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Sanções não freiam atividades nucleares do Irã

Ayatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã. Foto: sajed.ir/GNU license

Washington, Estados Unidos, 27/3/2013 – Embora as sanções encabeçadas pelos Estados Unidos contra o Irã tenham causado a este país substanciais dificuldades econômicas, analistas em Washington destacam que as polêmicas operações nucleares de Teerã continuam incólumes. Segundo um informe divulgado ontem pelo Conselho Nacional Iraniano-Norte-Americano (Niac), “há uma clara desconexão entre os objetivos declarados da política de sanções (que o Irã revisará à conveniência de seu programa nuclear) e o que esta realmente conseguiu”.

Trata-se da análise Never Give In and Never Give Up: The Impact of Sanctions on Tehran’s Nuclear Calculations (Nunca Ceder e Nunca se Render: O Impacto das Sanções Sobre os Cálculos Nucleares de Teerã). Com base em entrevistas com altos funcionários iranianos, analistas e membros da comunidade empresarial, o documento afirma que os atores mais importantes do regime iraniano não começaram a “construir uma argumentação que permita corrigir esse curso e nem a pressionar o governo para conseguir uma mudança nas políticas”.

O programa nuclear do Irã parece não ser afetado em absoluto pelas sanções, ou mesmo parece incentivado por elas, e, neste aspecto, endurecê-las também motiva o país a persistir em seu rumo, afirmam os autores do relatório, Bijan Khajehpour, Reza Marashi e Trita Parsi. “É altamente improvável que o regime sucumba à pressão das sanções enquanto sua argumentação permanecer igual, os atores principais não exercerem pressão, o P5+1 não colocar sobre a mesa algum alívio proporcional às sanções e a capitulação continua sendo considerada uma ameaça maior à sobrevivência do regime do que um confronto militar com os Estados Unidos”, afirma o estudo.

O P5+1 é integrado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) – China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia – mais a Alemanha. Apesar das quatro rodadas de sanções adotadas entre 2006 e 2010 e ratificadas pela ONU, e de medidas unilaterais impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, que ocasionaram uma desvalorização de 4% da moeda iraniana, Teerã não fez concessões em matéria nuclear em suas negociações com o P5+1.

“As sanções não induziram a concessões significativas porque os iranianos veem pouco ou nenhum motivo para acreditar que transigir lhes geraria um alívio significativo desses castigos”, disse à IPS o ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA), Paul Pillar. Mark Dubowitz, diretor-executivo da Fundação para a Defesa das Democracias, uma organização com sede em Washington que defende as sanções, declarou, em junho de 2012, que apenas uma “guerra econômica” obrigaria o Irã a deter seu programa nuclear.

“E se isso não fosse suficiente para que (o líder supremo) Ali Khamenei assinasse um acordo – e, lamentavelmente, até agora não há evidência de que o fará – o presidente deve galvanizar o país e levá-lo mais além das sanções, para ataques militares contra as instalações nucleares”, afirmava Dubowitz em seu artigo no foreignpolicy.com. Porém, Pillar, responsável nacional de inteligência para o Oriente Médio e Ásia meridional entre 2000 e 2005, criticou a ideia de que as sanções são uma alternativa à intervenção militar, e disse que devem ser consideradas sempre com relação à ação diplomática que deve acompanhá-las.

“O simples fato de acumular sanções sem os incentivos necessários provavelmente apenas aumente o risco de um impasse que deixe somente a opção militar, tanto porque reafirmaria a convicção iraniana de que ao Ocidente interessa mais derrubar o regime do que chegar a um acordo, quanto porque daria asas ao que nos Estados Unidos e em Israel se argumenta, que após o fracasso das sanções só resta a guerra”, destacou Pillar.

Embora o aiatolá Khamenei desconfie profundamente das intenções dos Estados Unidos, com ou sem sanções, Ahmad Sadri, especialista em assuntos iranianos do Lake Forest College, acredita ser possível uma mudança na política nuclear do Irã. “A atitude imperiosa e a política de coação mediante sanções não deixa dúvida alguma a Khamenei de que os Estados Unidos não estão atrás de um acordo para limitar o programa nuclear, mas em busca de uma mudança de regime”, afirmou à IPS.

Segundo Sadri, “embora a economia iraniana esteja longe do colapso, as classes vulneráveis sentem o peso dos preços que disparam. O efeito que as sanções podem ter não é direto. Não são inteligentes. Prejudicam os cidadãos comuns. E também o governo está interessado em dar-lhes um fim”, acrescentou. Em sua opinião, se o P5+1 quer que o Irã ceda às suas propostas, deve mudar seu ponto de vista e se aproximar do Irã e do processo diplomático.

“Deveriam tentar superar o impasse sem humilhar um país com dois milênios e meio de história e dois séculos de resistência a intrusões coloniais. Devem negociar de boa fé e oferecer a Teerã um acordo honrável que lhe permita sair bem de toda essa situação”, opinou o especialista. Funcionários iranianos expressaram seu descontentamento ao conhecerem mais detalhes de um pacote oferecido pelo P5+1, que incluía apenas um leve alívio das sanções, em uma reunião técnica realizada no dia 19 em Istambul, na Turquia.

Ao discursar no dia 20, por ocasião do Ano Novo Iraniano, Khamenei voltou a insistir que qualquer acordo deve incluir o reconhecimento do “direito do Irã enriquecer urânio com fins pacíficos”. Acrescentou que “as experiências passadas e as condições atuais mostram que os norte-americanos não buscam resolver a questão nuclear, mas mantê-la aberta com pretexto para pressionar e mutilar a nação iraniana. Naturalmente, e para tristeza de nossos inimigos, a nação iraniana não se deixará mutilar”. Está previsto que o Irã e o P5+1 se reunirão novamente nos dias 5 e 6 de abril em Almaty, no Cazaquistão.

“Os Estados Unidos e os outros países do P5+1 precisam harmonizar suas reclamações, com uma oferta de alívio de sanções mais significativa do que a feita até agora, e devem deixar claro que aceitam o direito de o Irã desenvolver um programa nuclear pacífico, que inclua o enriquecimento de urânio”, apontou Pillar. “Em termos mais gerais, devem explicitar que estão dispostos a negociar com o atual regime e que já não lhes interessa derrotá-lo”, ressaltou. Envolverde/IPS