Nova York, Estados Unidos, 30/06/2011 – Quando a crise política da Costa do Marfim acabou, no começo de abril, esperava-se que a vida neste país do oeste africano voltasse à normalidade cedo ou tarde. Mas os enfrentamentos originados em disputadas eleições presidenciais foram seguidos por uma profunda crise humanitária que ainda não foi superada.

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As meninas da foto acima são apenas duas das milhões de pessoas que sofrem com os conflitos étnicos na Costa do Marfim.
O Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCAH), da Organização das Nações Unidas (ONU), informou que centenas de milhares de civis continuavam deslocados, mais de dois meses depois de o ex-presidente Laurent Gbagbo concordar em abandonar o cargo. Gbagbo resistia em deixar a Presidência, apesar de ter sido derrotado por seu adversário, Alassane Ouattara, na votação de novembro passado, aprovadas pela ONU.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), cerca de 142 mil marfinenses permanecem na vizinha Libéria, enquanto a OCAH forneceu alimento e remédios para mais de cem mil famílias. Contudo, de todos os grupos vulneráveis no país, os mais afetados são quase um milhão de meninas e meninos.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a organização não governamental Save the Children, com sede nos Estados Unidos, participam ativamente da iniciativa “Volta à Escola”, apoiada pelo Ministério da Educação da Costa do Marfim. Jordan Naidoo, conselheiro do Unicef, disse à IPS que o sistema educacional nesse país foi duramente afetado pela crise.

Embora estivesse previsto que as aulas seriam retomadas no dia 3 de janeiro, um chamado à desobediência civil feito pela coalizão partidária de Ouattara as manteve fechadas no centro, norte e oeste do país. Por essa razão, pelo menos 80 mil crianças perderam entre quatro e seis meses de aulas. Além disso, as escolas em Abidjan foram fechadas quando começaram os violentos combates entre as duas partes, em março. “O Unicef estima que um milhão de crianças estão com sua educação gravemente afetada pela crise pós-eleitoral”, disse Naidoo.

No entanto, é esperançoso ver que 85% dos alunos voltaram às salas de aula nos últimos dois meses. “Entretanto, não podemos esquecer que 250 mil não voltaram, e outro milhão nunca frequentou a escola. Nossa missão neste momento é assegurar que cada uma das crianças estude novamente. Afinal, é seu direito”, afirmou o conselheiro do Unicef.

Guy Cave, diretor da Save the Children para a Costa do Marfim, afirmou que a educação é um direito para toda criança, sendo essencial para o desenvolvimento. Um milhão de crianças já haviam abandonado a escola antes da crise, e centenas de milhares não puderam ir às aulas durante vários meses, acrescentou.

Consultado sobre a situação dos professores, a infraestrutura e os materiais escolares, Naidoo disse à IPS que muitos professores fugiram devido à violência, os prédios escolares estão destruídos e os materiais se perderam, foram roubados e destruídos durante o conflito. O Unicef registrou 223 ataques contra escolas no país, dos quais 180 foram saques, 23 ocupações por forças militares e 20 sofreram danos devido a morteiros.

“Há uma urgente necessidade de investimentos em infraestrutura, mobiliário escolar e material de estudo”, disse Naidoo. Apenas 16,9% das escolas no centro, norte e oeste do país têm quantidade suficiente de carteiras, e apenas 21,5% possuem banheiros em funcionamento. A maioria das escolas carece de água potável. No entanto, Naidoo afirmou que a crise às vezes apresenta oportunidades para avançar, e ressaltou que o Unicef trabalhará com seus sócios para melhorar o acesso à educação para todas as crianças, garantindo ambientes seguros para o aprendizado.

Perguntado sobre como o Unicef pretende alcançar o objetivo de ajudar as crianças marfinenses a voltarem à escola, Naidoo respondeu que são feitos esforços junto com outras agências para avaliar as necessidades dos refugiados marfinenses na fronteira com a Libéria, bem como apoiar os planejamentos educacionais nos dois países.

Na semana passada, Unicef e Ministério da Educação organizaram um painel para lançar a iniciativa “Volta à Escola”, dirigida a um milhão de crianças. A intenção é melhorar os ambientes de aprendizagem, fornecer material educacional, reparar a infraestrutura, capacitar professores e dar apoio psicológico. Envolverde/IPS