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Projeto petroleiro desata desobediência civil nos Estados Unidos

Michael Brune. Foto: Cortesia de Sierra Club

 

Nova York, Estados Unidos, 19/2/2013 – O termo “desobediência civil” tem suas raízes em um ensaio de 1849 do poeta, filósofo e ambientalista norte-americano Henry David Thoreau, originalmente intitulado Resistência ao Governo Civil. A desobediência civil foi usada nos Estados Unidos como forma não violenta de protesto, especialmente nas décadas de 1950 e 1960. Na manhã do dia 13 deste mês, ativistas se reuniram diante da Casa Branca para realizar um ato de desobediência civil em protesto contra o projeto denominado Keystone XL, um oleoduto a ser construído pela empresa TransCanada.

O oleoduto irá da ocidental província canadense de Alberta até a costa norte-americana no Golfo do México, transportando um milhão de barris de petróleo por dia. Acadêmicos e cientistas alertam que o projeto contribuirá em grande parte para a mudança climática. Vários manifestantes, entre eles o cientista climático James Hansen, o poeta Bob Haas e o advogado Robert F. Kennedy Jr., foram presos por bloquear a principal via pública diante da Casa Branca e se negarem a abandonar o local.

Também estava presente o diretor-executivo da organização ambientalista Sierra Club, Michael Brune. Este foi o primeiro ato de desobediência civil do grupo em seus 120 anos de história, e a primeira vez que seu diretor-executivo foi detido. Brune conversou com a IPS sobre sua experiência no protesto, bem como a respeito das consequências ambientais do oleoduto.

IPS: Pode descrever o que aconteceu na manhã de 13 de fevereiro na Casa Branca?

Michael Brune: Com cerca de 50 líderes comunitários de todo o país, que se opõem tanto às areias asfálticas (das quais se extrai betume para transformar em petróleo) como a outros projetos destrutivos, organizamos um ato de desobediência civil diante da Casa Branca. O objetivo era exortar o presidente Barack Obama a usar tudo o que está ao seu alcance para marcar distância das fontes de energia extremas e aproveitar as renováveis.

IPS: O que faz as areias impregnadas de alcatrão em Alberta e o oleoduto Keystone XL merecerem tanta atenção?

MB: As areias de alcatrão são a fonte de combustível que gera mais carbono no planeta. Seu acesso é difícil e é necessário muita energia para extrair esse petróleo pastoso e denso. Por isto, estamos muito preocupados pela possibilidade de se expandir a exploração dessas areias e ficar quase impossível deter a mudança climática. Pedimos que, em lugar de construir enormes oleodutos que transportam quase um milhão de barris de petróleo diariamente do Canadá para os Estados Unidos, o mesmo dinheiro, cerca de US$ 7 bilhões, seja investido em energia limpa e tecnologias avançadas. Lutamos por isto porque o oleoduto em si é muito destrutivo, além de ser um símbolo do tipo de investimentos que devemos abandonar como sociedade.

IPS: Os defensores do pojeto dizem que serão criados facilmente empregos para uma economia cambaleante. É verdade?

MB: Temos que ser honestos neste debate: são criados empregos na instalação de um oleoduto, e esses empregos são importantes para muitos. Qualquer investimento em energia gera empregos. Abrir uma usina de carvão dá trabalho às pessoas, e instalar um oleoduto também. Porém, se vamos ser honestos com isso, também devemos ser com a perspectiva geral, que indica que podem ser criados mais empregos com a energia limpa do que com os combustíveis sujos. Pelo menos três vezes mais postos de trabalho na energia solar ou eólica do que na do gás, do carvão ou do petróleo. Assim, se o que nos preocupa é a mudança climática, naturalmente que teremos de procurar energias limpas. E, se nos preocupamos com a economia e em gerar empregos, devemos procurar energias limpas também. Os que estão mais na defensiva e resistem a uma transição para as energias limpas são os que se beneficiam de nossa dependência dos combustíveis fósseis.

IPS: O oleoduto atravessa alguma área ambientalmente delicada ou protegida nos Estados Unidos?

MB: Atravessa o Aquífero de Ogallala no Estado de Nebraska (centro), que é um dos principais fornecedores de água potável do país. Também passa por fazendas e propriedades pecuárias, muitas funcionando no mesmo lugar há gerações. Estive algum tempo em Nebraska. As pessoas não querem que nenhuma parte do oleoduto passe por ali. Não acreditam que companhias como a TransCanada e outras tenham direito de colocar em risco suas fontes de água por uma substância que contaminará a atmosfera.

IPS: Quais poderes tem o presidente Barack Obama para resolver esta situação?

MB: Muitos. O presidente pode diretamente rejeitar o oleoduto. O Departamento de Estado atualmente revisa a proposta, para depois apresentar uma recomendação, que é conhecida como Declaração Complementar sobre Impacto Ambiental, e depois o presidente deverá decidir a favor ou contra o oleoduto. Uma pessoa decidirá. Por isto, que estávamos diante da Casa Branca. Envolverde/IPS