Projetos culturais e agrícolas fazem sucesso em escola baiana

O cultivo de ervas medicinais é um projeto de destaque na escola. Foto: Arquivo da escola

No fim de mais um dia de trabalho braçal nos canaviais e demais plantações, os negros se reuniam ao redor de “Zabelinha” para dançar e festejar a lavoura. A tradição que ainda resiste em comunidades quilombolas é revivida por alunos do Colégio Estadual Casa Jovem II, na zona rural de Igrapiúna, a 340 quilômetros de Salvador (BA). O projeto cultural da escola é umas das ações que fazem da escola de turno integral exemplo de gestão escolar bem-sucedida.

“Eu tenho aplicado na escola o que aprendi no curso de pró-gestão escolar, em 1998”, conta o diretor Francisco Cruz do Nascimento, premiado com o diploma de liderança em gestão escolar. “É preciso estabelecer diálogo com a comunidade, fazer atividades que envolvam alunos e pais, e aplicar uma educação com visão regionalizada, contextualizada. Não adianta copiar modelos urbanos”, explica ele. A escola, que atende alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio profissionalizante, conquistou, em 2010, o Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar – ano-base 2009.

Além do resgate da cultura afro com A dança de Zabelinha enrolador, a escola se destacou também com o projeto de cultivo de ervas medicinais. Os pais vão à escola relatar os saberes populares de utilização de plantas como capim-santo, guaco e erva cidreira. Esses saberes são complementados por professores e alunos, que buscam informações científicas para ratificar o uso medicinal das ervas. O próximo passo do projeto é a construção de um laboratório, na própria escola, para a fabricação de óleos com uso farmacêutico.

“A previsão é que esteja pronto no segundo semestre de 2012 e os nossos próprios alunos do curso técnico de agroecologia vão poder trabalhar no laboratório”, entusiasma-se Francisco Cruz. Além da horta com ervas, os alunos também ajudam na produção de hortaliças que são utilizadas na complementação da merenda. Os dois projetos, de resgate da cultura quilombola e do horto medicinal, foram fundamentais para pôr fim à evasão escolar.

A mudança na gestão escolar que envolve a comunidade também procura melhores resultados no rendimento dos alunos. “A nossa média no Ideb, em 2009, foi baixa: 2,9. Estamos nos esforçando ao máximo para alcançar 4,0 agora em 2011”, diz o diretor. Além da Prova Brasil, os alunos participam também de uma avaliação na própria escola para sondar o rendimento escolar.

Segundo o diretor, a maior dificuldade é que são necessários até três anos para a obtenção de um nivelamento das turmas em termos de conhecimento. “Os nossos alunos vêm de classes multisseriadas e quando chegam aqui, no 6º ano, levam um choque grande”, avalia. Aulas complementares e de reforço buscam aumentar a aprendizagem.

Círculo de leitura – O Círculo de Leitura Crítica é um projeto que tem ajudado nesse processo. Clássicos da literatura nacional e universal são lidos e discutidos em sala de aula. Sentados em círculo, os estudantes são incentivados a opinar sobre a obra. E a leitura faz parte da grade curricular, com aula dupla uma vez por semana. A cada ano, pelo menos quatro livros são lidos, discutidos e trabalhados.

Ex-aluna do colégio, Elisângela dos Santos Almeida, 24 anos, é supervisora e multiplicadora do projeto. “Começo a aula recitando uma poesia que tem a ver com o livro que vai ser lido”, diz ela. Por exemplo, se o livro é Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, Elisângela recorre à poesia Nenhum homem é uma ilha, de John Donne. “Usamos a poesia para despertar a atenção dos alunos e depois faço um resumo dos capítulos que já lemos”, comenta.

“Temos notado rendimento quanto à oralidade, mas precisamos investir agora na linguagem escrita, nos textos”, observa o diretor. O projeto tem ultrapassado os limites da escola porque os alunos se interessam, pegam o livro emprestado e levam para ler em casa para os pais, muitos deles analfabetos.

Além dos projetos consolidados, a coordenadora pedagógica Diana Lícia Guerra experimenta outros junto à comunidade escolar. A feira de ciências e o Meu Brasil Africano foram realizados pela primeira vez neste ano letivo. “A feira de ciências empolgou os alunos e emocionou os pais que vieram ver os diferentes trabalhos dos filhos, como energia solar e alimentação saudável”, conta Diana.

Em 2012, o projeto será ampliado e incluirá os alunos do ensino médio. “Todos os nossos projetos interdisciplinares são pensados e discutidos de forma coletiva. Assim fica mais fácil envolver toda a comunidade escolar”, adianta a coordenadora. (Rovênia Amorim)

* Publicado originalmente no Portal do Professor.