Série inglesa premiada pela revista Science por seu trabalho de ensino e divulgação científica ganha episódios no Brasil e tradução para o português.

O que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, tem a ver com química? Com visual de cientista maluco – cabelos desgrenhados, óculos e gravata estampada com a Tabela Periódica –, o químico inglês Martyn Poliakoff explica: pedra-sabão. O monumento foi esculpido em um material quimicamente muito próximo do talco, derivado do silicato de magnésio. Gravado no Corcovado, o vídeo com a lição é um dos 329 que Poliakoff já realizou em parceria com o videojornalista Brady Harman e outros sete químicos da Universidade de Nottingham, na Inglaterra. Desde 2008, eles produzem para a internet a série The Periodic Table of  Videos (A Tabela Periódica dos Vídeos), na qual explicam, em episódios bem-humorados de cinco minutos, os elementos químicos.

A linguagem acessível tornou o projeto um hit – um vídeo, sobre o álcool, já teve 250 mil visualizações. Em junho, o inglês de 63 anos recebeu o Prize for Online Resources in Education, da revista Science, em reconhecimento ao trabalho de divulgação científica na rede. Além dos elementos da Tabela, Poliakoff e Harman comentam atualidades, como o acidente nuclear de Fukushima, e curiosidades como o efeito do Viagra ou a digestão de sanduíches.

Nos episódios feitos no Brasil, são abordados também a areia de Copacabana e as árvores brasileiras do Jardim Botânico, mas eles não são a única ligação dos ingleses com o país. Parte do The Periodic Table of Videos ganhou legendas em português graças ao brasileiro Luis Brudna.

Divulgação científica

Professor de química da Universidade Federal dos Paxmpas (Unipampa), Brudna, 36 anos, conheceu o trabalho de Poliakoff por acaso, quando esbarrou em um vídeo no YouTube. O gaúcho, que costuma apresentar vídeos em suas aulas, procurou a equipe e se voluntariou para tornar o material acessível para aqueles que não dominam o inglês. Com o sinal verde dos ingleses e utilizando o próprio sistema de closed caption do YouTube  – “legenda oculta”, geralmente usado para facilitar a compreensão de deficientes auditivos  – Brudna já legendou 160 vídeos.

“Não sou especialista em tradução, mas um químico que entende bastante inglês”, explica ele, que leva cerca de uma hora para legendar cinco minutos. Brudna não é remunerado pelo serviço, mas os vídeos traduzidos e organizados no site Tabela Periódica (www.tabelaperiodica.org) fazem parte do projeto de divulgação científica mantido por ele e por outros cinco pesquisadores. Entusiasta da rede há 12 anos, Brudna costuma legendar nas horas vagas. “Divulgação científica é o meu hobby”, explica.

* Publicado originalmente no site da revista  CartaCapital.