Muito embora possa ser doloroso, não é raro que, no cotidiano familiar, os pais se vejam obrigados a barrar os consumos que estejam acima dos limites orçamentários.
A percepção clara e sensata de que não há dinheiro para a compra de um brinquedo mais caro ou para uma viagem especial é algo com o que a maior parte das famílias se vê obrigada a lidar de vez em quando.
Mas as coisas mudam de figura quando o consumo em questão é de alguma coisa bem baratinha. Nesses casos, seja por não estarem atentos ao recado que enviam à prole, seja para evitar as cenas clássicas de birras públicas, os pais cedem sem nem pensar duas vezes.
Vários problemas rondam essas rendições imediatas. O primeiro é que, ao ceder tão facilmente aos apelos das crias exclusivamente por causa do preço, os pais abrem mão de ensinar seus filhotes que o custo não é o único fator a ser considerado na hora do consumo. Avaliar a qualidade do produto e ponderar sobre a pertinência do gasto – não importa se diminuto – são aspectos importantes que devem sempre ser considerados.
Além disso, cedendo sem pestanejar (“mas é tão barato!”) os pais preparam terreno para exigências de valor crescente. Afinal, se a criança se habitua a ver seus pedidos sempre atendidos, dá para imaginar a confusão que será convencê-la a lidar com um “não” mais tarde.
Para evitar que isso aconteça é prudente que os pais se acostumem a exercitar o tempo de espera dos filhos. Para as crianças ainda muito pequenas, que pedem, digamos, um chocolate, funciona bem alguma coisa assim: “Aqui está o seu chocolate. Mas você não vai comê-lo já. Vai esperar 30 minutos.” (Quanto menor a criança, menor o tempo de espera).
Para ajudar os pequenos a visualizar a espera, tornando-a, assim, suportável, basta mostrar o movimento que os ponteiros do relógio terão que fazer para que chegue o momento esperado. “Quando o ponteiro grande estiver em cima do número três você poderá comer o chocolate”. É simplesmente extraordinário como as crianças são fascinadas por esses jogos de espera.
De quebra, esses momentos preparam as crias para que venham, um dia, a atingir a maturidade financeira, que não é outra coisa senão a capacidade de suportar o adiamento dos desejos atuais em função de futuros benefícios.
* Cássia D’Aquino é especialista em educação financeira.
** Publicado originalmente no site Mulheres em Ação da BM&F Bovespa.