Havana, Cuba, 20/4/2011 – Acompanhado surpreendentemente pelo líder histórico Fidel Castro, seu irmão Raúl encerrou ontem o VI Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), com um chamado para “mudar tudo o que deve ser mudado”, mas sem se afastar do rumo socialista escolhido em 16 de abril de 1961. “Terminou o Congresso, agora é trabalhar”, foi a frase de despedida do presidente de Cuba, Raúl Castro, para os quase mil delegados que se reuniram nos últimos quatro dias em Havana e o elegeram novo primeiro-secretário do governante PCC.
“Assumo minha última tarefa com a firme convicção e o compromisso de honra de que o primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba tem como missão principal e sentido de sua vida defender, preservar e prosseguir aperfeiçoando o socialismo e não permitir jamais o regresso do regime capitalista”, afirmou em seu discurso.
Com essa declaração de princípios, o presidente do Conselho de Estado reconheceu sua vontade de encabeçar o que chamou de processo necessário de renovação dos postos fundamentais, tanto no partido como no governo, como parte de uma política permanente que vai além do necessário rejuvenescimento atual.
No que foi considerado um exemplo de “verdadeira democracia”, o VI Congresso aprovou as Diretrizes da Política Econômica e Social, após um processo de vários meses que envolveu mais de 8,9 milhões de pessoas e culminou com adendos e novas modificações nas comissões do Congresso. Após mais de três milhões de reuniões de base, apenas 94 diretrizes do projeto original de 291 permaneceram inalteradas. Finalmente, o processo culminou com um documento de 313 pontos.
No tocante aos novos integrantes do Comitê Político e do Comitê Central do Partido, eleitos no encontro, há diferenças importantes entre um e outro. No Comitê Central pode-se ver mudanças, consideradas “um primeiro passo” para o que Castro chama de “processo gradual de renovação e rejuvenescimento da cadeia de cargos políticos e estatais”.
Na eleição dos 115 membros desse órgão houve melhor representatividade por gênero e raça. As mulheres passaram a ocupar 41,7% dos cargos, de 13,3% anteriormente, e as pessoas negras e mestiças aumentaram em 10% sua presença, com 31,3%. Por outro lado, a “renovação” nesses aspectos mal tocou o Comitê Político. A maioria de seus 15 novos integrantes pertence à geração histórica, incluído o novo segundo-secretário, o vice-presidente José Ramón Machado Ventura, e apenas uma mulher passou a integrá-lo.
Embora Castro não tenha dado a média de idades, assegurou que boa parte do novo Comitê Central do PCC é de jovens, graduados universitários e especialistas qualificados, de procedência operária, com vida política ativa e experiência de mais de dez anos, sem abandonar o trabalho em suas profissões. Além disso, a proposta de limitar a dez anos o tempo que uma pessoa pode permanecer em um cargo de máxima responsabilidade, apresentada pelo presidente no Informe Central ao Congresso, será levada à próxima Conferência Nacional do Partido, em 28 de janeiro de 2012.
A frase “Mudar o Que Deve Ser Mudado”, incluída no conceito de revolução elaborado por Fidel Castro, também será “o espírito” da Conferência, que se propõe a “avaliar com objetividade e senso crítico o trabalho do partido” e determinar as transformações necessárias para que possa manter sua liderança na sociedade. “Fidel é Fidel, e não precisa de nenhum cargo para ocupar, para sempre, um lugar mais alto na história, no presente e no futuro da nação cubana”, disse Raúl Castro ao se referir ao “primeiro exemplo” dado pelo ainda reconhecido como Comandante em Chefe, quando pediu para não ser incluído na disputa pelo Comitê Central.
O “presente” da presença no encerramento do mais alto dirigente do PCC desde sua fundação em 1965 surpreendeu os delegados, segundo as imagens transmitidas ao vivo pela televisão nacional. Contrariamente ao que sempre se espera dele, Fidel Castro não fez uso da palavra durante a sessão de ontem, que durou menos de duas horas. Porém, sua opinião esteve presente com a publicação de várias de suas Reflexões, como se chama a coluna de opinião que se converteu em sua principal tribuna desde que deixou os cargos públicos por questão de saúde em 2006. “Quanto menor for um país e mais difíceis forem as circunstâncias, mais obrigado está a evitar erros”, alertou Fidel no dia 18.
Em sua aparição anterior em público este ano, o histórico chefe da Revolução Cubana se reuniu, em fevereiro, com intelectuais que participaram em Havana da Feira Internacional do Livro. Esse encontrou sucedeu ao realizado em 17 de novembro com várias dezenas de alunos, diretores e dirigentes do movimento estudantil para evocar seu discurso feito cinco anos antes no qual alertava sobre o perigo de os desvios internos tornarem reversível a Revolução e sobre graves ameaças que afetam a humanidade.
Seguindo a linha de raciocínio de seu irmão, Raúl Castro ratificou a ideia de que “o principal inimigo” do caminho para a atualização do modelo econômico e social cubano, que começa com o Congresso, serão “nossas próprias deficiências”. Devemos ter os “pés no chão e os ouvidos bem atentos” para superar os obstáculos e os erros e nunca esquecer que uma “tarefa de tamanha dimensão para o futuro da nação não poderá admitir improvisações nem pressa”, acrescentou.
Convencido de que Cuba está entre o reduzido número de países do mundo com as condições para “transformar seu modelo econômico e sair da crise sem traumas sociais”, Raúl Castro alertou que esta “atualização” não será feita da noite para o dia e exigirá muito trabalho, tanto no plano jurídico quanto no executivo. Para alcançar o sucesso, afirmou, a primeira coisa que “modificará a vida” partidária “é a mentalidade, que é como uma barreira psicológica”. Isto é o que mais trabalho dará para ser superado, “por estar atada durante longos anos aos mesmos dogmas e critérios obsoletos”, disse Raúl Castro. Envolverde/IPS