Pequim, China, 8/8/2011 – A legião de microblogueiros que cresce rapidamente na China superou os esforços do governo para supervisionar, incidir e censurar a informação que circula pela internet. Isto ficou evidente após o acidente de trem de Wenzhou, que desatou uma onda de indignação e no país.
Os chamados weibos na China são fontes de informação cada vez mais populares e espaços para o debate público. Com as redes sociais Twitter e Facebook, proibidas neste país, o serviço limita a extensão das mensagens e os usuários podem reenviá-los e comentá-los. O conteúdo varia de questões mundanas ao humor e, sempre, assuntos políticos.
A China tem mais de 500 milhões de usuários de internet e mais da metade tem conta de microblog. Duas empresas dominam o setor: a Sina Holdings Limitada, com o serviço Sina Weibo, utilizado por 140 milhões de pessoas, e a Tencent Inc. com 200 milhões de clientes. Os usuários da Sina costumam ser do setor social de maior renda e com mais estudo, enquanto os da Tencent são mais jovens.
Vários organismos do governo e corporações estatais têm conta de microblog, inclusive o órgão de imprensa do Partido Comunista, o Diário do Povo, tem um. Mas a maioria dos usuários é de cidadãos comuns interessados em socializar e trocar informação, inclusive sobre temas considerados delicados na China.
“Cada vez mais pessoas expressam opiniões sobre o bem-estar da população, a justiça e a corrupção”, disse à IPS o pesquisador Jiang Shenghong, da Academia de Ciências Sociais da cidade de Tianjin. “As redes sociais, especialmente os weibos, se converteram em um método importante para as pessoas adotarem e expressarem ideias. Podem difundir rapidamente, de forma oportuna e é relativamente gratuito”, acrescentou.
Trata-se de um espaço onde se costuma discutir questões como a expropriação de terras, demolição de casas e a corrupção no governo. Porém, foi o desastre de Wenzhou que mostrou ao governo o poder dos microblogs e, por extensão, da cidadania conectada à internet.
Dois trens de alta velocidade chocaram-se no dia 23 de julho nessa cidade da província de Zheijiang, deixando 40 mortos e quase 200 feridos. O acidente e a resposta do governo desataram a dor e a ira das pessoas. O mais terrível para muitos chineses foram as imagens dos restos de máquinas incendiadas antes que acabasse a investigação.
Em cinco dias, houve 26 milhões de mensagens sobre a tragédia nos microblogs. As pessoas questionaram a resposta do governo e houve quem perguntasse se as autoridades não sacrificavam a população para preservar o crescimento econômico. A imprensa estatal inicialmente se concentrou em relatos de bebês resgatados e depois informou sobre o descontentamento da população.
Na semana passada, o governo ordenou aos meios de comunicação que deixassem de divulgar informação sobre o acidente que não fosse fornecida pela agência estatal Xinhua. Alguns jornais, influenciados pela atividade dos weibo, se negaram a cumprir essa ordem.
As autoridades seguem de perto as discussões nos weibos e deslocaram um pequeno exército de comentaristas encobertos para divulgar a linha oficial. Estas pessoas operam de forma anônima e promovem argumentos politicamente corretos. Muitos o fazem por dinheiro, segundo várias versões da imprensa internacional, entram em blogs, sites de notícias e salas de bate-papo.
Os “relações públicas” costumam ser estudantes que desejam aumentar sua renda e melhorar a chance de entrar no Partido Comunista. Outros são funcionários públicos ou aposentados que o fazem por entenderem que é um dever patriótico. São dezenas de milhares de pessoas, segundo as últimas versões da imprensa.
Global Times, um jornal estatal, informou no ano passado que na província de Gansu, norte do país, estavam sendo recrutados 650 comentaristas em tempo integral para “guiar a opinião pública sobre temas controvertidos”. Às vezes, o governo censura abertamente a informação, apaga comentários delicados ou proíbe as pessoas que provocam controvérsias.
Depois do acidente em Wenzhou, a onda de mensagens superou a censura que permitiu sua livre circulação pela internet. Foi tamanha a rapidez com que apareceram que ficou impossível realizar um controle efetivo. O risco que as autoridades corriam apagando comentários em massa era pior.
A pressão dos microblogueiros obrigou funcionários de Whenzhou a voltarem atrás e pedir desculpas pela ordem dada para que os advogados locais não aceitassem casos de famílias e vítimas do acidente sem permissão das autoridades. Após denúncias de que as autoridades pretendiam encobrir o acidente, os restos do trem foram desenterrados para continuarem as investigações.
Os weibos podem servir como ferramenta para que a cidadania se comunique com o governo, disse Hu Yong, professor da Faculdade de Jornalismo e Comunicações, da Universidade de Pequim. “Os wiebos permitem criticar a falta de ação do governo e servem para divulgar notícias em tempo real, o que obriga o governo a tomar medidas”, disse Hu à IPS. “O governo central controla a internet na China. As pessoas não podem dizer o que querem”, acrescentou. Envolverde/IPS