Arquivo

Refugiados por causa do Talibã voltam para casa

Famílias que deixaram suas casas por causa da guerra no norte do Paquistão estão voltando. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 13/8/2012 – As milhares de pessoas que abandonaram há mais de três anos as áreas tribais no norte do Paquistão, devido à violência do movimento islâmico Talibã, agora regressam para reconstruir suas casas e suas vidas. Estes residentes nas Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata) estão agradecidos por sua sorte e pela ajuda que recebem do governo. “Minha casa já estava em tão mau estado quando a deixei há três anos por causa da violência do Talibã. Agora podemos reconstruí-la”, disse à IPS o vendedor de frutas Faqir Jan, de Charmang, na Agência de Bajaur.

Faqir recebeu 400 mil rúpias (US$ 4,3 mil) para reconstruir sua casa. Foi suficiente, segundo ele, mas agora precisará de mais ajuda para tocar seu negócio. Para alguns, a ajuda do governo serviu para mais do que reconstruir uma casa. “Arrumei minha casa por 200 mil rúpias”, contou Akbar Khan, de 50 anos. “Com as outras 200 mil montei um ponto de venda de verduras”, contou.

O porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Taimur Ahmed Shah, disse que já regressaram 2.336 famílias para as áreas onde a insurgência foi controlada e agora reina a paz. “Desde janeiro deste ano, 655 famílias voltaram a Bajaur, o maior número de repatriados de todas as agências da Fata”, disse à IPS. O Acnur ajuda com a documentação e o processo de registro, e fornece o transporte para as famílias. Também fornece utensílios de cozinha, baldes, jogos de chá e barracas de campanha, contou Shah.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) entrega kits higiênicos. Além disso, as famílias que regressam recebem rações mensais durante seis meses do Programa Mundial de Alimentos (PMA). “Fornecemos às famílias farinha de trigo, bolachas, óleo de cozinha, legumes e açúcar para seis meses. Também recebem cobertores e almofadas”, detalhou à IPS Mehboob Khan, do PMA. As famílias recebem tudo quando chegam à sua aldeia natal, acrescentou. O PMA informou que, desde janeiro, os doadores forneceram mais de US$ 113 milhões à resposta humanitária frente à emergência. Mas são necessários mais recursos, que estão sendo buscados.

Ahmad Hussain, da secretaria das Fata, disse que cerca de 600 casas foram reconstruídas pelo Conselho de Refugiados da Noruega, metade delas entregues a pessoas cujas casas foram destruídas durante o conflito. “Estamos esperando que regressem mais refugiados para entregar as chaves das 300 restantes. Também tratamos de reconstruir as casas dos refugiados da Agência de Mohmand. No momento já regressaram 563 famílias, cerca de 3.326 pessoas, que vivem em barracas de campanha ou com familiares”, afirmou.

O acampamento de refugiados era um inferno, contou Abdul Walli, que fugiu da região de Lakaro, em Mohmand. “Sempre é uma alegria regressar para casa”, disse, assegurando ter dinheiro suficiente para recuperar sua casa. O aumento da insurgência disseminou os residentes das Fata. Segundo o Acnur, dos 687.550 refugiados, 147.329 vivem em acampamentos e o restante com familiares ou em casas alugadas. Esta agência gasta 47% de seu orçamento para o Paquistão com os refugiados das Fata, e o restante destina às vítimas das inundações em Sindh, Punyab e Khyber Pakhtunkwa.

A maioria dos refugiados quer regressar o mais breve possível. Uma rápida pesquisa feita pela Organização das Nações Unidas (ONU) em abril mostrou que a maioria das pessoas aluga uma casa porque é muito difícil viver nos acampamentos. As organizações humanitárias precisam de mais recursos para atender as pessoas que se deslocaram há pouco tempo da Agência Khyber. Com a crescente quantidade de gente nessa situação, as agências correm o risco de ficar sem dinheiro este ano.

O agente político de Bajaur, Islamzeb Khan, disse que regressar para casa transforma a vida. Cerca de metade das pessoas que retornam recebe uma indenização. “As pessoas que voltam estão contentes porque estiveram muito tempo fora de sua aldeia”, contou Khan à IPS. “Para os refugiados também é um reencontro porque abandonaram seus povoados e viveram em diferentes lugares fora da agência”, ressaltou. Khan espera que a repatriação ganhe força porque o exército limpou toda a agência de elementos perigosos e pediu aos refugiados que regressem para iniciar uma nova vida. “Necessitamos que os refugiados voltem e comecem a viver aqui”, acrescentou. Envolverde/IPS