Rodada climática começa com cobrança de promessas

Países menos desenvolvidos destacam no primeiro dia de negociações em Bangcoc que os compromissos de ajuda e financiamento para ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas não saíram do papel

Mal teve início a rodada de negociações climáticas de Bangcoc, na Tailândia, e as grandes potências mundiais já estão sentindo a pressão de não terem cumprido suas promessas anunciadas ainda em 2009, durante a Conferência do Clima de Copenhague (COP15).

O grupo dos países menos desenvolvidos (LDCs), que reúne mais de 50 nações, aproveitou a abertura da última reunião climática antes da COP 18, em Doha, no Qatar, em novembro, para perguntar: Onde estão as tão prometidas ações de ajuda e financiamento?

“Precisamos urgentemente do incremento do financiamento para adaptação e de ações para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Elaborar um processo internacional coordenado para distribuir ajuda para os mais vulneráveis deve ser a prioridade máxima”, afirmou  Pa Ousman Jarju, presidente do LDCs.

Questionando a proposta aprovada na última COP, na África do Sul, de que um novo acordo climático só entraria em vigor na próxima década, Jarju alertou: “Não podemos esperar até 2015 para que isso seja formulado, muito menos até 2020 para que entre em prática.”

“Já estamos experimentando secas e falta de comida por causa do aquecimento global. A seca nos Estados Unidos está custando muito dinheiro às empresas de seguros, mas as secas nos LDCs estão resultando na perda de vidas, na má nutrição de nossas crianças e no deslocamento imenso de pessoas, o que é um problema bastante sério”, salientou Jarju.

Os LDCS estão cobrando: a adoção por todos os países do segundo período de compromissos sob o Protocolo de Quioto; uma maior ambição nas negociações; a conclusão o mais breve possível de um novo tratado climático; e que finalmente sejam encerradas as negociações sobre o Plano de Ação de Bali.

O Plano de Ação de Bali foi formulado em 2007 e possui uma lista de recomendações como iniciativas de adaptação, transferência de tecnologia e financiamento climático.

“É extremamente importante que os governos respeitem os compromissos que firmaram no que diz respeito ao financiamento, à transferência de tecnologias e à ajuda para que os países mais vulneráveis possam se adaptar. Precisamos acelerar o processo de cooperação internacional e não podemos mais aceitar que o foco em novos tratados seja utilizado como desculpa para não cumprir promessas antigas”, afirmou Jarju.

Financiamento

A questão de ajuda financeira deve mesmo ser o principal assunto da rodada de Bangcoc, que prossegue desta quinta-feira (30) até a próxima quarta-feira (5).

As nações mais ricas, incluindo Estados Unidos, Japão e o bloco da União Europeia, prometeram em 2009 que o Fundo Climático Verde estaria funcionando já em 2013 e que, mesmo antes disso, bilhões de dólares seriam liberados como ajuda rápida.

Porém, um cenário de recessão econômica e tragédias naturais – o terremoto seguido de tsunami no Japão em 2011- serviram como uma saída para que tais recursos nunca chegassem a ser liberados.

As próprias negociações sobre o Fundo estão seguindo devagar e parece improvável que novos recursos sejam liberados tão cedo.

“Em Bangcoc, os governos serão forçados a encarar o fato de que nenhuma nova fonte de recursos foi criada para alimentar o Fundo até 2013 e que 90% de todo o dinheiro prometido em ajuda climática entre 2010 a 2012 simplesmente veio de mecanismos já existentes”, afirmou uma declaração do WWF, mencionando que a imensa maioria dos países ricos está simplesmente realocando para a causa climática dinheiro que já estava prometido para outro tipo de ajuda humanitária.

Uma das maneiras para levantar novos recursos, segundo o WWF, seria o aprimoramento do programa de redução de emissões por desmatamento e degradação, conservação, manejo florestal sustentável, manutenção e aumento dos estoques de carbono florestal em países em desenvolvimento (REDD+).

Assim, a ONG espera que em Bangcoc os países consigam negociar de que forma o REDD+ pode ser incluído dentro do Fundo Climático Verde e que possam esclarecer de forma clara e definitiva como a ferramenta deve funcionar.

Ainda existem muitas dúvidas sobre o REDD+ e várias acusações de fraudes já foram feitas, mas o WWF acredita que se os países conseguirem formular métodos de monitoramento, revisão e verificação (MRV), a iniciativa pode ser fundamental na estratégia de mitigação climática.

Independentemente da forma que sejam concretizados os financiamentos climáticos, está claro que existe um tom de urgência entre a maioria dos países reunidos em Bangcoc.

A comissária climática da União Europeia, Connie Hedegaard, por exemplo, escreveu em seu Twitter: “A UE tentará acelerar o progresso, temos esperança de que outros farão o mesmo. Torcemos para que os delegados se lembrem das recentes e assustadoras notícias climáticas quando estabelecerem o ritmo das negociações em Bangcoc.”

Hedegaard provavelmente está mencionando as secas que assolam muitas regiões do planeta e o degelo recorde no Ártico.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.