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Quando tuitar é a salvação

A destruição causada pelo tsunami que atingiu a Ásia em 2004 resultou ser um catalisador para analisar alternativas de divulgação de alertas. Foto: Amantha Perera/IPS

 

Colombo, Sri Lanka, 4/4/2013 – Pouco depois que o tsunami de 11 de março de 2011 atingiu a cidade de Kesennuma, na província japonesa de Miyagi, Naoko Utsumi, de 59 anos, estava no teto de um centro comunitário tendo o correio eletrônico de seu telefone celular como única conexão com o mundo exterior. Utsumi enviou um email ao seu marido, que por sua vez mandou outro ao seu filho em Londres, a mais de 9.500 quilômetros de distância.

Da capital britânica, o jovem enviou uma mensagem direta por meio da rede social Twitter ao vice-governador de Tóquio, que iniciou as operações de resgate de sua mãe e de outras 400 pessoas, relata o informe Connecting the Last Mile: The Role of Communications in the Great East Japan Earthquake (Conectando a Última Milha: o Papel das Comunicações no Grande Terremoto no Leste do Japão), da Internews.

Esta organização não governamental internacional se dedica a potencializar os meios de comunicação locais e disseminar a informação. Seu estudo analisa o papel das novas mídias, especialmente de redes sociais da internet, como Twitter e Facebook, para comunicação após o tsunami. “Novos meios como Twitter e Facebook desempenham um papel importante na preparação para desastres e nas respostas de emergência, como vimos no Haiti e agora na Síria. Permitem desde informar que uma pessoa está viva até dirigir os sobreviventes para pontos de distribuição de alimentos”, afirmou à IPS o diretor de projetos de informação humanitária da Internews, Jacobo Quintanilla.

Na primeira hora após o tsunami, um usuário do Twitter no sul do Japão criou uma hashtag que depois se converteria na palavra-chave dessa rede social para quem buscava ajuda ou para dirigir a assistência. “Twitter Japão criou hashtags para informações específicas. A internet facilitou as missões de busca e resgate dos sobreviventes perdidos em razão do tsunami”, diz o informe da Internews.

A empresa Google lançou uma ferramenta de busca de pessoas uma hora e meia depois do impacto do tsunami, e permitiu a mobilização de cinco mil voluntários que compartilharam os detalhes de 600 mil registros por um mês e meio, quando a mesma esteve disponível online. O estudo também mostra que as atualizações de status no Facebook ajudaram os sobreviventes, e os socorristas trocaram atualizações pessoais rapidamente.

Mais de 11 mil mensagens de Twitter foram compartilhadas em minutos depois das 14h46 daquele 11 de março, uma diferença abismal em relação às do dia 26 de dezembro de 2004, quando outro tsunami asiático deixou uma esteira de destruição pela Indonésia, passando por Sri Lanka e até a costa sul da Índia. Sobreviventes da aldeia de Maradamunai, no Sri Lanka, disseram aos jornalistas que não tiveram ideia de onde buscar ajuda nem informação sobre as pessoas mortas ou desaparecidas até duas semanas depois do desastre. A devastação causada pelo tsunami de 2004 levou países como Sri Lanka a analisar os mecanismos para divulgar alertas.

O papel dos novos meios de comunicação, durante e depois deste tipo de desastre, concentra a atenção geral de muitos atores. Especialistas do Sri Lanka consideram que a melhor forma de difundir alertas a milhares, ou mesmo milhões de pessoas, de uma só vez é por telefone celular. “As comunicações móveis são as mais efetivas devido à sua penetração”, disse Indu Abeyarathane, gerente de programa sobre respostas e sistemas de alerta, da Sociedade da Cruz Vermelha do Sri Lanka (SLRC), em entrevista à IPS.

Outros especialistas afirmam que as comunicações móveis e por meio da internet podem cobrir uma necessidade em matéria de alertas e melhores previsões em países como o Sri Lanka. “Uma e outra vez houve problemas de comunicação, mais do que erros de previsão ou avaliação de riscos”, disse Lareef Zubair, especialista em clima e pesquisador principal da Fundação para o Meio Ambiente, o Clima e a Tecnologia. “É necessária informação oportuna e adequada, com a possibilidade de os usuários indagarem mais e chegarem até aos geradores de conteúdo”, disse em entrevista à IPS.

O Centro de Gestão de Desastres (DMC), criado por lei em 2005 para supervisionar a resposta em escala nacional, agora tem acesso ao maior provedor de serviço móvel do Sri Lanka, o Dialog, para enviar mensagens aos seus milhões de clientes. A última vez que usou o sistema de mensagens foi em 12 de abril de 2012, quando zonas costeiras foram evacuadas por um alerta de tsunami.

“É efetivo em certas circunstâncias”, disse Sarath Lal Kumar, subdiretor do DMC, acrescentando que a efetividade de outros meios como Twitter e Facebook depende tanto da localização geográfica quanto de quais sejam as pessoas em maior risco. Mesmo no Japão foram menos efetivos quando as vítimas eram pessoas mais velhas que quase não usavam os novos meios de comunicação.

O estudo da Internews diz que, apesar de seu potencial, a efetividade das comunicações móveis e pela internet estará determinada pela disponibilidade de energia e pela penetração dessas tecnologias na sociedade. No Sri Lanka, com penetração da internet de 11%, seu alcance é insignificante fora dos centros urbanos, pontuou Kumar. As autoridades utilizam diversos meios para divulgar os alertas, por exemplo, unidades policiais com megafones, como em abril de 2012, torres de alerta, unidades regionais do DMC, e ainda recorrem a outras agências como a Cruz Vermelha.

Abeyarathane explicou que foi difícil determinar qual método funcionava melhor. Era essencial combinar o velho com o novo, especialmente em países como Sri Lanka, onde a disponibilidade de tecnologia difere amplamente de um lugar para outro. Ele e Kumar coincidem em que, embora seja bom melhorar as capacidades de alerta mediante torres e telefones celulares, também é importante alertar por meios tradicionais, como o rádio e a televisão. “Sempre são enfoques com plataformas e canais múltiplos”, destacou Quintanilla. Envolverde/IPS