7 de abril é o “dia do jornalista”, uma profissão necessária para a sociedade e em xeque sob o ponto de vista de seu exercício e do financiamento aos meios de comunicação
Alguns desafios estão postos para as pessoas que vivem do jornalismo. Talvez os principais, mas certamente não os únicos, são a questão da exigência ou não de um diploma de graduação em jornalismo para o exercício da profissão, a integração do exercício profissional às grandes transformações impostas pela internet e pelas mídias sociais e, também, o modelo de negócios exaurido das empresas de mídia.
Em relação ao diploma acredito que é mais do que necessário, mas não como o único caminho para a formação de jornalistas. Para mim o jornalista pode ser um profissional graduado em comunicação social ou um graduado em qualquer outro curso superior com especialização em jornalismo. Ou seja, duas portas de entrada para a profissão. Nos próximos dias haverá uma nova regulamentação para a profissão e a tendência é que seja aprovada a exigência de graduação em jornalismo para o exercício da profissão. Menos mal, porque o que não poderia continuar é o jornalismo como profissão auto-declaratória.
Em relação à internet e às mídias sociais a questão é mais complexa. Afinal, o direito de opinar é universal. No entanto, como formar opinião e tomar decisões com base em informações desencontradas e eivadas de preconceitos e desinformação? A mediação de um jornalista oferece alguma segurança em relação à informação que se está consumindo. Mas essa mediação não precisa necessariamente estar em um veículo tradicional, seja de forma impressa, televisiva ou internet. O jornalista precisa aprender a se mover com desenvoltura nas mídias sociais, principalmente porque ele ´um dos poucos profissionais preparados para trabalhar com a multiplicidade de informações e meios de forma a extrair aquilo que efetivamente tem valor como informação.
Outro motivo para que o jornalista deva saber como se movimentar na internet é o fato de que as mídias convencionais estão em crise. E não é uma crise política, mas uma desconstrução do modelo de negócio do jornalismo. Há uma perda de espaço da informação jornalística, aquela que aborda a política, a economia e o comportamento de forma crítica e factual, por uma nova forma de comunicação que sugere ser jornalística, mas é uma construção de entretenimento travestida de jornalismo.
Na TV esse novo modelo tem conseguido grandes audiências. Trata basicamente de temas popularescos e capazes de prender a atenção do público a partir de abordagens sórdidas e pouco comprometidas com o papel social da mídia. Na mídia escrita, principalmente jornais e revistas, a questão do modelo de negócios é mais grave. Os leitores estão migrando de meios, do papel para a internet. E aqui quero fazer um parêntese: não acredito no fim da mídia impressa pela simples existência da internet.
É preciso compreender qual o papel do jornalismo na sociedade do século 21 e os meios que serão utilizados pela sociedade para se informar e validar as informações que consome. A degradação do modelo de negócios tradicional das empresas de mídia está exposta em suas próprias páginas, com o registro de títulos sendo extintos e postos de trabalho de jornalistas sendo fechados às centenas.
Uma constatação comum é que o jornalismo de qualidade custa caro. É caro fazer uma investigação, mandar um repórter para o interior da Amazônia, deixar um profissional por semanas chafurdando arquivos em busca de provas, montar uma equipe capaz de produzir conteúdos e transcrevê-los em uma publicação com excelência de design e gráfica. E essa é a questão principal do jornalismo dos nossos dias, não há um modelo de negócio capaz de financiar esses projetos simplesmente porque é mais barato financiar entretenimento e os resultados sob o ponto de vista de retorno comercial são maiores.
Uma frase que circula entre jornalistas explica um pouco desse dilema: “Existem dois tipos de jornalismo, aquele que investiga e publica as coisas que a sociedade precisa saber e aquele que publica o que a sociedade quer saber”. É muito mais fácil e cômodo trabalhar com o segundo tipo, que vai em busca da reação fácil, do riso ou das lágrimas pré-fabricadas. O difícil e muitas vezes caro, tanto em dinheiro como em impacto pessoal para o profissional de jornalismo, é desnudar os fatos que a sociedade precisa e tem o direito de saber.
O momento histórico deste início de século 21 coloca o jornalista frente a questões que ainda ensejam poucas respostas objetivas. Pode-se imaginar o jornalista do início do século 20, que viu o rádio tornar a comunicação com o público instantânea, sem a necessidade em uma gráfica, uma distribuição capaz de levar exemplares para pontos distantes e sem muitas das limitações da mídia impressa.
No entanto, pensar no modelo de negócio do jornalismo leva necessariamente a pensar no modelo de financiamento á informação existente (ou não existente) no Brasil. O artigo 5º da Constituição da República, que se refere ao Direito à Informação, diz o seguinte:
Art. 5o É dever do Estado garantir o direito de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão.
Ou seja, estar informado é um direito constitucional. O único, no entanto, que não vem acompanhado de uma garantia na Constituição Brasileira. Aliás, o artigo 5º da Constituição é formado por uma solitária linha e não tem nenhum parágrafo ou adendo. A informação no Brasil é financiada basicamente pelo mercado publicitário, que tem suas próprias regras e prioridades. O interesse de anunciantes não necessariamente se coaduna com o interesse da informação jornalística, principalmente quando ela está caracterizada como uma informação de impacto sobre o status quo econômico.
As agências de publicidade que atuam no Brasil conseguiram implantar modelos de negociação com as empresas de comunicação que garantem vantagens para os anunciantes se concentrarem as verbas em umas poucas mídias. As métricas são “custo por mil”, ou seja, o menos custo de veiculação de publicidade para cada mil pessoas atingidas. Quanto mais público melhor. Essa é uma lógica perfeitamente clara sob o ponto de vista do anunciante, mas muito perversa sob o ponto de vista do jornalismo, uma vez que há temas absolutamente relevantes para a sociedade que não são exatamente um “campeão de bilheteria”. Outra invenção dessa relação entre agências e grandes mídias é o “BV”, bônus de veiculação, ou seja, quanto maior for a concentração de publicidade em uma mesma empresa de mídia, melhores são as bonificações e descontos.
Esse modelo de financiamento aos projetos jornalísticos não oferece espaço para uma diversidade significativa nos títulos à disposição da sociedade e acaba pressionando as empresas publicadoras a trabalharem muito abaixo das necessidades de investimento na produção dos conteúdos jornalísticos oferecidos à sociedade. O impasse já está estabelecido.
O jornalismo vem se reinventando, na forma, no conteúdo, e na maneira de se financiar. Ao que parece também no jornalismo não teremos mais soluções únicas, exclusivas e capazes de resolver os problemas de forma universal. Há muitas iniciativas de busca de financiamento através de apoios de organizações sociais, crowdfunding, iniciativas sem fins lucrativos e mesmo empresas que buscam no jornalismo um negócio.
Nesse meio cumpre perguntar “qual é o papel do jornalista?”, “qual a formação que deve ter?” “qual seu espaço profissional?”, “que tipo de representação profissional necessita?”
Nunca o jornalista foi tão necessário para a sociedade e poucas vezes a profissão esteve tão ameaçada como agora. (#Envolverde)