Cidade do México, México, 8/8/2012 – Isabel Becerril foi com alguns amigos ao Mercado de Troca da capital mexicana para trocar 40 quilos de resíduos recicláveis por verduras, doces e plantas. “É a primeira vez que venho, e gostei”, disse à IPS esta estudante, com uma sacola ecológica na mão. Deste modo, “é incentivada a separação do lixo”, observou Becerril, de 20 anos, que cursa desenho gráfico na Universidade Autônoma Metropolitana.
O Mercado de Troca, que desde março acontece no primeiro domingo de cada mês no Bosque de Chapultepec, na zona oeste da Cidade do México e que é sua maior fonte de oxigênio, é uma nova ideia forjada entre grupos de fornecedores e o Ministério do Meio Ambiente (SMA) do governo distrital. Provenientes das demarcações territoriais de Milpa Alta, Xochimilco, Cuajimalpa, Tlàhuac e de municípios vizinhos do Estado do México, os agricultores oferecem tomate, batata, alface e limão, entre outros alimentos, em troca de papel, papelão, vidro, alumínio, garrafas PET e aparelhos eletrônicos.
O mecanismo é simples. Em uma grande tenda branca, funcionários da SMA e voluntários recebem os dejetos dos consumidores em 20 mesas, pesam e entregam uma papeleta para que possam ir a uma das barracas onde recebem bilhetes de plástico, que representam os pontos obtidos. Com esse dinheiro virtual no bolso, os consumidores passam para a área de venda, onde adquirem as mercadorias em troca desses pontos. Por exemplo, um quilo de PET equivale a 24 pontos, um quilo de alumínio a 16 pontos, um quilo de papelão ou vidro a três pontos. As equivalências das verduras são semelhantes, pois com 20 unidades pode-se comprar meio quilo de tomate ou batata.
O projeto “é um sucesso para os produtores”, afirma Erick Izquierdo, da Cooperativa Terra Nova, fundada em 2011 para assessorar os produtores em boas práticas agroecológicas. “A intenção é que as pessoas conheçam os camponeses, vejam o que produzem e valorizem seu trabalho”, afirmou à IPS. Em Xochimilco, uma das 16 divisões administrativas da capital mexicana, Izquierdo cria coelhos e codornas e cultiva ameixa, abacate e alface.
No México, a reciclagem ainda é uma questão menor. Das mais de 40 milhões de toneladas de lixo geradas anualmente no país, apenas 15% são recicladas, enquanto, particularmente na capital, que gera 13 mil toneladas de lixo sólido por dia, essa taxa é de 12%. Os produtores participantes asseguram a distribuição de suas mercadorias e uma renda adequada, desembolsada pelo SMA. O setor de reciclados também se beneficia, pois o material coletado é levado a uma empresa que o processa e o deixa pronto para uso industrial.
A Lei de Resíduos Sólidos do Distrito Federal da Cidade do México, de 2003, estabelece a separação obrigatória dos lixos orgânico e inorgânico, para seu manejo e reciclagem. O projeto foi um sucesso desde sua concepção, pois mais de 20 mil pessoas visitaram o Mercado, com um intercâmbio superior a 70 toneladas de resíduos para mais de 41 toneladas de frutas, vegetais, lácteos e plantas, segundo o SMA.
Jorge Godoy, assíduo frequentador do lugar desde seu começo e que cultiva alface, batata e salsinha, vendeu no dia 5 toda sua carga de mais de cem quilos. “Foi uma boa venda, é um dinheiro que me ajuda bastante”, disse à IPS este agricultor de 27 anos, que trabalha em um terreno de um hectare no povoado de San Gregorio Atlapulco, em Xochimilco.
Os preparativos começam no dia anterior à troca, com pesagem e transporte dos produtos. Às seis horas da manhã do primeiro domingo de cada mês os produtores começam a se instalar no Bosque de Chapultepec, o maior da América Latina com seus 686 hectares e que significa “morro do chapulín” (grilo) em língua náhuatl. As operações começam às oito da manhã e duram enquanto houver produtos. Entre uma feira e outra, os vendedores se preparam para ter oferta disponível para a seguinte, além de colocarem frutas, verduras e vegetais em outros mercados.
Desde a abertura do Mercado de Troca, se forma uma longa fila de pessoas com seus materiais. O trabalho nas mesas é frenético, um ritmo que pouco se altera na área de venda de produtos. Na entrada, um cartaz lembra: “Não jogue fora o que ainda tem valor, melhor trocar”. Nos depósitos do material já separado, outro grupo trabalha para encher os caminhões de transporte.
A enfermeira aposentada Lourdes García madrugou para entregar seu lote de vidro e PET. “É a primeira vez que venho, ouvi sobre o Mercado quando começou, e passei a juntar o lixo e agora decidi vir”, contou à IPS esta mulher de 60 anos, que optou por adquirir plantas ornamentais. Como não pode crescer indefinidamente, o Mercado enfrenta a questão de como ampliar sua operação. “Chegamos a um limite, e o passo seguinte seria fazê-lo itinerante ou replicar em outros locais”, opinou Izaquierdo. No México há mais de 20 mercados ambulantes e de bens orgânicos, uma modalidade em expansão.
Os produtores e o SMA negociam para criar o Cartão Pró-Verde, com o qual obteriam descontos na aquisição de equipamentos agrícolas ou peças de reposição. Uma alternativa se baseia na possibilidade de o governo da capital certificar os agricultores orgânicos, para reconhecer suas práticas agroecológicas. Isabel Becerril ficou com vontade de retornar ao Mercado de Troca. “É uma boa ideia, porque gera benefícios para o consumidor e o produtor”, ressaltou. Envolverde/IPS