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Rússia e China blindam a Síria contra possíveis sanções

Nações Unidas, 13/6/2011 – Uma resolução sustentada na crítica ocidental às matanças de civis na Síria pode se deparar com a negativa de Rússia e China, dois dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que ameaçam exercer seu poder de veto. Se o Conselho, de 15 membros, adotar nesta próxima semana, esta resolução, a mesma será diluída para evitar o tradicional pedido de sanções econômicas ou militares contra um país acusado de “sufocar sem dó” os protestos civis.

Manifestações na Síria.

“É muito óbvio que os russos e os chineses estão protegendo seus próprios interesses econômicos e militares na Síria”, disse à IPS um diplomata asiático, “do mesmo modo que as nações ocidentais tradicionalmente continuam protegendo Israel de todo tipo de sanção”. A Síria, que possui fortes laços políticos, econômicos e militares tanto com Rússia quanto com China, depende muito desses dois países para obter as armas que atualmente usa contra os manifestantes da revolta, que já dura três meses, contra o governo do presidente Bashar al-Assad.

A maioria dos vínculos econômicos da Síria ocorre com seus vizinhos regionais, como Arábia Saudita e Turquia, disse à IPS Daniel Darling, analista de mercados militares da Europa e do Oriente Médio no Forecast International. Entretanto, suas relações militares com a China e particularmente com a Rússia são fortes, acrescentou. Segundo Darling, as relações com a Rússia remontam à era da União Soviética e do pai do atual presidente, Hafez al-Assad (1930-2000). Durante as três décadas de seu mandato (1971-2000), os soviéticos (e depois a Rússia) entregaram cerca de US$ 25 bilhões em armas a Damasco.

Isso reabasteceu o exército sírio com material militar legado por soviéticos e russos e com estes últimos continuam dando manutenção e fazendo restauração, mediante acordos multimilionários. Os fornecedores tradicionais da Síria em matéria de armamentos também incluem China, República Checa, Ucrânia e Coreia do Norte. Expressando a oposição de seu país à resolução, o embaixador russo, Vitali Churkin, disse aos jornalistas: “Não estamos convencidos de que a resolução possa ajudar a criar o diálogo e chegar a um acordo político. Preocupa-nos que possa ter o efeito oposto”, afirmou.

A resolução, que foi “amenizada” para evitar os vetos de Rússia e China, é patrocinada pela Grã-Bretanha e copatrocinada por França, Alemanha e Portugal. Londres acredita que pode conseguir os nove votos necessários para adotar a resolução, desde que não haja vetos. Espera-se que os Estados Unidos apoiem a resolução que condena “a sistemática violação dos direitos humanos, o que inclui matanças, detenções arbitrárias, desaparecimentos e torturas de manifestantes pacíficos”.

Pelo rascunho que circula atualmente, a resolução também exorta o governo sírio a “levantar imediatamente o sítio das localidades afetadas” e permitir “o acesso imediato, irrestrito e sustentado de controladores internacionais de direitos humanos, bem como de agências e trabalhadores humanitários”. A comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, disse, no dia 9, que “é completamente deplorável que qualquer governo tente coagir sua população para que esta se submeta, usando tanques, artilharia e franco-atiradores”.

“Peço urgentemente ao governo da Síria que detenha este ataque contra os direitos humanos mais fundamentais de seu próprio povo”, disse Pillay em um comunicado divulgado na ONU. Também destacou que várias organizações, não governamentais e outras, informam que a quantidade de homens, mulheres e crianças assassinados desde o começo dos protestos em março passou dos 1.100, com até dez mil, ou mais, detidos. A comissária exigiu que o governo responda aos seus reiterados pedidos para permitir que uma comissão investigadora visite o país.

Rússia e China também temem que uma resolução forte, mas ambígua, do Conselho de Segurança sobre a Síria permita que as potências ocidentais interpretem mal e lançem ataques militares, como fizeram na Líbia. Em uma sessão no mês de abril, o Conselho de Direitos Humanos da ONU, de 47 membros, autorizou o envio de uma missão à Síria para investigar as supostas violações das leis internacionais sobre direitos humanos. Porém, a Síria negou acesso à missão. A resolução do Conselho de Direitos Humanos contou com apoio de 26 países e nove contra, entre eles China e Rússia. “Até agora, não recebemos nenhuma resposta oficial da Síria, nem positiva, nem negativa”, disse Pillay na semana passada.

Por sua vez, Darling disse à IPS que, nas últimas três décadas, as armas russas praticamente inundaram a Síria. Os russos assinaram um Tratado de Amizade e Cooperação com a Síria em outubro de 1970. Antes, os russos tinham entre três mil e quatro mil conselheiros militares na Síria, segundo notícias da imprensa. Darling informou que, em janeiro de 2005, o Kremlin perdoou US$ 9,8 bilhões de uma dívida de US$ 13,4 bilhões que Damasco arrastava desde a era soviética, cimentando, assim, o caminho para novos acordos armamentistas, muitos dos quais incluíram atualizações de plataformas já no serviço sírio, como seus MiG-21, 23 e 29.

Algumas das vendas mais recentes à Síria incluem o sistema de defesa aérea de curto alcance e autopropulsado 96K6 Pantsir-S1E (conhecido como SA-19 Grison pela designação da Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o sistema de mísseis de médio alcance Buk-2M Ural (SA-17 Grizzly). A Rússia também está estabelecendo uma base naval no porto sírio de Tartus, e possivelmente outro em Latakia, acrescentou Darling.

O comércio militar da China com a Síria não é tão grande quanto o da Rússia, explicou Darling, mas o país fornece a Damasco mísseis e tecnologia relacionada aos mesmos. Entre 2002 e 2009, a Rússia assinou acordos armamentistas no valor de US$ 5,8 bilhões com a Síria, e fez o mesmo com a China por US$ 800 milhões. Porém, entre 2006 e 2009, as vendas militares chinesas para a Síria triplicaram em relação ao quatriênio anterior. O exército sírio está amplamente desatualizado, com armas pesadas de estilo soviético que podem ser efetivas para intimidar populações civis, mas são presas fáceis de inimigos mais modernos, como os aviões israelenses. Envolverde/IPS