Nova York, Estados Unidos, 10/3/2015 – A cobertura da mídia sobre os direitos de saúde materna, sexual e reprodutiva é crucial para alcançar os objetivos internacionais de desenvolvimento, mas as e os jornalistas que cobrem esses temas frequentemente enfrentam obstáculos consideráveis. Em reconhecimento à contribuição jornalística dos direitos das mulheres e meninas, a organização internacional Women Deliver destacou a dedicação às questões de gênero de 15 jornalistas, por ocasião do Dia Internacional da Mulher.
Entre os jornalistas que a Women Deliver reconheceu, no dia 5 deste mês, por seu trabalho está a correspondente da IPS na Índia, Stella Paul, por suas reportagens sobre os abusos contra os direitos das mulheres mediante artigos sobre temas como “as escravas do templo” e as trabalhadoras em servidão.
A dedicação de Paul aos direitos das mulheres não se reflete apenas no jornalismo. Quando entrevista suas fontes também as ensina como denunciar os abusos às autoridades e exigir delas medidas para romper o ciclo de violência. Paul também é uma sobrevivente do infanticídio.
“Quando era bebê adoeci e alguns familiares decidiram que eu deveria morrer porque não era do sexo masculino”, contou à Women Deliver. “Décadas mais tarde, me sinto inspirada pelo valor da minha mãe, e de um sem número de outras mulheres, para expor e acabar com a violência e a desigualdade de gênero”, explicou Paul.
Entre outros, o artigo de Paul sobre o trabalho em condições de servidão na cidade indiana de Hyderabad teve consequências tangíveis nas vidas das mulheres que entrevistou.
Em julho, Paul escreveu em seu blog sobre como Sri Lakshmi, uma das mulheres que apareceu em seu artigo Sem outra opção a não ser trabalhar sem pagamento, foi libertada da servidão por seu empregador depois que uma pessoa leu a matéria da IPS e tomou medidas a respeito. A filha de Lakshmi, Amlu, que no passado fazia trabalhos domésticos enquanto seus pais trabalhavam, agora frequenta a escola primária.
Outra jornalista distinguida é Mae Azango, da Libéria. “Mae Azango merece um prêmio Pulitzer. Fez um trabalho encoberto para investigar a mutilação genital feminina na Libéria”, explicou à IPS a diretora da Women Deliver, Katja Inversen.
“Depois da publicação da matéria, recebeu ameaças de morte e, junto com sua filha, foi obrigada a se esconder. A valentia de Mae deu seus frutos, já que seu artigo chamou a atenção internacional e levou o governo da Libéria a proibir a concessão de autorização às instituições onde se realiza essa prática horrorosa”, acrescentou Inversen.
“Dizer a verdade sobre a mutilação genital feminina em meu país tem sido algo perigoso durante muito tempo. Mas pensei que valia a pena arriscar minha vida porque os cortes custaram a vida de tantas mulheres e meninas, algumas de apenas dois anos”, afirmou Azango à Women Deliver.
Iversen afirmou que muitos dos jornalistas reconhecidos demonstraram uma dedicação assombrosa em seu trabalho. “Para alguns de nossos jornalistas, apenas cobrir temas considerados culturalmente tabus, como os direitos reprodutivos, a violência doméstica ou a agressão sexual, pode ser suficiente para colocá-los em perigo”, acrescentou.
Apesar de sua dedicação, os e as jornalistas continuam enfrentando obstáculos na redação. “Uma das perguntas que fizemos aos jornalistas foi o que falta para levar os temas de saúde das meninas e mulheres às primeiras páginas dos jornais”, disse Iversen. “Quase todos responderam que precisamos de mais jornalistas mulheres em posições de liderança e decisão em nossas redações. O jornalismo, como muitos outros setores, continua dominado pelos homens, o que pode ser um grande obstáculo para a publicação de artigos” sobre essa temática, acrescentou.
Porém, o problema é mais profundo. Há uma falta de reconhecimento de que o abuso e a omissão dos direitos de saúde de mulheres e meninas também atentam contra os direitos humanos, e que combatê-los é essencial para conseguir o desenvolvimento de toda a sociedade. Isso implica que frequentemente a saúde das mulheres é vista como uma “notícia secundária” que, ao contrário das notícias políticas ou econômicas, não é digna de uma manchete na primeira página.
“Lamentavelmente, a saúde e o bem-estar das mulheres continuam sendo, em sua maior parte, tratados como notícia secundária, embora quando as mulheres lutam para sobreviver também o fazem por suas famílias, comunidades e nações”, destacou Iversen.
“Calcula-se que a cada dia 800 mulheres morrem durante a gravidez ou o parto, que 31 milhões de meninas não estão matriculadas na escola primária e que o casamento precoce continua sendo um problema generalizado em muitos países. Esses não são assuntos apenas de mulheres, mas de todo o mundo, e as e os jornalistas que distinguimos ajudam os leitores a compreender esse vínculo”, pontuou Iversen.
“Os problemas de saúde das mulheres chegarão às primeiras páginas quando os líderes políticos e os meios de comunicação fizerem a ligação entre a saúde das meninas e das mulheres com o desenvolvimento socioeconômico e a produtividade, com os resultados educacionais dos meninos e com a estabilidade política dos países”, afirmou a jornalista ugandesa Catalina Mwesigwa à Women Dliver.
Dois dos 15 jornalistas destacados por sua contribuição à sensibilização sobre esses direitos fundamentais são homens. Além de Índia e Libéria, integram a lista profissionais de Argentina, Bangladesh, Camarões, Estados Unidos, Filipinas, Quênia, Paquistão, Senegal, Tanzânia e Uganda.
As e os leitores podem votar, site http://www.womendeliver.org/, em seus jornalistas preferidos entre os 15 pré-selecionados pela Women Deliver. Os três mais votados receberão bolsas para participarem da conferência da Women Deliver que acontecerá em maio de 2016 em Copenhague. A votação terminará no dia 20. Envolverde/IPS