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Proibido estudar na Cisjordânia

Jerusalém, Israel, 28/6/2012 – Depois de 25 anos de luta pelos direitos das mulheres na Faixa de Gaza, Andaleeb Shehadeh agora luta para terminar o curso de pós-graduação na Cisjordânia. “Este tipo de estudo é muito importante para as mulheres com um papel ativo na luta pelos direitos femininos na Faixa de Gaza”, declarou à IPS esta mulher de 46 anos, com quatro filhos. “Não são oferecidos em Gaza nem no resto do Oriente Médio”, acrescentou.

Shehadeh começou em 1999 um mestrado sobre gênero, direito e desenvolvimento na Universidade de Birzeit, na Cisjordânia. Porém, um ano depois, as autoridades israelenses proibiram de forma generalizada a circulação de cidadãos de Gaza nesse outro território palestino para estudar. Shehadeh, diretora-executiva do Centro de Mídias Comunitárias de Gaza, não conseguiu assistir as aulas na Cisjordânia desde então. “Inventam desculpas, que a proibição é por motivos de segurança e que não é para mim, mas para todas as pessoas que querem estudar na Cisjordânia. Por quais razões de segurança os estudantes são uma ameaça para Israel?”, questionou.

Há nove universidades na Cisjordânia e cinco na Faixa de Gaza. A Cisjordânia, com nove universidades, conta com cerca de 30% mais programas de graduação e 40% mais de pós-graduação do que os existentes nas cinco altas casas de estudo de Gaza, além de alguns nem mesmo constarem deste último, como odontologia, engenharia médica, veterinária e direitos humanos e democracia. “Tentam nos dividir, nos separar dos palestinos da Cisjordânia. É para não termos uma boa educação e para fortalecer seu controle sobre Gaza e seus moradores”, denunciou Shehadeh.

O Supremo Tribunal de Justiça de Israel ordenou no final de maio que o exército israelense reavaliasse a proibição contra Shehadeh e outras quatro mulheres de Gaza de frequentarem a Universidade de Birzeit para terminarem seus cursos. Segundo o Gisha, o Centro Legal para a Liberdade de Movimento, que levou o caso ao Supremo Tribunal com apoio do Centro Al Mezan de Direitos Humanos, com sede em Gaza, a proibição de circulação viola as obrigações israelenses no contexto do direito internacional enquanto potência ocupante, bem como o compromisso do Estado judeu, contraído nos Acordos de Oslo, de tratar os dois territórios como sendo um só.

“Parece que Israel tenta evitar que as pessoas se desloquem para a Cisjordânia. Quando se é jovem e estudante pode-se conhecer um homem ou uma mulher e querer se casar, e ficar”, disse à IPS a porta-voz do Gisha, Ayelet Cohen. “Dizem que os estudantes têm um perfil perigoso”, acrescentou. Antes da Segunda Intifada, entre julho e setembro de 2000, estima-se que a média mensal de entradas em Israel desde Gaza superava as 500 mil. Atualmente, Israel concede cerca de três mil autorizações por mês aos palestinos que querem cruzar a passagem de Erez, entre Gaza e o Estado judeu. A maioria é concedida a empresários ou por razões humanitárias críticas.

O Supremo Tribunal recomendou, em 2007, que Israel criasse um comitê para analisar de forma individual os casos de moradores de Gaza que desejassem estudar na Cisjordânia, e considerou exceções para os estudantes cujos estudos possam ter “implicações humanas positivas”. Contudo, até agora, esse comitê nunca foi criado. “Estas mulheres realmente procuram fazer a diferença. Trabalham toda sua vida para sua sociedade e só querem aprender a fazê-lo melhor”, observou Cohen. “Há empresários que vão de Gaza para a Cisjordânia e Israel o tempo todo. Se eles podem, como essas mulheres não podem?”, perguntou.

Para Shehadeh, é importante acabar sua pós-graduação na Universidade de Birzeit, mas também é importante lutar pelo direito dos jovens de Gaza de estudarem livremente na Cisjordânia. “É uma oportunidade para regressar a Birzeit. Creio que pressionando o governo israelense e os que nos impedem de irmos à Cisjordânia assentaremos as bases para que também os jovens possam ir às universidades da Cisjordânia”, ponderou. “Os jovens que querem se formar devem receber permissão e poder frequentar as universidades da Cisjordânia, em Belém, Ramalá, Nablus e Hebron, porque esta é nossa terra. Somos palestinos, temos direito de estarmos lá quando quisermos e pelas razões que quisermos”, ressaltou Shedadeh. Envolverde/IPS