[media-credit name=”Save the Children” align=”alignright” width=”167″][/media-credit]Roma, Itália, 5/4/2011 – A chegada maciça de imigrantes procedentes da Líbia e de outras nações africanas criou uma crise humanitária sem precedentes no Sul da Itália. O número de pessoas que chegam à Ilha de Lampedusa cresceu consideravelmente nos últimos meses. Milhares chegaram desde janeiro. Lampedusa, a 205 quilômetros da costa italiana entre a Tunísia e a Sicília, é usada como centro para abrigar imigrantes, especialmente da África.
Entre 26 e 28 de março, cerca de 830 imigrantes chegaram à ilha, entre eles 80 mulheres e 12 crianças, procedentes das cidades líbias de Trípoli e Misurata. Mas a maioria chegou de Eritréia, Etiópia, Somália e Sudão. Na última semana de março, 794 imigrantes partiram de Trípoli e chegaram à Ilha de Linosa, 42 quilômetros a nordeste de Lampedusa. Entre eles 90 mulheres com 20 menores de cinco anos, além de 15 menores abandonados. Foram transferidos para a Sicília, onde outros 500 imigrantes chegaram no dia 31 de março.
Em comparação com o grande número de pessoas que fugiu da Líbia desde que começou a revolta contra Muammar Gadafi, em meados de fevereiro, a quantidade de imigrantes que chega à Itália não é muito alta, mas causa pânico neste país. Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), o total de pessoas que fugiram da Líbia desde o início do conflito chega a quase 400 mil, das quais 200 mil emigraram para a Tunísia, 160 mil para o Egito e 18 mil para Níger. Outras fugiram para Argélia, Chade e Sudão. No dia 28 de março cruzaram para a Tunísia e o Egito mais de quatro mil pessoas e, no dia seguinte, outras duas mil.
A Itália aderiu à intervenção militar internacional na Líbia no final de março, permitindo que sete de suas bases militares sejam utilizadas para missões aéreas. “Não é com ações de guerra que podemos fazer Gadafi deixar o poder, mas por meio de uma forte pressão internacional para promover deserções entre as pessoas à sua volta”, disse o chanceler italiano, Franco Frattini, à televisão local.
O ministro também anunciou que se reuniria com membros do rebelde Conselho Nacional Interino líbio em Roma. “Temos estreitos contatos com os rebeldes na cidade de Bengasi, onde nosso consulado está sempre aberto”, afirmou. A posição oficial da Itália é que a solução não passava pela guerra, mas pela pressão diplomática para promover a deserção no círculo de Gadafi e persuadi-lo a aceitar o exílio.
Os líbios são apenas uma pequena parte dos imigrantes que chegaram à Itália nas últimas semanas. Segundo o Ministério do Interior, cerca de 22 mil pessoas do Norte da África, a maioria da Tunísia, chegaram a Lampedusa e à Sicília em barcos. Embora a maioria tenha sido transferida para a Sicília e outras regiões do Sul da Itália, ou conseguiram fugir dos controles, até a semana passada ainda havia mais de cinco mil na Ilha, das quais 350 meninos e meninas abandonados.
As autoridades italianas qualificaram a recente onda de imigração através do Mar Mediterrâneo de “emergência humanitária” e pediram ajuda da União Europeia (incluindo sua agência de controle de fronteiras, a Frontex). Embora isto fosse bastante previsível após os últimos levantes na região árabe, o governo italiano não estava preparado. Os imigrantes estão largados em Lampedusa há semanas, esperando transferência para outras partes do país. O único centro para refugiados na Ilha pode abrigar até 850 pessoas. Muitos ainda não receberam a mais básica assistência humanitária, informou a Anistia Internacional.
O primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, visitou Lampedusa no dia 29 de março e prometeu “esvaziá-la em 48 a 60 horas”. Ainda não está claro para onde serão transferidas todas essas pessoas. Grandes embarcações chegaram à Ilha na manhã do dia 1º para anunciar a evacuação, mas as operações foram suspensas devido às más condições do mar.
Não foi dada aos imigrantes a assistência humanitária mais básica, como abrigo, cuidados médicos, cobertores e acesso a instalações sanitárias, disse a Anistia. Não há chuveiro, nem banheiros, nem abrigos. “Cerca de quatro mil pessoas dormem ao relento”, disse à IPS a ativista Charlotte Phillips, da Anistia. “Apesar dos esforços das agências de ajuda no local, a maioria dos tunisianos (já afetados pela pobreza e a violência em seu país) se encontra sem as mais básicas provisões sanitárias”, acrescentou. Segundo Charlotte, a crise humanitária se deve à má administração da situação. “Não há dúvidas de que poderia ter sido evitada”, ressaltou.
A maioria dos imigrantes entrevistados por organizações de direitos humanos disse que deixaram seus países em busca de proteção internacional. Muitos expressaram o desejo de continuar viajando para outras nações europeias. Agências humanitárias temem que aos refugiados não seja dado acesso a procedimentos justos de asilo devido à caótica situação em Lampedusa e que o governo opte por expulsões maciças sem considerar os casos individuais. “As autoridades italianas não deveriam assumir os que chegam à Ilha como imigrantes econômicos”, afirmou Charlotte. Envolverde/IPS