“Para cada saco de lixo produzido em nossas casas, há outros 60 que já foram gerados antes”, estimou o sociólogo Maurício Waldman, ao se referir aos centros urbanos, que geram apenas 2,5% de resíduos produzidos no planeta – o que representa quatro bilhões de toneladas ao ano. Dos 30 bilhões de toneladas/ano de lixo lançados no mundo, a maioria é produzido pelos setores de pecuária, agricultura e mineração.
Segundo Waldman, também doutor em geografia e autor do livro “Lixo – Cenários e Desafios”, indicado ao Prêmio Jabuti em 2011, na categoria Ciências Naturais, apesar de representar a menor produção de lixo no planeta, os resíduos sólidos urbanos são um problema para países emergentes.
“Nós mandamos para a compostagem apenas 2% do lixo orgânico urbano e reciclamos 13% da parte seca”, afirmou o sociólogo ao comparar o Brasil com a Índia, que faz compostagem de 65% des seus resíduos orgânicos. “Agora se fala em políticas para lidar com o metano, gás gerado nos aterros. Mas temos de evitar que ele seja gerado, mandando o mínimo possível para o aterro”, frisou.
O Brasil, que abriga 3% da população mundial, é responsável por 5,5% do lixo do planeta. “Em parte porque o país está exportando commodities como minério, grãos, carne, etc. A mineração é responsável por 38% do lixo gerado no mundo e a pecuária e agricultura, juntas, por 58%”, assegurou Waldman.
Elo entre reciclagem e catador
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calculou o prejuízo de um sistema de coleta e de reaproveitamento de resíduos em R$ 8 bilhões/ano. Já o professor Sabetai Calderoni, autor do livro “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, estimou que os déficits somam US$ 10 bilhões ao ano.
“Daria para fornecer cestas básicas mensais para todas as famílias pobres do país e ajudá-las a pagar a prestação de uma casa popular”, constatou Calderoni, que comentou sobre as vantagens que as regiões de reciclagem têm em relação aos aterros. “Elas ocupam uma área mil vezes menor que um aterro e a vida útil não acaba nunca. Além disso, o aterro tem de ser monitorado por anos após ser desativado”, explicou o professor, que é presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (IBDS) e participou da elaboração da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS).
Waldman destacou a importância dos catadores na cadeia de reciclagem. “Eles coletam 90% do material que retorna para a cadeia produtiva. Sem os catadores, teríamos mais 7 milhões de toneladas ao ano de lixo seco sendo desperdiçado no País.”
A PNRS tenta inserir os catadores , que geralmente vivem em situação de risco, formalmente na cadeia. Apenas 142 municípios brasileiros mantêm convênios com catadores, de aproximadamente cinco mil.
Com informações do Estadão.
* Publicado originalmente no site EcoD.