Arquivo

A reconstrução das Filipinas um ano depois de Haiyan

Um ano depois do tufão Haiyan, mais de quatro milhões de pessoas continuam sem um teto permanente. Foto: Comissão Europeia DG ECHO/Pio Arce/Genesis Photos-World Vision/CC-BY-ND-2.0
Um ano depois do tufão Haiyan, mais de quatro milhões de pessoas continuam sem um teto permanente. Foto: Comissão Europeia DG ECHO/Pio Arce/Genesis Photos-World Vision/CC-BY-ND-2.0

 

Manila, Filipinas, 11/11/2014 – Ao completar um ano da passagem do tufão Haiyan pelas Filipinas, a maior tormenta que já atingiu esse território, onde é conhecido como Yolanda, milhares de histórias sobre perdas, desespero, solidão, fome e doenças inundaram os meios de comunicação, junto com relatos de heroísmo. Tampouco faltaram as críticas ao governo pelos problemas da reconstrução.

Haiyan atingiu as Filipinas em 8 de novembro de 2013, com ventos de 250 quilômetros por hora e ondas de sete metros, que causaram danos terríveis à cidade de Tacloban, no centro do país, conhecida como “zona zero” do temporal, que deixou mais de 6.500 mortos e centenas de desaparecidos. Pode-se ver alguns sinais de recuperação em Tacloban, 580 quilômetros a sudoeste de Manila, mas falta que volte à vida, um  processo que pode levar de seis a oito anos, ou mais, segundo os doadores.

Em sua avaliação sobre as iniciativas de reconstrução, divulgada antes de completar o primeiro ano do desastre, o Banco de Desenvolvimento Asiático (BDA), com sede nas Filipinas, afirmou que, embora “os esforços de reconstrução sejam difíceis”, muito foi alcançado.

“O BDA está nas Filipinas há 50 anos e podemos dizer que outros países não teriam respondido tão bem diante de uma crise tão grave como essa”, afirmou o vice-presidente da instituição para o sudeste da Ásia e Ásia Pacífico, Stephen Groff, em entrevista coletiva. O embaixador do Canadá nas Filipinas, Neil Reeder, concordou, afirmando que “a capacidade de recuperação do país foi mais rápida em relação a outros desastres humanitários”.

Os especialistas dizem que a “bayanihan”, uma característica dos filipinos de se identificarem com sua comunidade e seu bairro, ajudou a fortalecer o preocupante processo de recuperação. “Yolanda foi o maior tufão e o mais poderoso que já atingiu terra firme, impactando uma vasta superfície, onde estavam algumas das áreas mais pobres das Filipinas. É importante vermos a dimensão e o alcance do desastre um ano depois”, ressaltou Groff.

O tufão afetou 16 milhões de pessoas, cerca de 3,4 milhões de famílias, e destruiu mais de um milhão de moradias e 600 mil hectares de terras cultiváveis, derrubou 33 milhões de coqueiros, 248 torres de telecomunicações e mais de 1.200 estruturas públicas, recordou Groff. Também danificou 305 quilômetros de estradas, 20 mil salas de aula e cerca de 400 centros de saúde. O temporal afetou as populações de mais de 171 municípios em 44 províncias de nove regiões.

O presidente, Benigno Aquino III, foi alvo de críticas por sua inaptidão no processo de reconstrução, no dia 8, durante as atividades de recordação do desastre. Inclusive, alguns manifestantes queimaram uma imagem do presidente de quase três metros de altura.

A Igreja Católica declarou o dia do evento como um dia de oração nacional, e podia-se ouvir os sinos das igrejas no começo da missa na vala comum onde estão enterradas quase três mil pessoas. Centenas de pescadores protestaram e cobraram do governo novas moradias e trabalho, ao mesmo tempo em que acusavam as autoridades de desviar fundos destinados à reconstrução.

Os internautas compartilharam lembranças de como há um ano observavam impotentes na televisão ou nas telas de seus computadores as cenas de horror em Tacloban. Fotografias de antes e depois da tempestade inundaram as redes sociais.

Aquino III visitou a ilha de Sámar, uma das que integram as Bisayas, no centro do arquipélago, e declarou que “gostaria que avançássemos mais rápido e pressionarei a todos para que se avance mais rapidamente, mas a triste realidade é que a magnitude do trabalho que resta não pode ser feito da noite para o dia. Quero fazê-lo bem para que os benefícios sejam permanentes”.

O governo estima que precisa de um plano-mestre de US$ 3,8 bilhões para reconstruir as comunidades afetadas, o que inclui a construção de um dique de quatro metros de altura ao longo de 27 quilômetros de costa para evitar danos maiores caso ocorra outro evento climático semelhante. O prefeito de Tacloban, Alfred Romualdez, esclareceu que ainda há dois milhões de pessoas em barracas de campanha e apenas 1.422 famílias foram reassentadas em moradias permanentes. Restam 205.500 sobreviventes sem residência fixa.

O processo de recuperação conseguiu levantar novas torres de eletricidade poucos meses depois do tufão, enquanto áreas cheias de barro foram substituídas por pastos verdes, voltou-se a plantar e os arrozais prosperam mais uma vez. O governo, entidades privadas e agências humanitárias internacionais colaboraram em programas de saneamento depois da tempestade.

O BDA informou que tenta definir a necessidade de outro pacote de ajuda no valor de US$ 150 milhões, além dos US$ 900 milhões já comprometidos no início do processo de recuperação. A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) oferecerá assistência técnica de US$ 10 milhões para levar adiante 18.400 projetos em todo o país.

O fundo cobrirá outras zonas atingidas pela tempestade, como Guian, no leste de Sámar, que também receberá outra quantia semelhante dos Emirados Árabes Unidos, para programas de reabilitação. O governo do Canadá ofereceu US$ 3,3 milhões para recuperar modos de subsistência e melhorar o acesso à água potável nas províncias de Leyte e Iloílo.

O governo das Filipinas garantiu que as autoridades supervisionarão, controlarão e atuarão com transparência na gestão dos fundos entregues pela comunidade internacional.

O senador Panfilo Lacson, encarregado dos programas de recuperação, reconheceu que as denúncias verificadas sobre a construção de casas com materiais de má qualidade, o que havia gerado enfrentamentos com os construtores, lhe permitiram ver “que é preciso supervisionar os fundos”. Além disso, pediu a colaboração da população para que denuncie irregularidades na gestão dos fundos multimilionários procedentes dos cofres nacionais e de doadores. Envolverde/IPS