Ang Pulo, Filipinas, 21/6/2012 – Nesta úmida ilhota filipina coberta por mangues, Lucena Duman e suas vizinhas encontraram o caminho para sair da pobreza, trabalhando como conservacionistas e guias de turismo.
Depois de alimentar suas cabras, que antes eram sua única fonte de renda, Duman, de 46 anos, coloca um chapéu de aba larga para se proteger do Sol, veste uma camiseta amarela que a identifica como guia e parte em sua balsa de bambu. Vai de sua aldeia de pequenos pescadores e agricultores até a ilha de Ang Pulo, no sul do Mar da China.
Seu trabalho na ilhota de 7,5 hectares renovou o interesse pelos mangues. “Antes, tudo o que sabia dos mangues era que constituíam uma fonte de lenha e caracóis para alimentação”, admite Duman, durante uma interrupção de seu trabalho como guia de visitantes para plantar arbustos desta espécie. “Porém, depois que nos capacitamos, vimos que nosso entorno tem muito mais riqueza para nós se protegermos os mangues”, acrescentou.
A mudança que desde 2009 acontece no Mar não se limita às Filipinas. Relatos semelhantes podem ser ouvidos em todo o sudeste da Ásia, enquanto organizações regionais e internacionais que promovem a biodiversidade incentivam as comunidades locais a se converterem em um exército para defender o que resta de aproximadamente 63 mil quilômetros quadrados de floresta de mangue.
“Este fenômeno se propaga por todo o ecossistema florestal do sudeste asiático e no resto do continente”, disse Simmathiri Appanah, funcionário florestal do escritório Ásia-Pacífico da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em Bangcoc. “As comunidades que vivem perto das florestas são incentivadas a manejá-las e preservá-las, e o que está ocorrendo com os mangues é um reflexo disto”, afirmou.
A nova fórmula oferece às comunidades um incentivo econômico para proteger os mangues e, às vezes, os direitos especiais como coproprietários dos mesmos. “Isto é melhor do que políticas que existiam antes, quando as agências do governo tinham um papel dominante no manejo dos mangues, ignorando a população dos arredores”, declarou Appanah à IPS.
Os dez países que integram a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) têm programas para proteger estas árvores que se caracterizam por suas raízes grossas e sua tolerância ao sal. Deste esforço participam comunidades locais, estudantes e inclusive o setor privado.
Na Indonésia, o maior país da região, que tem 62% dos mangues da Asean, universitários agrupados na Comunidade Verde participam do manejo dos ecossistemas costeiros próximos de onde estudam, segundo o intergovernamental Centro para a Diversidade Biológica, do bloco regional. Na Malásia, um projeto de conservação de mangues apoiado por um banco privado deu lugar a uma fonte alternativa de renda para as comunidades mediante a criação de viveiros destas árvores, acrescenta o Centro da Asean. Na vizinha Cingapura, ensina-se as crianças “a apreciar seu ecossistema de mangues”, aponta.
“O território ocupado pelas Filipinas e pelo restante dos Estados membros da Asean abriga um terço dos mangues, arrecifes de coral e plantas marinhas do mundo”, destacou Rodrigo Fuentes, diretor-executivo do Centro da Asean, que tem sede na cidade filipina de Los Baños. “Estes ecossistemas mantêm a maior concentração de fauna e flora costeiras e marinhas do planeta”, acrescentou.
Por isto, é necessário ver o valor econômico dos manguezais de uma perspectiva diferente, oferecendo “um fluxo de serviços do ecossistema”, importantes para os setores de pesca e turismo, disse Fuentes em uma entrevista. “Esta mudança de paradigma está acontecendo agora, com a valorização dos manguezais para beneficiar cerca de 600 milhões de pessoas na região da Asean, que dependem desses recursos para alimento e renda”, ressaltou. E há outros benefícios. Os manguezais servem como uma barreira importante para as comunidades costeiras atingidas por tempestades que desencadeam ondas enormes, e como uma defesa contra a subida do nível do mar devido ao aquecimento global.
Na Malásia, as pesquisas apresentam outro exemplo de como os mangues ajudam o planeta a combater a mudança climática: têm uma grande capacidade para sequestrar carbono. “Representam um sorvedouro de carbono potencialmente vasto, absorvendo e armazenando o excedente de carbono da atmosfera”, afirma Dicky Simorangkir, assessor da Agência Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ). “Podem sequestrar 1,5 tonelada de carbono por hectare anualmente”, ressaltou.
De todo modo, esse aumento da valorização dos mangues não é universal, admitiu Simorangkir. E dá como exemplo a constante perda de mangues para fazer lenha, produzir carvão vegetal e madeira para vender. Vastas superfícies de mangues também são cortadas para dar lugar a fazendas de camarão. “Aproximadamente, 150 mil hectares de mangues são perdidos a cada ano em todo o mundo”, acrescenta.
Por isso, é importante o parque de conservação de mangues de Ang Pulo no sudeste asiático, que nos últimos 20 anos perdeu por ano cerca de 600 quilômetros quadrados dessa vegetação. “Apenas 1% dos mangues estão sob proteção no mundo, como os da reserva de Ang Pulo”, destacou Simorangkir. Para Duman, isto significa fazer com que os turistas que guia pela ilhota, de universitários a filipinos que chegam para passar o fim de semana, descobrirem os sintomas da recuperação dos mangues. “Agora há mais caranguejos e camarões e cerca de 20 tipos de aves”, contou, ressaltando que “estes mangues são nosso futuro”. Envolverde/IPS