Bamako, Mali, 3/11/2011 – As várias represas em construção no Rio Níger são um sinal positivo do crescimento do investimento em agricultura e energia. Porém, numerosos observadores se preocupam com os danos ambientais e a gestão coletiva da bacia, de mais de dois milhões de quilômetros quadrados. “A bacia do Níger envolve nove países com interesses divergentes. Alguns deles, como Mali e Níger, não querem que sejam construídas represas” rio acima, disse Bi Tozan N’Guessan, especialista do Ministério de Água da Costa do Marfim.
A Autoridade da Bacia do Rio Níger coordena as atividades entre Burkina Faso, Guiné, Benin, Chade, Camarões e Nigéria, além de Mali e Níger. Desde 2008, o órgão autorizou a construção de três represas com múltiplas finalidades, em Fomi, na Guiné, Taoussa, no Mali, e em Kandaji, em Níger. “A represa de Taoussa fornecerá eletricidade para Burkina Faso e Níger, por exemplo”, disse Ferdinand Bélé Gohou, presidente da organização não governamental Montanhas e Florestas da África Ocidental, com sede na Guiné. “A represa de Fomi também será útil para outros países da bacia”, acrescentou.
A obra nessa localidade guineense objetiva principalmente a geração de eletricidade, mas sua represa criará oportunidades para a pesca, segundo seus defensores. As áreas vizinhas são adequadas para a criação de gado e outro tipo de animais, bem como para a agricultura. Além disso, serve de habitat para aves aquáticas.
Outros países da bacia também se beneficiarão da capacidade de regulação do nível de água da represa em diferentes épocas do ano. “É importante para a agricultura porque permitirá a irrigação nos Estados situados rio abaixo durante a estação seca”, segundo Gohou. Contudo, os ecologistas temem que as novas obras tenham efeitos negativos rio abaixo, especialmente para as mais de um milhão de pessoas do delta do interior do Rio Níger, em Mali.
Tanto a represa de Markala, obra da era colonial que alimenta vários projetos de irrigação em grande escala, como a central hidrelétrica de Sélingué, terminada em 1980, fizeram baixar o nível da água dos pântanos, zonas férteis e de grande biodiversidade, em mais de 20 centímetros, o que reduziu a área inundável em 900 quilômetros quadrados.
“Com a construção da represa de Fomi o nível da água no delta interior do Rio Níger baixará outros 45 centímetros”, segundo o estudo “Impacto das represas na população de Mali”, feito pela organização Wetlands International, com sede na Holanda. “As vastas colônias de cormorão, íbis, garça e garceta da África ocidental serão levadas ao limite de sua existência”, acrescenta o documento. Além disso, a navegabilidade do rio se restringirá a um curto período do ano, quando houver água suficiente para embarcações grandes. No entanto, o estudo também diz que Sélingué e Markala tiveram um impacto positivo imediato em seu entorno.
Mali planeja construir novas represas. A de Djenné também terá uma ponte de 316 metros que unirá as duas margens do Rio Bani, o maior tributário do Níger, com 4.200 quilômetros de comprimento. A obra vai gerar eletricidade para as áreas vizinhas e também promoverá a produção de arroz e verduras, bem como a pesca e a criação de animais, disse em setembro o ministro da Agricultura de Mali, Agatam Ag Alhassane, durante a cerimônia de lançamento do projeto de US$ 38 milhões.
Outro dos projetos com vários objetivos, a represa de Taoussa contará com uma central hidrelétrica que gerará 25 megawatts e poderá irrigar quase 140 mil hectares, segundo um estudo realizado pelo governo de Mali. Além disso, ajudará a reduzir a produção da represa de Kainji, na Nigéria, que está no limite de sua capacidade, em 200 gigawatts/hora por ano, quase 9% do que gera atualmente. Envolverde/IPS