Apenas cinco dias depois do evento ´G-10 das favelas´, que reuniu líderes e empreendedores das 10 maiores economias em favelas do Brasil, no espaço de eventos em Paraisópolis, no sábado do dia 23 de novembro, a Rede Social de Osasco, idealizada pelo advogado Rafael Alves, esteve na sede da União dos moradores do Comércio de Paraisópolis.
Após ser um dos intermediadores do evento, Rafael Alves percebeu as afinidades e oportunidades complementares entre os dois grupos. Ambos buscam melhorar a realidade da população mais carente de maneira organizada. Querem influenciar nas decisões da governabilidade da cidade, atrair investimentos, além de promover o desenvolvimento social e econômico nos lugares onde atuam.
Na ocasião, visando articular ações conjuntas, estiveram presentes Daniel Cavaretti liderança de Paraisopolis e organizador do ‘G-10 favelas’ e Regiane Santos, do Emprega Comunidades, premiado internacionalmente. Do outro lado, o próprio Rafael Alves, da Rede Solidária de Osasco, Yablans Nascimento e Mayra do Prado, representando a maior plataforma de voluntariado do país, o Transforma Brasil.
Também participaram Jakson Farias dos Reis, da ATEMDO (Associação de Trabalhadores em Domicílio) e Economia Solidária, projeto de alcance mundial, além da jornalista Mônica Martins, idealizadora do Imã, projeto de captação financeira para Ongs à partir da organização de eventos, que faz parte da Casa do Terceiro Setor.
Num primeiro momento, a ideia é que o grupo junte as suas competências para desenvolver um piloto em Paraisópolis, que gere experiência e dados positivos de qualidade, para que depois expanda para o G-10 e outras comunidades que possam aderir posteriormente.
Nesse processo, a Rede Social de Osasco tem muito a contribuir para o G-10 com o que Rafael Alves chama de “Acelerador de Projetos” , uma vez que acumula experiência prática em temas sociais, trocas e voluntariado dentro de uma estrutura que dividiu a cidade em 19 áreas para facilitar a interação e estratégias de maneira autônoma e independente do sistema público.
A economia solidária, por meio da ATEMDO e a plataforma de voluntariado Transforma Brasil, além dos recursos do Imã para captação financeira também são fortes candidatos a levarem o embrião para Paraisópolis com possibilidade de multiplicar, posteriormente, para outros lugares.
Segundo Rafael Alves, é preciso mostrar que a favela tem voz e que esse universo começa a ser trabalhado de forma organizada e em rede para que a mudança aconteça. De que maneira? Trazendo cada vez mais pessoas, estabelecendo projetos sociais de impacto e com ferramentas que possam prospectar desenvolvimento desse universo tão rico, mas tão empobrecido pelo próprio sistema.
Fica muito mais fácil para o governo administrar em parceria com o Terceiro Setor. Mas faltam diálogos com dados mais estruturados para apontarmos as inúmeras vantagens existentes numa parceria com o governo”, defende Daniel Cavaretti.
“Se conseguimos reunir esforços para transformar essa realidade e mostrarmos nosso diferencial, nos transformamos em referência e alcançamos maior adesão”, complementa.
Segundo Rafael Alves, a tendência mundial é mesmo terceirizar o social, países como Alemanha e Holanda, por exemplo, já tiraram a responsabilidade de atuar como o terceiro setor das suas rotinas e passaram a investir em quem realmente entende de atender as necessidades da população.
“Para sermos ouvidos, precisamos desenvolver ferramentas que proporcionem independência para num segundo momento influenciar nas decisões do governo”, afirma Rafael.
AGENDA
Para formatar a nova etapa de desenvolvimento, será elaborado, já na segunda quinzena de janeiro, o “Brasil 200”, um livro de negócios de Paraisópolis para apresentar para empresários, além do governo municipal e federal.
O documento deverá reunir 6 grupos temáticos para o G-10: Educação, Cultura, Lazer e Esportes, Desenvolvimento Social, Justiça e Cidadania, Habitação e Infra-estrutura (saneamento, parque, transporte e resolução para alagamentos), Saúde e Primeira Infância, além de Emprego e Empreendedorismo.
A ideia, segundo Daniel Cavaretti, é que esses programas sejam trabalhados técnicamente e atendam Paraísópolis para depois levar o modelo para outras áreas. Essas comissões temáticas deverão se reunir semanalmente e se preparem para discussões mais aprofundadas no próximo encontro do G10, que pode ocorrer em Recife ou na Rocinha, em data ainda a ser definida, e que já conta com o interesse de grandes patrocinadores.
HOLOFOTE
Paraisópolis, bairro de São Paulo, tem hoje cerca de 100 mil habitantes, com faturamento anual de mais de 700 milhões e cresce cerca de 30% ao ano, mais do que a China. Conta com mais de 54 projetos sociais de impacto, muitos deles ganhadores de diversos prêmios internacionais.
Com todo esse potencial de crescimento, desenvolvimento de capacitações e geração de dados de qualidade, Paraisópolis começa a derrubar mitos e paradigmas e o mercado passa a ver o bairro com outros olhos. Em menos de 10 anos, Paraisópolis virou vitrine internacional. Saiu do cenário de madeira para concreto com investimentos em torno de um milhão de reais.
As lideranças são treinadas pelas melhores faculdades de gestão do país, o Sebrae está lá dentro, a Fundação Dom Cabral treina os líderes gratuitamente, a unidade das Casas Bahia do bairro é a quarta em vendas no Brasil, e projetos sociais como a Companhia de Balé, Orquestra Filarmônica de Paraisópolis, rádio comunitária e startups mostram que investir na favela vale a pena.
A cada real investido em projeto social, retorna 27 reais para sociedade. Segundo a visão dos advogados Rafael e Daniel, se existe uma maneira do Brasil crescer exponencialmente, o caminho é investir em projeto social.
Assim, por exemplo, quando há problemas com a terceira idade, população de rua ou empregabilidade, o caminho é desenvolver um bom projeto para resolver o problema, replicar posteriormente e melhorar o ambiente de favelas do Brasil.
G-10 FAVELAS
O “G-10 das favelas” tem na lista as comunidades da Rocinha (RJ), Rio das Pedras (RJ), Heliópolis (SP), Paraisópolis (SP), Cidade de Deus (AM), Baixadas da Condor (PA), Baixadas da Estrada Nova Jurunas (PA), Casa Amarela (PE), Coroadinho (MA) e Sol Nascente (DF).
O evento ‘G-10 favelas” reuniu, em novembro, investidores e agentes sociais do Brasil e do mundo, onde também esteve presente Luísa Trajano do Magazine Luísa. Na ocasião, foram apresentados 16 projetos selecionados pelo Investe Favela, fundo criado à partir do investimento de empresários e gerenciado por líderes comunitários do Complexo do Alemão e de Paraisópolis para financiar startups de comunidades de todo o País.
Para Gilson Rodrigues, presidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis e do Fundo Social Comunidades, a iniciativa tem a vocação de inspirar o Brasil inteiro a olhar para a favela de uma maneira diferente.
“As pessoas precisam parar de achar que quem vive em favela é ‘coitadinho’. Queremos mostrar que aqui dentro é possível ganhar e crescer, sem a interferência de polícia, bandido ou político”, ressalta Gilson.
Para estimular ainda mais os negócios e promover a inclusão, o líder de Paraisópolis já pensa em construir um banco comunitário com juros mais baixos para os moradores e dar acesso a maquininhas para crédito e débito, além de conta corrente e cartão de crédito para os comerciantes locais.
O G10 articula uma agenda de reuniões com prefeitos, governadores de Estado, senadores e o presidente da República. Visando criar oportunidades, pretende-se, ainda, levar um grupo de líderes de comunidades para o Fórum Econômico Mundial que acontece em janeiro, em Davos, e na reunião do G7 em março do próximo ano.
Ao mesmo tempo em que percebemos o quanto a cultura do nosso país precisa mudar para ver a favela com o devido respeito e como importante polo de negócios, consumo e desenvolvimento, o assunto começa a chamar o interesse de investidores e a favela ganha desenvoltura de países que buscam negociar seus interesses em bloco.
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