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Reforma econômica cubana precisa falar de internet

O acesso maciço à internet pode trazer alternativas de desenvolvimento econômico para Cuba. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

 

Havana, Cuba, 10/1/2013 – Vozes especializadas e civis coincidem em afirmar que a reforma econômica aplicada pelo governo de Cuba terá que analisar a janela de oportunidades oferecida pela internet, uma plataforma fundamental do modelo econômico dominante no planeta. “Não é uma opção para nosso desenvolvimento futuro, é um imperativo dos tempos atuais”, disse à IPS o economista Ricardo Torres. “Não há possibilidades contemporâneas de desenvolvimento sem a aplicação maciça nos processos produtivos e na vida social das novas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC)”, acrescentou.

No entanto, pessoas que participaram da seção interativa Café 108, do site do Escritório da IPS em Cuba, disseram que o acesso maciço à internet no país significaria “aterrissar, finalmente, no século 21”, em primeiro lugar, e, também, mais possibilidades de emprego junto à expansão das empresas estatais e da microempresa privada. Entretanto, o tema das NTIC, especialmente a internet, é atravessado neste país por questões financeiras e políticas, sobretudo pelo conflito de mais de 50 anos entre Havana e Washington.

A expansão deste meio aconteceu na década de 1990, quando Cuba entrou na crise econômica que perdura até hoje, após o desaparecimento da União Soviética e do bloco socialista europeu, seus principais sócios comerciais. Segundo Torres, a situação “socioeconômica e geopolítica singular” de Cuba implicou que “não foram destinados recursos para o desenvolvimento e o uso destas tecnologias”. Os Estados Unidos realizam ações encobertas de entrega de telefones celulares, computadores e conexões com a internet, que Havana considera ingerências.

Em 2011, chegou à costa cubana um cabo submarino de fibra ótica, graças a um projeto entre Havana e Caracas para maior independência das comunicações do Caribe e da América Central. Em maio de 2012, o ministro venezuelano da Ciência, Tecnologia e Inovação, Jorge Arreaza, disse à imprensa que o cabo estava em operação. Mas as autoridades cubanas permanecem em absoluto silêncio a respeito e não se nota melhorias na conexão local.

Cuba dispõe hoje de uma banda larga mínima de 323 megabits por segundo, a capacidade permitida via satélite. Segundo fontes oficiais, o cabo de fibra ótica multiplicará por três mil as velocidades atuais e baixará o custo de operação em 25%, embora continue o serviço por satélite. O Ministério da Informática e das Comunicações disse que potenciará o chamado uso social das NTIC, não o comercial. Ao comparecer este mês ao parlamento, o ministro Maimir Mesa disse que se prioriza o acesso à internet em lugares vinculados ao desenvolvimento social e comunitário, como as escolas.

Também informou que estão em andamento projetos para baratear os custos da telefonia móvel. Atualmente, poucas pessoas contam com conexões ou e-mail em suas casas, a maioria dial up (tecnologia que permite o acesso por meio de linha telefônica analógica) e pouquíssimas sem fio. Algumas pagam os elevados preços dos cibercafés, sobretudo em hotéis. No entanto, as oportunidades no trabalho privado abertas pelo processo de atualização do modelo econômico cubano poderiam se expandir mais com um serviço de internet acessível para empreendedores e cooperativas.

Sem poder aproveitar todas as possibilidades da web, algumas iniciativas independentes já exploram timidamente a promoção de serviços via e-mail, em sites, redes sociais como Facebook e Twitter, ou por mensagem de celular. Entre eles figura o projeto Alamesa de “difusão sobre gastronomia em Cuba”. Este grupo, que também gerencia serviços associados aos gastronômicos pela internet, tem como ferramenta principal um diretório web sobre restaurantes nacionais e um boletim eletrônico. O restaurante Chaplin’s Café em Havana e as lâmpadas artesanais LampArte têm perfis no Facebook.

O restaurante La Casa também está no Facebook, Twitter, WordPress, Flickr e Youtube, já que interage constantemente com os usuários do assessor internacional de viagens TripAdvisor e integra a MallHabana, a exclusiva loja de envio de encomendas para Cuba na internet. Estas iniciativas buscam atrair, sobretudo, o visitante internacional. Muitos empreendimentos familiares traçam alternativas para colocar suas ofertas online, diante das dificuldades nacionais. A fábrica de bolsas exclusivas Pele Zulu, da cubana Hilda M. Zulueta, tem um site próprio gerido por uma de suas filhas, que vive na Espanha, disse à IPS a empresária.

Em 2011, apenas 1,3 milhão dos 11,2 milhões de habitantes da ilha tinham celulares, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas e Informação, que também registrou 2,6 milhões de usuários online, englobando contas da internet e da intranet cubanas, que oferece acesso a alguns sites internacionais e locais.

Antes de pensar em divulgar sua produção musical, Maykel Bárzaga sonha com uma conexão própria para atualizar e ativar facilmente os programas informatizados imprescindíveis para seu estudo caseiro de gravações. Há cinco anos foi acolhida esta opção para criadores associados à não governamental União de Escritores e Artistas de Cuba. “Quando se adquire um equipamento ou um programa de edição musical, obrigatoriamente é preciso ativá-lo e atualizá-lo, colocando uma chave na página do fornecedor”, explicou Bárzaga à IPS, acrescentando que “a internet é uma fonte de trabalho impressionante, pois permite realizar projetos internacionais com cada músico em seu próprio país”.

A consultoria Boston Consulting Group (BCG) estimou, em 2012, que a economia via internet crescerá nos próximos anos mais de 16% anuais nos mercados em desenvolvimento do mundo. A ampliação dos canais de vendas é uma das múltiplas oportunidades econômicas que traria o acesso sem restrições à internet, segundo os participantes do Café 108.

A seu ver, muitas pessoas encontrariam sustento com novas profissões, Cuba poderia exportar serviços por meio da web, a indústria turística teria maior independência em ter sites totalmente próprios e melhor posicionados, e surgiriam empresas e cooperativas com profissionais de todo o país e do mundo, entre outras oportunidades. Envolverde/IPS