Daca, Bangladesh, 7/3/2012 – “Bem-vindos à Rádio Krishi. Estão ouvindo a 98.8 FM, a apresentadora Shahnaz Parvin”, ouve-se através dos telefones celulares e dos aparelhos receptores da população no distrito costeiro de Barguna, a 340 quilômetros da capital de Bangladesh. Parvin apresenta seu convidado da tarde, Ama Chandra Sarker, agricultor de 40 anos que conta como obteve boa colheita cultivando uma nova variedade de legume resistente ao solo salino, criada por cientistas do país.
Em entrevista de dez minutos, Sarker conta aos ávidos ouvintes, a maioria também agricultores, como conseguiu cultivar “mugh” (lentinha) em um solo abandonado durante anos devido à penetração salina. “Fiquei sabendo pelo serviço de informação agrícola que existia a Bari-6, uma nova variedade de lentinha criada há pouco, com excelente resistência à salinidade, e me arrisquei”, detalhou Sarker, enquanto os telefonemas não paravam.
O programa diário de duas horas se concentra nos muitos problemas que os agricultores enfrentam nesta região, especialmente inundações e a penetração salina que obrigou milhares de pessoas a abandonarem suas tradicionais terras de cultivo. Desde novembro de 2011, quando a Rádio Krishi (agricultura) começou a divulgar a opinião de especialistas, cresce a esperança de que boa parte das terras abandonadas em seis distritos costeiros possa ser recuperada para os cultivos.
Os apresentadores da emissora costumam falar frequentemente sobre as melhores práticas de cultivo e incentivam os produtores a ficarem em suas terras, apesar das consequências da mudança climática que já se fazem sentir. O Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) previu que 17% da região de delta de Bangladesh ficará submersa pelo mar até 2050, e vários milhões de pessoas serão obrigadas a abandonar a zona costeira.
Aproximadamente, 75% dos 145 milhões de habitantes de Bangladesh dependem da agricultura, por isto as autoridades são sensíveis às situações ou aos acontecimentos que prejudiquem os cultivos. “Assessoramos os agricultores sobre como utilizarem suas terras diante da crescente salinidade que causa enormes prejuízos na região costeira”, explicou Zakia Sultana Baby, uma funcionária que os visita regularmente. “Agora as visitas e demonstrações podem diminuir porque explicamos cada elemento do cultivo de uma nova variedade nos programas da rádio”, acrescentou.
O gerente da emissora, Mohammad Sharif Iqbal, destacou que “a agricultura é o setor mais afetado pela assassina silenciosa”, uma referência à mudança climática. “Pensamos que seria uma excelente ideia realizar programas especiais para os agricultores”, acrescentou. O Departamento de Agricultura local começou organizando uma série de programas para criar consciência, distribuiu folhetos e realizou anúncios para informar à comunidade, integrada principalmente por pescadores e agricultores, sobre o novo serviço da Rádio.
“Consegui plantar Bina-7dhan, uma variedade de arroz resistente à salinidade. Fiquei animado ao ouvir colegas na rádio Krishi dizerem que tiveram uma boa colheita”, afirmou Mohammad Haroon. Mais de cem agricultores do distrito de Barguna pertencem a um clube que sintoniza regularmente a emissora comunitária e participa de discussões ao vivo.
“No começou foi difícil, mas logo começaram a responder e a chegar montanhas de consultas”, disse Jahangir Alam, diretor de projeto da Rádio. “A emissora era muito necessária nessa localidade isolada, onde o acesso à informação é limitado e o fornecimento elétrico é irregular, por isso fica descartado assistir televisão”, afrimou Alam à IPS. Segundo ele, foi de grande ajuda os telefones celulares poderem sintonizar FM. “A rádio Krishi chega a mais de 60% do público-alvo em um raio de 17 quilômetros”, acrescentou.
Os programas ficaram tão populares que a partir do mês que vem a emissora, onde trabalham dez pessoas, prevê estar no ar outras quatro horas, divididas entre começo da manhã e meio da tarde. “Apesar de se chamar Rádio Krishi e visar principalmente aos agricultores, também tem programas que tratam de problemas sociais de saúde, planejamento familiar, pesca, educação, adolescência, direitos humanos, nutrição e questões legais”, explicou Sharif.
A emissora prevê servir à comunidade de pescadores que está nos arredores do porto de Kua Kata, a 25 quilômetros por estrada do distrito de Barguna. “É uma área onde queremos nos concentrar. Quando o mar fica bravo, a vida dos pescadores corre risco. Por isto, transmitimos regularmente boletins meteorológicos especiais e pedimos que os pescadores respeitem as normas de segurança”, destacou Atiar Ferdus, um voluntário de 24 anos.
Com fundos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Rádio foi instalada em um terreno cedido pelo conselho local do povoado de Amtali. O custo chegou a US$ 300 mil. “A crescente popularidade da emissora se deve ao fato de atender realmente às necessidades da comunidade camponesa”, ressaltou à IPS o presidente do conselho do povo, Salauddin Ahmed. Em Bangladesh há 14 rádios comunitárias no ar. Cada uma se concentra nas necessidades de uma comunidade e estão agrupadas na Rede de Organizações Não Governamentais de Rádio e Comunicação.
* Este artigo foi produzido com apoio da Unesco (www.unesco.org/new/es/unesco).