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Reabilitação para mutilados de guerra

Peshawar, Paquistão, 2/2/2012 – A longa guerra contra o terrorismo encabeçada pelos Estados Unidos deixou uma multidão de deficientes no Paquistão e obrigou o governo a criar um plano de reabilitação, que incluirá capacitação vocacional.

O programa começará em março compilando dados sobre a quantidade de pessoas com lesões causadas pela guerra nas Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata) e na vizinha província Khyber Pakhtunkhwa (ex-Província da Fronteira Nordeste), explicou Mahboob ur Rehman, diretor do departamento de fisioterapia do Complexo Médico de Hayatabad, em Peshawar, capital da província. “Planejamos melhorar os serviços de reabilitação física para as vítimas do terrorismo para evitar que fiquem deficientes para sempre”, disse à IPS.

O conflito armado de uma década deixou milhares de mutilados por explosões, bombas e ataques de aviões não tripulados. A maioria das vítimas precisa de próteses e ortopedia para voltar a caminhar, disse Rehman. Com base em estatísticas dos hospitais estatais, acrescentou que 35 mil pessoas morreram na guerra e 60 mil ficaram gravemente feridas e cerca de dez mil pacientes precisam de reabilitação.

Mohammad Haris, cirurgião ortopédico do Hospital Lady Reading de Peshawar, disse que há mulheres, crianças e idosos que perderam membros e estão imobilizados. “Precisam de cadeiras de rodas, muletas e outro tipo de ajuda. A maioria é pobre e não pode pagar uma cara reabilitação nas instituições privadas”, acrescentou. Muitas ignoram que os hospitais estatais e oficinas ortopédicas ofereciam tratamento, ressaltou.

Irfanullah, de 22 anos, perdeu as duas pernas em um ataque com morteiro no Waziristão do Norte em outubro de 2011,, e espera o ansioso o início do programa. “Preciso de prótese para andar e cuidar da frutaria da família. “Meu pai, gravemente ferido há um mês, teve amputada a perna esquerda e também precisa de uma”, disse.

Shagufta Bibi, de 38 anos e três filhos, teria ficado incapaz de se mover não fosse pela prótese que recebeu. “Estava sentada no jardim de casa quando um talibã jogou uma granada e me feriu gravemente na perna direita”, disse a mulher originária de Swat.

O movimento islâmico afegão Talibã se refugiou nas áreas tribais do Paquistão após ser expulso em 2001 de Cabul pela força militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos Estados Unidos. Uma vez ali, começou os ataques contra forças paquistanesas, mercados e prédios estatais para impor sua ideologia fundamentalista.

O novo programa, com orçamento de US$ 1,2 milhão, cobrirá, entre outros custos, os de prótese e cadeiras de rodas. O governo japonês prometeu acessórios no valor de US$ 2 milhões, que serão entregues gratuitamente.

“Decidimos contratar fisioterapeutas e especialistas em ortopedia nos hospitais dos distritos de Khyber Pakhtunkhwa e Fata. O processo de recuperação começa com a intervenção cirúrgica, a reabilitação médica e física e inclui capacitação vocacional e apoio para buscar trabalho”, explicou um funcionário. Os hospitais já têm instalações de fisioterapia, mas a reabilitação de paraplégicos e hemiplégicos só é possível com apoio de organizações privadas especializadas.

Os departamentos de Saúde, Bem-Estar Social e de Mulheres, bem como organizações religiosas de benemerência também colaboram com a iniciativa.

A necessidade de um programa desse tipo ficou evidente pela primeira vez após o terremoto de 2005, que deixou milhares de pessoas gravemente feridas. Programa vinculará fisioterapeutas com especialistas em cirurgia, ortopedia, neurocirurgia e outras disciplinas em hospitais especializados. Será criado um centro de reabilitação com 20 leitos no Complexo Médico de Hayatabad para pacientes com paralisia. No momento não há unidade interna de recuperação no setor público, embora exista um centro, muito limitado, para atender essas pessoas.

O Complexo de Fisioterapia Habib, uma instituição privada com 15 leitos e uma unidade para atender apoplexias, assinará um acordo com o governo para coordenar o trabalho de instituições públicas e privadas. Milhares de crianças que ficaram com sequelas de poliomielite também poderão se beneficiar do programa, segundo as autoridades.  Envolverde/IPS