O presidente do comitê da aldeia de Nguwo, Ibrahim Kachinga, na margem do Lago Malawi. Foto Mabvuto Banda/IPS

 

Lilongwe, Malawi, 22/5/2013 – Lloyd Phiri, um pescador do Lago Malawi, sabe que essas águas estão baixando. E comprova isso com suas capturas, que nos últimos anos caíram mais de 80%. Há anos, o normal era obter cerca de cinco mil pescados por dia, afirmou, mas agora, com sorte, chega a um quinto dessa quantidade. O habitual é capturar apenas 300 exemplares diários. “Isso afetou minha renda. Agora tenho problemas para pagar a escola dos meus filhos”, contou à IPS.

O rápido declive das águas do Lago, causado pelo crescimento demográfico, pela mudança climática e pelo desmatamento, coloca em risco de extinção suas espécies de flora e fauna, segundo o Ministério de Meio Ambiente e Manejo da Mudança Climática. E entre a biodiversidade ameaçada estão os peixes dos quais Phiri depende para ganhar a vida.

“Nas últimas três décadas foram elaborados alguns modelos de equilíbrio hídrico no Lago, e mostraram que os níveis de água caíram de 477 metros acima do nível do mar, na década de 1980, para 474,88 metros atualmente”, informou à IPS a secretária principal do Ministério, Yanira Mtupanyama, a respeito deste lago de 29.600 quilômetros quadrados que fica na fronteira entre Malawi, Moçambique e Tanzânia.

“Isto é importante, porque os estudos mostram que os níveis da água no Lago continuarão diminuindo nos próximos anos, porque há sinais de que haverá menos chuvas e mais evaporação”, explicou. Estima-se que mil espécies de peixes dependem da água doce do terceiro maior lago da África para sobreviver e contribuir com 60% das necessidades de proteínas da população do país.

As espécies mbuna e a famosa tilápia, conhecida localmente como chambo, estão à beira da extinção. Este último é o peixe mais popular de Malawi. Segundo o Departamento de Pesca, as reservas de peixes no lago diminuíram 90% nos últimos 20 anos. Isto gera uma enorme preocupação, já que cerca de 1,5 milhão de malawianos dependem do Lago para cobrir suas necessidades de alimento, transporte e outras, afirmam as autoridades. E provocam ainda mais preocupação os recentes informes do governo dizendo que a massa hídrica pode conter abundantes reservas de petróleo e gás.

O ambientalista Raphael Mwenenguwe teme que, se forem extraídos estes combustíveis, haja uma perda ainda maior de biodiversidade. “As reservas pesqueiras diminuíram nas últimas duas décadas, passando de aproximadamente 30 mil para 20 mil toneladas ao ano, devido a uma queda no nível da água, à sobrepesca e ao rápido aumento demográfico. Mas isto poderá piorar se for descoberto petróleo no lago”, alertou Mwenenguwe à IPS.

Williman Chadza, diretor-executivo do Centro para as Políticas e o Lobby Ambiental, uma organização não governamental que promove a ecologia, compartilha desses temores. “O petróleo é um recurso importantíssimo para um país como Malawi, que busca alternativas para obter ganhos para seu desenvolvimento socioeconômico. Mas sua descoberta poderá aprofundar a perda de biodiversidade e ter um impacto adverso sobre as fontes de água”, disse à IPS.

A mineração também afeta o Lago. Uma mina de urânio em Karonga, localidade que fica próxima, é um exemplo. Há quatro anos é propriedade do gigante australiano Paladin, que também a opera, e é considerada uma ameaça em matéria de contaminação. “O urânio é um material altamente radioativo, e portanto ainda há a ameaça de que possa contaminar a água doce do Lago”, disse à IPS o ativista pelos direitos humanos Udule Mwakasungura.

A necessidade de frear a perda de biodiversidade é particularmente importante no Malawi, onde a população depende dos recursos biológicos em maior grau do que a de outras partes do mundo. As 18 mil famílias da aldeia de pescadores de Nguwo, na baía de Senga, são um exemplo desta dependência.

“Sabemos que as reservas pesqueiras se esgotam devido a práticas insustentáveis e ao não cumprimento de resoluções, e que cortar árvores de modo insustentável afeta, em última instância, a qualidade da água que bebemos”, afirmou o chefe da aldeia, Radson Mdalamkwanda. Ele contou à IPS que os pescadores locais trabalham com as autoridades distritais para tratar das ameaças e dos desafios que enfrenta a conservação do Lago, e acrescentou que quem não cumprir as normas será proibido de pescar no Malawi durante outubro e novembro, quando os peixes desovam.

Nos últimos cinco anos, o comitê de desenvolvimento da aldeia participa de reuniões para educar os moradores sobre as regulamentações e a necessidade de proteger o Lago. “Além de proteger os peixes, também queremos proteger a água, para que seja seguro bebê-la. Fazemos isso conscientizando em reuniões como casamentos e funerais”, explicou à IPS o presidente do comitê da aldeia, Ibrahim Kachinga.

Seus esforços também complementam as tentativas do governo do Malawi de enfrentar as ameaças e os desafios de conservar a flora e fauna do Lago. “Nos últimos anos vigorou uma proibição do uso de artefatos de pesca de alto rendimento no Lago, na época da desova”, disse Mtupanyama, acrescentando que em 2003 o governo lançou um plano estratégico de dez anos para restabelecer as existências pesqueiras do Lago.

“Assim, nos últimos dez anos estivemos reabastecendo o lago de peixes, criando exemplares jovens fora dele e depois recolocando em suas águas. Não foi mal”, opinou Mtupanyama, mas não pôde determinar se isto aumentou de modo significativo as reservas de peixes do lago. Independente do que possa resultar desse projeto, o comitê de Nguwo entende que o futuro do Lago é importante. Por isso educa os que podem fazer algo a respeito: as futuras gerações da aldeia. “Com a ajuda do governo, também incentivamos os professores da pré-escola e do primário a educarem nossas crianças sobre como proteger o Lago”, ressaltou Kachinga. Envolverde/IPS