimentos, a fecundidade é de 3,5 filhos por mulher, uma das mais altas da região.
Por outro lado, os demais países estão fazendo rápidos progressos. O Brasil, que tinha mortalidade infantil próxima de 80 para cada mil nascidos vivos em 1983, baixou para 19 para mil atualmente, afirmou o pediatra Eduardo da Silva Vaz. “A prevalência de déficit de peso e de altura em menores de cinco anos deixou de ser um problema no Brasil”, destacou, alertando que agora a preocupação é o sobrepeso e a obesidade crescente entre meninos e meninas, um tema lembrado em todas as exposições.
O programa brasileiro de vacinação “é um sucesso”, pois cobre praticamente a totalidade dos menores, disse Vaz à IPS. No entanto, os nascimentos chegam a quase dois por mulher, em média, com muitas disparidades neste indicador segundo o nível de instrução e social da mãe. Contudo, o médico se mostrou preocupado pela falta de educação pré-escolar, que faz com que muitas crianças de até cinco anos sejam “abandonadas” ou cuidadas por irmãos que não estão em condições de estimulá-los.
Vaz também chamou atenção para o elevado número de mortes preveníveis na adolescência. Destacou que 72% das mortes de pessoas entre 15 e 19 anos ocorrem por causas não naturais, entre as quais prevalecem a violência, os acidentes e suicídios. A presidente da SAP, pediatra Margarita Ramonet, explicou que na Argentina a mortalidade infantil está em 12,1 por mil nascidos vivos, embora a média baixa esconda fortes contrastes.
Na província de Formosa, limítrofe com o Paraguai, este indicador chega a 20,5 por mil, enquanto na cidade de Buenos Aires cai para 8,5 por mil. A população imunizada está entre 92% e 99%, dependendo da vacina, e a ocorrência de gravidez de adolescentes continua alta, em 14,5% das mulheres nessa faixa etária, apesar da difusão de programas de educação sexual e acesso a anticoncepcionais. Como o representante do Brasil, a especialista argentina se mostrou preocupada pela quantidade de mortes de adolescentes, que, no caso de 60% das pessoas entre 15 e 17 anos, foram por causas “que podem ser reduzidas”. Também alertou que aos 13 anos 46% dos menores ingerem bebida alcoólica.
No Chile e no Uruguai, também houve notórios progressos, embora com desafios ainda pendentes. No primeiro caso, o médico Francisco Moraga Mardones, destacou que a mortalidade infantil chega a 7,7 para cada mil nascidos vivos e a quantidade de filhos por mulher se aproxima da média de dois, como no Brasil. Entretanto, estes indicadores, semelhantes aos de um país do Norte industrializado, escondem sérias disparidades. “O Chile é o país mais desigual da América Latina”, assegurou o pediatra, dizendo que entre as mães sem instrução a mortalidade é sete vezes maior.
Mardones também revelou que, embora esse país esteja envelhecendo e nascendo poucas crianças, 25% dos partos são de mulheres com menos de 20 anos, 16% das quais têm menos de 14 anos. A desnutrição já não é assunto que preocupe no Chile, mas sim o sobrepeso, que afeta 30% das crianças até sete anos, enquanto a obesidade alcança 22% dessa faixa etária.
Finalmente, Alicia Fernández, presidente da Sociedade Uruguaia de Pediatria, disse que em seu país a mortalidade infantil afeta 7,7 em cada mil nascidos vivos, o menor índice da região, e a imunização chega a 99% do universo infantil. Porém, alertou que um dos principais problemas na atenção com a saúde infantil no Uruguai é a grande concentração de pediatras em Montevidéu, que se contrapõe à escassez registrada no interior do país. Envolverde/IPS
