O artigo de Miguel Bahiense, presidente do INP (Instituto Nacional do Plástico), publicado no dia 25 de julho nesta seção (Sacolas plásticas: em vez de banir, educar), faz uma recomendação incondicional e equivocada em favor do uso das sacolas plásticas descartáveis.
Por serem descartáveis, as sacolinhas são incompatíveis com um futuro sustentável no longo prazo.
Afinal, são gastas matérias-primas, água e energia, recursos da natureza, para gerar um produto usado poucas vezes e descartado com o lixo, em um processo com impactos ambientais envolvendo desde a extração das matérias-primas até o uso e descarte das sacolas, isto é, todo o “ciclo de vida” do produto.
É necessário avaliar os impactos comparativos dos diversos meios para transporte de compras, buscando a solução de menor impacto negativo. No começo de agosto, foi apresentado um estudo pioneiro, solicitado pela Braskem, maior produtora de resinas termoplásticas das Américas, feito pela Fundação Espaço Eco, especializada em estudos de ciclo de vida, com métodos internacionalmente reconhecidos.
Compara a “ecoeficiência” de várias alternativas de transporte de compras, analisando o impacto ambiental da cadeia produtiva e os seus custos diante da tecnologia e dos métodos de produção atuais, com diversos cenários de uso e de descarte da sacola.
Os cenários variavam em volume de compras, frequência de idas ao supermercado, frequência de descarte do lixo, tipo de matéria-prima utilizada na produção das sacolas, capacidade de carga, custo de cada sacola, número de vezes em que é utilizada, reutilização ou não como saco de lixo e o envio ou não para reciclagem.
Ao variar cada um desses itens, muda o resultado do estudo. Por isso, o uso de um estudo inglês no artigo aqui comentado em defesa do uso das sacolas plásticas descartáveis no Brasil é totalmente equivocado: as condições ambientais, a matriz energética e os hábitos de compra do brasileiro são bastante distintos dos do inglês.
O estudo brasileiro concluiu que:
(a) com o aumento do volume de compras, melhora a ecoeficiência das sacolas retornáveis;
(b) com o aumento da frequência de ida ao supermercado, melhora a ecoeficiência das retornáveis; e
(c) com o aumento da frequência de descarte do lixo, com reuso das descartáveis como saco de lixo, melhora a ecoeficiência das descartáveis.
Assim, a conclusão varia conforme as características das compras e do descarte de cada consumidor, melhorando ou piorando a ecoeficiência. A única coisa que não varia é que o descarte não será uma escolha sustentável a longo prazo. Valerá sempre mudar os hábitos de compra e descarte e as formas de transporte de compras buscando melhor ecoeficiência.
Para isso, é importante a educação do consumidor quanto aos impactos ambientais e sociais das escolhas de consumo, como no trabalho do Akatu com apoio da Braskem, envolvendo mais de 1.460 escolas públicas e privadas da rede do Faça Parte. Educado, o consumidor vai demandar mais estudos de ciclo de vida para poder escolher com ecoeficiência cada vez melhor.
* Hélio Mattar é mestre e doutor em engenharia industrial pela Universidade Stanford (Estados Unidos), e diretor presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.
** Publicado originalmente pelo jornal Folha de S.Paulo e retirado do site IHU On-Line.